AiI,AI,AI,VOCÊ QUE SER EMPRESÁRIO?
12/04/14 19:41
Ai, ai, ai, você quer ser empresário?
Pedi esse trabalho da amiga Veronica Bilyk, (o nome está ao pé da página)somente para dar uma espiada pois se tratava de mudanças culturais em empresas, assunto que andava me interessando muito. Havíamos comprado a outra parte de nossa sociedade e uma nova sócia, com todas as qualidades, mas inexperiente, iria começar a se esforçar dividir comigo a autoridade e as atribuições de dirigir um buffet.
Então, quero aproveitar esse espaço que temos aqui para falar mais um pouco de buffets e dizer quanto o trabalho da Veronica, apesar de dirigido para mega-empresas serviu para o mini buffet. Ela que nem leia ou ouça sobre isso, pois vai achar que li o trabalho errado. Não, cada um aproveita o que lê com a bagagem que tem e com o foco do que anda precisando no momento. Como dona de buffet, fui logo me aproveitando de muitas coisas.
Estávamos atravessando uma mudança de cultura (crise econômica evidente). Tínhamos uma história de 26 anos que foi interrompida, com a compra feita de nossa parte da outra metade do buffet, saída de empregados muito antigos, e permanência de outros mais antigos ainda.
Imediatamente ficamos completamente abismados com a resistência à mudança manifestada pela equipe que se formou, de funcionários antigos e novos. Eram empregados que ganhavam muito, tinham toda a nossa confiança, mas que nunca haviam sentido uma crise na vida profissional, como a inflação, a desvalorização do real, e algumas outras mais pelas quais havíamos passado. Para que o buffet pudesse funcionar bem e obter lucros toda uma cultura teria que ser mudada. O tema era “enxugar”. Quase impossível. Os salários altos que imaginei que poderiam ser motivo de estímulo serviram para acomodar. As inúmeras reuniões para explicar que o momento brasileiro era outro foram recebidas com ouvidos surdos. Continuava-se a trabalhar com excesso de gastos, muitas vezes apontado pelos próprios clientes que não sabiam o que fazer com o excesso que sobrava das festas.
As coisas irracionais nos surpreendiam sobremaneira.
Sentada diante de um funcionário enorme, dois metros de pai africano, bonito, elegante e educado, eu o assistia fazendo uns ovos especiais dentro da própria festa. Os ovos eram levados de quatro em quatro ao forno, em forminhas. Esperava-se que ficassem prontos retiravam-se os ovos das formas, outros eram colocados e assim ia. A certa altura jurei alto para mim mesmo que nunca mais colocaria aquele item no cardápio pois exigia uma pessoa durante umas 4 horas, ou a festa inteira, só para aprontá-los. Ao que o cortês funcionário me respondeu que não era o forno nem a receita era que só tínhamos aquelas 4 forminhas. Fiquei desolada, achei que jamais conseguiria dele um comportamento inteligente. Preferi achar que aquele tipo de ineficiência só faria acabar com a empresa. E o chef? E os outros empregados? Qual o motivo de não darem a ele a solução do problema?
Continuávamos esbanjando florezinhas de ervas, óleos trufados, produtos estrangeiros, como se todo o nosso papo fosse só para assustar e o Brasil estivesse em fase de riquezas mil, deitado em berço esplêndido.
Todas as ordens escritas (adoro ordens escritas, por mim era tudo escrito no menor detalhe, tenho muito mais facilidade para escrever do que falar) eram recebidas como se todos fossem completamente analfabetos e os projetos de casamentos, festas, totalmente ignorados e elaborados de novo pelo chef que não tendo ido às reuniões fora do buffet onde se esboçaram os conceitos junto às famílias dos clientes , é claro que não saberia adivinhar o que era esperado dele.
Mas, por quê?
Logo no início do seu trabalho a Bilyk explica, pela boca de um dos seus entrevistados. “A mudança gera medo e irracionalidade. A pessoa pensa que pode perder o emprego, os projetos, os amigos. Num outro momento passa a ter ódio, quer sabotar ou se torna supernegativa. Procuramos mitigar essas coisas, hoje em dia. Finalmente essa reação geralmente termina com o indivíduo se autovalorizando em demasia.”
Sem tirar nem por: o cozinheiro passou a fazer menus e atender o telefone e conversar com as clientes, achando que era a pessoa mais adequada para esse trabalho. Parecia que compras, mercados, livros novos, receitas, experimentações, cursos de atualização nada tinham a ver com suas responsabilidades. Como era uma pessoa amiga e querida levamos uns três meses para fazê-lo desistir da empreitada, o que o deixou extremamente magoado, pedindo até as contas, coisa de que se arrependeu pois não tocou mais no assunto.
Não admitimos que os cardápios saiam, mal elaborados e com erros de português ou de qualquer outra língua, na medida do possível. São cardápios que por mais criativos que sejam se repetem continuamente e era preciso que antes de sair passassem por pessoa que os corrigisse. A digitadora também queria se suicidar porque não confiávamos na sua redação. E nem podíamos.
A sócia, quando interpelada por eles, dava razão ao cozinheiro e à digitadora, dizendo não entender porque aquelas pessoas não podiam fazer sozinhas o seu trabalho. A resposta era óbvia, porque não estavam cumprindo suas funções a contento e num tempo de crise brasileira quantos mais erros cometêssemos, mais poríamos a firma em crise.
As pessoas novas colocadas na firma para estágio, para serem avaliadas, geralmente vindas de buffets já com culturas de enxugamento, de economia, de buffets “pobres” (experiência que precisávamos loucamente) eram bullyed de um modo que só anjos muito tolerantes suportariam.Um bullying não disfarçado, agressivo e desmoralizador para o novo funcionário. Que andava de ônibus, tinha seu próprio uniforme que ele mesmo lavava e passava, falava em pãezinhos feitos na cozinha, em brunches pouco refinados de grandes firmas, e cobrava a metade que nossos garçons e copeiras. Que me lembre nenhum deles se aguentou, a culpa do seu desespero em alguns casos era manipulada pela rádio peão para cair sobre os empregadores.
Dois dos empregados ( vejo pelo trabalho da Bylik), possivelmente passaram a não aceitar ordens escritas, memos de 3 páginas explicando cada etapa de um serviço, as receