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Nina Horta

Perfil Nina Horta é empresária, escritora e colunista de gastronomia da Folha

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VOLTEI LIDA E COM A NOVELA EM DIA

Por ninahorta
16/05/12 01:33

Claro que o defeito dos blogs da UOL foram maiores no meu do que no de todo mundo. Consegui postar uma vez ou duas e só. Aproveitei para trabalhar no buffet, assistir umas novelas, ler bastante e jogar paciência que afinal ninguém é de ferro.

Leituras – Ando com problema sério de ler e não gostar do que leio, ou melhor, gostar medianamente. Faz pouco tempo, aliás, uns quatro anos, recomecei a ler romances. Tinha parado durante uns vinte anos lendo somente os mais óbvios, mas fui seduzida por ensaios. Tínhamos um curso de literatura inglesa e lá sim, lemos Shakespeare, e a queridíssima Emily Dickinson. Quando voltei às lides romanescas não consegui gostar mais de romances, quem sabe um ou outro, me enrosquei com uma contista do sul, americana, Flannery O´Connor, achei magistral, e só. Já ia me esquecendo do Naipaul que leio com muito prazer, acho um escritor sensacional. Pedro Nava na cabeceira e pronto, livros de cozinha. Mas, como sabem uma cozinheira não pode ler só cozinha que emburrece. Então, vamos lá.

O mapa e o território de Michel Houllebeck. Falei dele na última coluna da Folha, na de hoje. Não entendo como ganhou o prêmio Goncourt. Imagino como estarão os outros romancistas. Eles começam bem, musculosos, alegres, originais, cheios de vida e de repente caem na mesmice, ou como diria um tio meu, caem na tibieza. O 1Q84 do Haruki Murakami resolvi não acabar, achei que não valia a pena, mas fiquei com ele atravessado na garganta e vou ter que ler até o fim.
Um engraçadinho, desses de ler para divertir no fim de semana é o The Best Exotic Marigold Hotel, com o filme passando ao mesmo tempo. Quem assistiu o filme achou uma diversão simpática. A mesma coisa digo do livro, uma bobaginha interessante. Dá uma saudade do Forster falando sobre a Índia.
A comida de Marrocos de Paula Wolfert continua, há décadas, muito bom. Está revisto e aumentado. E The Food of Spain da Claudia Roden também não perdeu o charme. No IPAD com boas fotos, muito simpático.

Sobraram as novelas da sete e das oito. A das sete queria muito ver por ser escrita por um amigo, mas tenho chegado tarde e pego rabicós da história. Há um buffet perfeitamente retratado. (Quase todo buffet tem uma escada difícil e um cantinho para caixas e isopores velhos e este também tem. E quem escreveu entende bastante de buffets, apesar da equipe ter só uns três ajudantes, o que os torna eficientíssimos.) Vou comprar uma televisão para o trabalho só para não perder o Filipe Miguez.

A novela das oito, o pior é que não decoro nome de novela, Avenida Brasil, tem me dado certo orgulho. Muito bem dirigida, novela tem aquela tendência de ruindade mas esta está me parecendo que vai virar clássica. Ótimo cast, bons atores, e além de tudo a heroína chama-se Nina e é cozinheira. Tomei partido. A Nina só precisa engordar um pouquinho e tirar aquela ruga triste da boca, valha-me Deus, a vida é curta, novela tem que ser feliz.

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Hoje é dia de chá

Por ninahorta
12/05/12 10:54

A cliente pede um brunch. Geralmente quem quer uma mistura de café da manhã com almoço leve imagina que sendo uma refeição informal, não necessitando de ingredientes caros vai ficar mais em conta. Como as noivas que pedem um casamento na roça, na praia, bem simplezinho, de pé no chão. Só ter que levar os fogões e a comida e o adoçante já fica mais caro que o casamento aqui na Nossa Senhora do Brasil.

Tudo bem, cada um com seu sonho. E o brunch que realmente não deveria encarecer nada tem a louça e detalhes que um simples almoço não tem. Xícaras de café, de chá, copos de suco, taças para champagne, canecas para chocolate quente, bules, chaleiras, e gracinhas e mais gracinhas.

Primeiro que brasileiro não é muito acostumado com chá das cinco, então é preciso ter sucos e café.

Mas, mesmo supondo que vai ser chá inglês, mesmo, a infinidade de detalhes é de assustar, apesar do resultado ser uma beleza. Haja pote, potinho, louça misturada, flores, peneiras, pratinhos, colheres pratos de bolo, e mais isso e mais aquilo.  São coisas importantíssimas para que se crie o espírito da ocasião.

Vejamos o que os ingleses chamam de apetrechos para um pequeno chá:

Bandeja de prata ou madeira, ou carrinho de chá.Toalha bordada à mão ou adamascada ou com uma frescura qualquer. Bule de chá sobre um tripé. Os bules de louça são preferíveis aos de metal e seria bom que tivessem coador interno, no bico. É interessante ter bules de vários tamanhos, que sejam convenientes para um certo número de xícaras de chá. Uma jarrinha para o leite frio. Uma vasilha para restos de folhas que ficam no fundo da xícara, quando se vai repetir, e um coador de prata ou arame, junto. Um açucareiro para tabletes de açúcar com sua pinça especial. Chaleira de água quente para temperar o chá. Um abafador de bule para o chá não esfriar muito depressa. Xícaras e pires e pratinhos de bolo, de louça, de preferência. Faquinha para manteiga. Vasilhas para pedaços individuais de manteiga e potes para geléias. Se for servido um bolo inteiro, uma linda espátula para cortá-lo. Guardanapos de pano. Os de papel, só numa emergência. Pratos de três andares para bolinhos e sanduíches. Garfos, colheres e facas, pequenos.

Lembrança – O chá que é posto na xícara é geralmente muito forte. É preciso ter a chaleira de água perto, para temperá-lo, fazê-lo mais fraco. O leite deve ser integral e frio.

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SÃO JOÃO, ACENDE A FOGUEIRA DO MEU CORAÇÃO!!!!

Por ninahorta
03/05/12 18:00

De vez em quando me dá um ataque de burrice na hora de interpretar o que uma cliente quer. A nossa mais querida amiga vai casar o filho e resolveu fazer uma festa de São Pedro, numa bela fazenda antiga. Ah, pensam que é só isso? Não. A noiva vai chegar num cenário de São Pedro, com mastro, fogueira, barraquinhas de patchwork de chintz, bandeiras, luzinhas brancas, mas sem exagerar no caipira. Nós vamos servir comida meio caipira dentro dessas barraquinhas.
Então, vem a pergunta. O que é caipira? É claro que a noiva não quer os convidados de chapéu de palha e ela de trancinha e sem dente na frente. Quer só entrar na festa, que é no verde da fazenda, árvores seculares, dentro desse cenário. É como eram chamados esses festejos antigamente. Festejos de fora e festejos de dentro.
Então, esquecer do que chamamos de caipira, da festa caipira, que seria um pedaço do Nordeste, estereotipado, com patchwork, utensílios de barro, sanfona dependurada na parede, vamos convir é uma delícia de festa mas não combina com o que a noiva quer.
Vai ter fogueirão, mastro, etc, mas a noiva vai estar linda de morrer passando no meio daquela coisa toda.
Então o que colocar nessas barracas para enfeitar? Bem, aí vem a segunda opção, que está muito na moda – Martha Stewart nos campos ingleses. Cantinhos com cadeiras e sofás, quadros dependurados em árvores, meninas de chapéu florido passeando por entre mesinhas de chá, cestas cheias de flores jogadas aqui e ali. Tudo bem, bonitinho, cute, mas onde foi parar o São Pedro ou o São João, ou qualquer outro santo que seja?
Resta o caipira mesmo, que é colocar uma toalha de mesa de plástico bordado, uma jarra daquelas de abacaxi ou milho da Grande Família (que por sinal adoro, majolica), bules tinindo de brilhantes com cafés e quentão e chás. E os pratos todos beges, daquela vidro inquebrável Santa Maria que se vê nos supermercados. Ah, isso não, nem morta, é feio demais.
Pensei em usar abóboras (meio Halloween), pensamos em frutas douradas, como uma grande melancia douradona, com uma fatia tirada, bem vermelha, e batatas doces e mandiocas, só com um toque de dourado. Eu gostei, estava pop, mas ninguém gostou, um pouco Christmassy, talvez. Mas, gostei, era diferente.
O que não detesto mesmo, o que acho pior é com cara de ANOS 50, ovo amarrado com fita, aquele estilo bonitinho, bonitinho, engraçadinho demais. Desse, enjooei.Ao anos 50 e começo dos 60 foram tão marcantes que quem passou por eles deu por teminada a tarefa de passar por alguma coisa.
Vi ontem uma exposição, ou melhor, uma retrospectiva do Damien Hirsch (não, não quero colocar a caveira com brilhantes, não, mas ele fez uma coisa que achei bonita.) Num fundo de farmácia, pôs 3 vidros desses de laboratório, pescoço fino, altos, enormes, e encheu de líquido colorido. Nós poderíamos ter 3 vidros enormes em cada barraca com as cores básicas da festa. Como se tivéssemos agarrado a essência e guardado nos vidros.
E ao lado as comidas que serão o coquetel da festa, como sopa de feijão, de abóbora, de milho. Quentão vai ter, é claro, para dar o cheiro característico. Pasteizinhos, empadas pequenas assadas na hora, panelinhas com creme de milho. Paçoca com banana, dados de tapioca frita sobre barquetes de bambu, e vai por ai.
Lá dentro, no casamento de verdade, passando pelas caipiragens vai ser uma tenda linda, tudo branco, doces em papéis recortados do Recife, paredes de flores brancas de crepon, 600 flores, um brega chiquérrimo. E lá tentaremos um jantar bem brasileiro, mas apresentado lindamente. Já é outra história. Depois da festa prometo contar com detalhes e quiçá com fotos….

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LIVROS QUE NÃO ME LEVAM A LUGAR NENHUM.

Por ninahorta
02/05/12 12:08

http://www.facebook.com/photo.php?fbid=149640341774583&set=a.149639221774695.38868.113800012025283&type=3

Gente, perdi o bonde no blog. Não conseguia postar nada. Nem entrar… Parece que consertou. E o pior é que nestes feriados entrei nuns canais errados de livros. Sabe quando você começa a ler, certa de que achou o que há de mais interessante no mundo e de repente está lendo um livro japonês de 3 volumes, maluco pra danar? E começa a duvidar dos seus poderes de crítica? Quem estará maluco, o autor ou eu? E continua se arrastando por páginas e páginas, certa de que o pedaço bom vai parecer logo ali na esquina…
O livro chama-se 1Q84 de Haruki Murakami. E não me perguntem mais. Nem vou contar o enredo. O primeiro capítulo começa bem, musculoso, prometendo e depois vai ficando inverossímil. Só adianto que tem uma assassina, alguns escritores, muitas neuroses e traumas, duas luas e um bode. Tenho a impressão que vai se diluir sem dar respostas, mais ou menos como Lost faltou um editor para fazer dos três volumes um conto.

E o Atala? Já pensaram a farra que deve ter sido essa reunião de chefs, quantos querendo ganhar, quantos perdendo, quantos não ligando a mínima! Em todo caso ter que largar sua vida inteira em São Paulo, se mandar para a Londres e não receber nada…
Eu já nem me surpreeendo mais com as glórias do nosso chef. Tive a felicidade de descobri-lo há uns vinte anos, não larguei da perna dele, fui a primeira a chamá-lo de caipira, coisa que ele ainda não havia adotado, fazia um gênero meio belga, mas descobri um avô pescador, uma vidinha de roça e naqueles cabelos vermelhos nada mais que um vero Jeca Tatu inteligente, já de botas e pronto para ganhar o mundo.
Deve ser chato você, colunista apostar todas as suas fichas num cara que não ganha o quarto lugar do mundo….. Pois apostei e ganhei. Agora é empurrar Helena Rizzo com força até a miudinha chegar lá também.
Gostei muito da comida do Andoni, das duas vezes que provei. Se não ficar muito louco experimentando pedacinhos de carvão e de sopa de pedras e se tiver vontade de chegar ao prêmio, chega.
Minha neta que conhece o Atala, foi ao Noma e tive prazer ao ouvir como decorou cada prato e me descreveu sem tirar nem por. Achou ótimo, mas não tão bom como o Atala, algumas coisas bem sem graça. Acredito nela, é observadora e tem bom paladar. Amanhã continuo as histórias de buffet. Nos feriados nada aconteceu.

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BACKSTAGE

Por ninahorta
21/04/12 15:02

“Toda família feliz é igual; as famílias infelizes são diferentes umas das outras.”
Verdade. Quando tudo vai bem, um buffet é um buffet, é um buffet. Acontece que se eu for contar só histórias felizes não é necessário transcrever nada aqui. Há livros , manuais que tratam do assunto.
Li um livro de grandes chefs e suas catástrofes e ele só falaram em problemas quando iam servir a comida fora. Os restaurantes deles eram famílias felizes, do que duvido um pouco, mas até pode ser. Tratam de caminhões carregando lagostas para o interior e perdendo a câmara fria. No cardápio já está escrito “lagosta”, o que eles poderão fazer? Grandes chuvas alagando toldos, é nessa hora de adrenalina brava que se conhece uma aptidão de liderança.
Um cozinheiro amigo nosso, super cumpridor dos deveres e caxias, vou contar logo era o Carlos Siffert que tudo lembrava e tudo sabia, estava lendo o menu da festa no meio do jardim da casa do Morumby. Tudo resolvido, maravilha, só faltava a chegada dos convidados. De repente deu uma risadinha e perguntamos o que era que estava engraçado no cardápio. Ele respondeu, calmo: “Esta SALADA SURPRESA”, aqui, ótimo nome. “Por que ótimo?– Porque eu não trouxe salada nenhuma, a surpresa vai ser essa.”
Quatrocentas pessoas, levantamos como raios, disparamos para o Varanda ou Santa Maria ou Santa Luzia, e é claro que deu tudo certo, mas vamos passar a festa exaustas com aquela gincana de salada caríssima.
O convidado e a promotora não devem saber, muito menos a dona da casa. Isto os deixaria mais ansiosos do que nós, num dia já cheio de emoções.
Não sei se vocês banqueteiros já repararam. Nós vendemos menos comida do que segurança e credibilidade. Se o dono da festa vê sua cara, sabe que você está atento, que fará tudo para que a festa seja boa, baixa a resistência, vai para o cabeleireiro, para o banho, talvez imaginando que o festeiro vai passar a noite inteira lá mexendo um caldeirão de angu para seiscentos. Não, vamos só supervisionar, ver se está bonito e prático, dar uma consertadinha aqui, outra ali. (Às vezes sobra o caldeirão de polenta, mas é raro.)
Estou aqui em casa, no momento, fazendo hora para chegar numa festa. Primeiro chegam os maîtres, os garçons e as copeiras, vão lavando o que há para lavar, contando as peças, arrumando racionalmente a cozinha. Logo depois chegam os cozinheiros e os barmen que se acomodam como galinhas no poleiro, com a maior facilidade.
Cada vez, cada dia, o lugar é diferente. Cozinheiro que anda com a festas nas costas está acostumado.
Eu me lembro de uma vez que o Paillard esteve aqui para fazer o jantar e nós faríamos o serviço. Prometeram a ele mundos e fundos. Câmaras frias, fogões e fornos possantes. E ele faria o jantar para umas trezentas pessoas, nem me lembro mais. Só que enganaram o infeliz e não tinha nada nisso, só os fogões de gás de sempre e as estufas para esquentar, a maioria ao ar livre. Pensei que ia ter um piti, cair de histérico, mas mostrou comportamento de cozinheiro, mesmo. Calculou a situação com o olhar, e começou a trabalhar. Deu certo. Certo porque era famoso, pois a costelinha de cordeiro ficou fria, a salada mal ajambrada, enfim, os defeitos que ele não poderia consertar por falta do mínimo conforto. E enfileirava os garçons que obedeciam a uma palavra que eu não entendia. “Vâmola!”, Vâmola!” Era o nosso “Vamos lá!”
Então vâmola, tudo bem, a vida real é assim, não tem como contornar.

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Cozinheiro pensa?

Por ninahorta
17/04/12 23:43

Li O Artífice, de Richard Sennett, da ed Record, há algum tempo, mas parece que vai ser traduzido outra vez pela Companhia das Letras. É um ensaio sobre o trabalho manual.
E quem somos nós, cozinheiros? Artesãos. Parece que demos agora para pensar.
Muita gente acha que a função do cozinheiro é cozinhar e só. E cozinheiro precisa lá pensar?
Que história é essa de toda cozinha ter por baixo uma filosofia?

O livro acima oferece um bom respaldo para a auto-confiança do cozinheiro, tanto lidando com as panelas quanto pensando nelas. Na verdade, o autor busca os argumentos para uma vida material mais humana e acha que se entendermos como são feitas as coisas, se atinarmos para a importância de trabalhar com as mãos, de literalmente botar a mão na massa, recuperaríamos um impulso básico e nunca perdido, a vontade de fazer um trabalho perfeito, bem feito por si mesmo.

Na culinária, a relação entre a mão e a cabeça são óbvias.
Estou com fome, o que posso fazer com esse legume duro e cheio de pétalas e com um monte de feno por dentro?
É pegar, cheirar, provar cru, imaginar o gosto, cozinhar. Mas de que jeito? A técnica para fazer uma alcachofra gostosa se desenvolve através da imaginação. E daí a improvisação diante da falta de ferramentas adequadas e, logo depois, inventar as ferramentas.
Quanto mais difícil, mais espertos ficamos para conseguir um resultado que nos satisfaça. Aprender com a experiência.

O artífice (o cozinheiro) carrega dentro de si uma coisa especial que é o engajamento.
E o engajamento não pode separar cabeça e mãos. Um serviço repetitivo e automático não leva a nada de bom e humano nem para a cabeça nem para nos expressarmos manualmente. Quando estamos tecnicamente muito bem preparados podemos sentir plenamente e pensar profundamente o que estamos fazendo e com orgulho.

Seria bom pesquisar a cozinha através dos tempos. Teríamos que descartar o trabalho movido pela admiração ao mestre e à tradição. A cozinha não pode ser um lugar confortável para o cozinheiro. É onde ele é levado ao aprendizado por alguém que sabe mais.
Pode ser dolorido descascar mil batatas, mas é preciso.

Há que existir padrões a serem alcançados e, de preferência, o ensino não deve sair de um frio manual, e sim dos esforços de fazer o melhor possível, da curiosidade frente ao ingrediente, da vontade de mudá-lo, transformá-lo, levá-lo para outro domínio.

O antropólogo Lévi-Strauss, “o Ovídio da moderna antropologia”, sempre se manteve aberto ao tema da metamorfose. Para ele, o artesanato fundador é a cozinha. O cru é o mundo da natureza, tal como encontrada pelos seres humanos; o ato de cozinhar gera o mundo da cultura, a natureza metamorfoseada.

Para progredir na habilidade manual, o processo de trabalho tem que visitar outros domínios, qualquer domínio, o da pintura para as cores, o da física e química para as reações, o da música para a sensibilidade, da leitura, da dança, por que não?
Tudo tem sua valia para a metamorfose, até os passos em falso, os cul-de-sac, as estradas erradas. A capacidade de mudar, de brincar, de jogar, comparar hábitos, conviver com outros cozinheiros, ensinar e aprender, enfim, muito riso e muito siso.
OS – Só o setor “receitas” já valeria a leitura do livro. Qualquer dia conto para vocês.

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ESTÁ NA MODA!

Por ninahorta
14/04/12 15:27

As fotos postadas são de um livro que um cliente me deu. É um belo livro grosso, italiano e julguei pela fotos que fosse dos anos 50. Não, é de 1978. Vocês se lembram?

Livro de 1978

A gente sabe que comida tem moda, repete isso, mas não realiza completamente a diferença que existe de década para década. Vamos lembrar, até onde vocês conseguem chegar. Vamos partir dos anos sessenta, aqui no Brasil.
Começava-se a usar muita cerâmica, era uma coisa moderna, panelinhas, pratos de cores diferentes, modernidades impensáveis nos anos 50.
Para nos lembrarmos bem pensemos numa festa – o Natal. Minha mãe me dava a incumbência de trazer cachos enormes de coquinho e que só a Neide Rigo e o Luiz Paulo Stockler sabem o nome. Vocês hão de imaginar que não era tarefa fácil, “oi, sobe no coqueiro, tira coco,nheco, nheco, no coqueiro orirá… Papai cadê Maria, Maria foi passear..!”
No jardim havia pés de babosa. As tintas spray eram novidade e pintávamos os cocos e as babosas inteirinhos de prateado. O cacho ficava pronto, mas na babosa era preciso colocar uma bola prateada em cada ponta. Um luxo.
A comida era novidade, juro que era. O peru e o tender, o tender marcado em losangos com um cravo no meio de cada um. Claro que podia ter um peru, mas este não era tão novidade assim, com fios de ovos.
Das revistas americanas, suponho, roubavam-se as idéias de frutas acompanhando as carnes. Abacaxi em rodelas, cerejas em lata.  Farofa de sempre.
Pois éramos assim em 1960.

Que eu me lembre essa moda continuou por muitas décadas apesar das sobreposições de estrogonofes e camarão no leite de coco e curry. Ainda usava-se muito juntar as frutas. Nessa mesma época a salada Waldorf, de salsão, nozes, maçãs, maionese.  Nas festas de ano Novo ainda existia um restinho de reinados mais antigos com faisões com todas as suas penas e cascatas de camarões. Peguei o finzinhos dessas festas, no Jockey Club, ceia grátis de fim de ano.

Durou bastante esse tempo dos cremes de leite, dos ensopadinhos com leite de coco, dos frangos com creme, dos camarões com creme, de tudo com creme.

Custamos a escutar a palavra nouvelle cuisine, ela já começava nos 70 com Paul Bocuse e víamos aqueles pratos brancos fazendo moldura para uma comida desenhada no meio. Pouca comida, pouquíssima. Foi só no restaurante do Quentin, L´Arnaque, que comi uma série de pratos absolutamente minimalistas e entendi o conceito. Pouca comida no prato, mas muitos pratos.

Lembro direitinho do menu dele que me encantou: quatro ravióles recheados de abóbora com sálvia, esqueci o segundo e o terceiro, me lembro da sobremesa, aquela pêra cortada em saínha, ou leque sobre um creme pâtissier. Atentem, era uma inovação a sobremesa vir arrumada no prato. Antes passava aquele carrinho cheio de quindões e îles flotantes, e manjares e pudins e o garçon cortava uma fatia daquilo que você quisesse. Aqueles primeiros pratos de sobremesa preparados na hora eram uma revolução.

Os salgados começaram assim, poucos e achatados no fundo do prato, terrines coloridas de legumes, fios de molho… Tudo muito leve e sem gordura, nada de frituras que matassem o fígado, por um tempão.

Um dia uma cliente mais antiga apareceu no buffet para contar a sua viagem gastronômica pela Europa. E descrevia os pratos mas fazia um gesto com a mão como se estivesse puxando a comida para cima. Fiquei com a pulga atrás da orelha e fui pesquisar. Claro, os arranjos dos pratos tinham subido um andar, dois andares, três andares. Balançavam-se precariamente como torres de Piza, cada chef tentava uma construção mais alta.


Ainda estamos por aí, misturando o tender, o estrogonofe, os mirtilos, as caldas de frutas vermelhas, o maracujá sobre o peixe, a mandioquinha com caviar, um pouco de cada coisa que os brasileiros não são de se agarrar numa moda só. Antropófagos, mastigamos tudo e escolhemos mais ou menos aquilo que mais gostamos. Contanto que tenha uma farofinha…

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SOLTA A FRANGA, RITA LOBO!

Por ninahorta
11/04/12 08:45


O que virá pela frente, depois da Páscoa? O ano vai passando comandado pelas datas que começam no Ano Novo, vão andando para o Carnaval, para a Páscoa, dia das Mães, dia de Santos… É como se fossem cenouras puxando o burro. O que seria de nós sem a cenoura dos feriados para atravessarmos dia após dia? O melhor é trabalhar no feriado, mas, cozinhar nem pensar, o negócio é pedir comida pronta.

No meu bairro a oferta de deliveries é complicada. Nos dias de semana dá para pedir alguma coisa no Senzala, pelo menos a batata frita vem fresca com farofa gelada, mas o frango á passarinho é sempre esturricado.

Conseguimos que o Ritz entregasse em casa, mas ficávamos fora dos limites da entrega. Quase foi preciso fazer como a ….. do Seinfeld que mentia o endereço para conseguir uma certa sopa e se escondia em casa alheia para abrir a porta e só esticar o braço enganando o chinês da entrega.Vou me viciando na tortinha de frango, depois nos bolinhos de arroz, nas saladas, mas há uma certa variedade que não deixa enjoar.

As pizzas vêm de lugares bons, mas não tem jeito, pizza é na pizzaria, o passeio de moto não faz bem a ela nem a ninguém.

E por que a preguiça de cozinhar em casa que me acomete? Estranhamento com a cozinha. Para ter prazer em cozinhar é preciso saber onde estão as panelas das quais você mais gosta, as facas, o processador, a peneira, o abridor de lata, o ralador de queijo. E a faxineira que cozinha durante a semana odeia com toda a sua força as coisas que eu gosto. Chegou a levar a batedeira para a sala, para que não a atrapalhe. Então fico tonta, não acho nada.
A colher de pau que sempre uso sumiu, tenho que conversar com uma de plástico que não conheço, e ficar me preocupando com o esconderijo das três panelas que gosto, a funda de macarrão, a frigideira grande, o escorredor e a panela média que servem para tudo. Comprei na Hammacher Schlemmer em Nova York, a loja em que o Hannibal, aquele monstro do Silêncio dos Inocentes, comprava seus apetrechos de cozinha.
Lembro que ao chegar com elas no flat que havíamos alugado meu marido reclamou que no primeiro dia eu havia gasto o budget da viagem, mas não reclamou depois com os bifes marmorizados.

As pessoas que fazem comida rápida na TV, são as mais espertas. Simplesmente não ficam pesando nada e vão conversando com toda a naturalidade enquanto descascam um tomate e fazem o açúcar virar caramelo. São como mágicos que nos enganam direitinho enquanto executam seus truques.

Fiquei esperando chegar o dia da estréia da Rita Lobo na GNT. Como esses fãs de roqueiros que acampam deitei na cama uma hora antes para não perder nada e  cansada, dormi a sono solto e acordei no programa seguinte. Agora, estou atenta desde hoje para que quinta me mostre a bela Rita fazendo prestidigitação com seus ingredientes. Vou esperar de pé, em continência. Vai ser a nossa Nigella, a nossa Martha Stewart, embrulhadas numa só.
E se der vazão á sua veia histriônica, pode vir a ser a nossa comediante mais perfeita.
Solta a franga, Rita!  Assada!

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O ovo sagrado

Por ninahorta
08/04/12 10:59

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Aquele ovo branco e modesto, ou o ovo azul,
são tão lindos que até doem nos ossos

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NÃO É preciso ler Clarice Lispector para se entusiasmar com o ovo. Ovo de galinha, no ninho, translúcido.
O ovo está impresso no corpo da mulher. Cabe na mão, quente, protegido, dá sombra, é bom de encostar no rosto, refresca, dá vontade de ninar, de lamber.
Seu Estevão, que Deus o tenha, saía pelos ninhos pegando os ovos e sacudindo um por um no ouvido para lê-los. Eu ia atrás, imitando, como uma Lucille Ball, ávida para entender os óvi, como ele dizia, mas sem nunca conseguir nem indícios do que ele procurava. Por mais que o ovo tenha virado coisa de supermercado, não lhe tocou a feiúra, continuou impávido e lindo como no próprio ninho.
Os de Páscoa ameaçam te matar, caindo na sua cabeça naquele kitsch colorido, dourado, prata e vermelho, mas o verdadeiro ovo está ali, branco puro, o branco de todas as cores, misterioso, guardando segredos e conversinhas na caixa de papelão. É claro que com toda esta potência, virou místico, religioso, representando fé e vida.
Na Rússia, o ovo de galinha que se decora e se dá de presente na Páscoa tem o nome de Pysanski, do verbo “pysaty”, escrever. São ovos escritos como os ícones russos. Como é que sei disso? Um ovo de galinha me contou. E podem ver também no livro “L’Uovo di Pasqua”, de Pierugo Manasse, publicado pela editora Fratelli Palombi.
E, para adivinhar esses ovos russos, é preciso ter a chave de leitura dos símbolos. “Escrevê-los” ou pintá-los é um ato sagrado. A mãe e a filha mais velha se juntam na véspera da Páscoa, pedem a bênção e a ajuda de Deus e pintam os ovos em silêncio, ou rezando e escutando música sacra, num ritual semelhante ao da pintura de ícones. Abandonam-se à reza e à meditação e experimentam um momento do divino. Dizem elas, e acredito.
As “letras” são o sol, a lua, as estrelas, a espiral, o cervo, a serpente, o cordeiro, o boi, o leão, a água, a águia, o peixe, a pomba, o pavão, o galo, o corvo, os insetos, a borboleta, a árvore, a caverna, a fruta, a flor, o grão, a cruz e mais e mais. O mundo, enfim. O abecedário do ovo é o mundo. Mas o que quero dizer é que são muito lindos esses ovos russos, mas não somos russos e não precisamos nem pintar nem rezar para ter a sensação de que ovo é sagrado. Aquele ovo branco e modesto, ou o ovo azul, que já sai pintado de dentro da galinha, são tão lindos na sua elipse perfeita que até doem nos ossos.
No dia da Páscoa, os russos (chegaram de novo), levam os ovos pintados em cestas até a igreja, e o padre os benze na missa. Depois, o povo se cumprimenta com as palavras “Cristos Voskrès” (Cristo ressuscitou).
E fazem bailes, dançando e glorificando a vida. Outro costume é jogarem os ovos num rio anunciando às almas dos mortos que a Páscoa foi celebrada direitinho, conforme o costume.
Na Ucrânia, há uma lenda antiga, segundo a qual o destino da humanidade depende do número de ovos pintados no ano. Fazem uma cadeia que segura o demônio e, se for pequena, o diabo se soltará e virá destruir a humanidade. (Hum, será que por falta desses artifícios e costumes é que o diabo anda solto por aqui?)
Como não temos essa lenda e não faz parte de nosso repertório, basta enfeitar o centro da mesa com uma tigela cheia, bem cheia de ovos de galinha. Até pode ser da caipira. São de uma beleza maior, batem qualquer Fabergé, chocolate ou cristal, ou papier maché.
Na verdade, acho que uma coisa tão iluminada não precisa de outros artifícios, mas é o gosto de se mexer com algo já completo, não deixar em paz o que está pronto. Todos temos um pouco disso, um não-saber parar diante do perfeito e adicionar uma florzinha. Mas é próprio se curvar diante de um ovo de galinha, podem crer.

 

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OS DOCES DOS CONVENTOS

Por ninahorta
08/04/12 10:52

Freira portuguesa

     BASTA-ME LER alguma coisa em português de Portugal que me baixa à cabeça esta freirinha simpática.
Era mulher, ainda jovem, quase uma miúda. Vinha vestida de freira.
Largou o cesto de laranjas que levava dependurado ao braço e deixou-se cair à beira do riacho. “Não se me dava sentar só um poucochinho”, murmurou, enquanto desamarrava suas botas de cordovão preto.
Olhou para os lados, como se medrosa, e persignou-se. “Ai, que louco alívio!” Enfiou os pés na água e espichou bem as pernas. Sentiu que a alma se lhe esfriava toda.
“Monjas, boa lhe tinham aprontado! Queria era estar ao pé da mãe, a fazer a açorda dos hómes com migalhas e coivinhas e não morar ali, a última das criadas de 80 freiras, a mais escrava, a ouvir sermões e matinas e vésperas que não tinham fim. Se fosse só ir à missa louvar o Senhorzinho… mas era o trabalho pesado da doçaria que a matava aos poucos.
Gostava da cozinha, mas é que ali havia que se deitar açúcar em tudo, parece que as monjas nas suas fidalguias desconheciam o sarrabulho, a lingüiça, o toicinho de fumo. Ai, cá me benzo. São lambareiras, vossas servas!”
Trouxe de volta à terra um dos pés e o massageou com furor enquanto rezava pela alma do tio que a trouxera pó convento. “É que não sabia o tio das modas, imaginava ele que as monjas passavam o dia a rezar e fazer doces e caridades. Será que o modo de nomear os doces não bastara para alertar o tio? Bolinhos-de-amor, orelhas-de-abade, beijos, lérias, velhotes, papos-de-anjo, barrigas-de-freira! Ah, deixa-me rir!
E a ela, pois, tocava-lhe avivar o lume, arear as panelas, arrancar-lhes do fundo a grossa calda de açúcar queimado. E mexer ovos, mexer ovos, pois as pastas d’ovos, antes que arrefecessem, enchiam-se de gadanhotos, estragavam-se.
Com os braços doídos, à noitinha nem rezar a Deus conseguia. Exausta, sonhava com o bater das cascas nas bordas da vasilha, separando a clara das gemas. E a madre despenseira sempre a vigiar e a ralhar por dá lá aquela palha, a suspeitar que lhe surrupiavam o açúcar. Ralava-se sem razão, pois não lhe ocorreria fazê-lo, jamais. Só de pensar em doces tinha náusea.
Pândegas eram as monjas, a se entupirem de doces nos dias magros, a convidarem gente a comer, a saírem pá fora do convento quando bem se lhes dava na telha, a palrar nas janelas com quem passava, seus cabelos empoados. A ela, a camponesa, cortaram-lhe as madeixas no primeiro dia, nada mais comia do que uma ração ordinária, um pão com marmelada na merenda, um pouco de guisado que sobejara do almoço, uma bolacha a trincar.
E quem é que ia ao pomar, ao moinho? Quem carregava às costas os caixotes de doces que partiam para todo o reino com os mimos? Mimos daqui, mimos dali. Quem descascava as castanhas para o leite com castanhas dos pobres?
Cantarolou baixinho, absorta. Vedes o maio, mocinhas, vamos à caixa das castanhinhas. Começou a enxugar os pés na barra da saia de baetilha e a folgar os cordões das botinas para calçá-las sem dificuldade.
“Macacos me trinquem, Senhor, se eu não faço mais virtudes, a me esfalfar, do que elas a darem de comer ao bispo. Às vezes, Senhor, fico dando tratos à bola, caracolando idéias nesta minha cachimônia, que chego a perder o sono. Aí, rezo. Sei que a Deus Nosso Senhor o devo, não me faltes. E um dia desses queria oferecer pó Deus Menino uma sopa dourada que a avó me ensinou.
E lhe apeteceria comer toda, tão boa é, iria a ela como são Thiago aos moiros… Uma sopinha de Jesus babar, achar de truz, d’arromba, regalar-se e premiar-me com um sitiozinho aos céus!”
Levantou-se, pegou a cesta e com a mão vaga começou a desfiar o rosário, um pouco melado de calda doce, e, refrescada, foi andando em direção aos sinos.

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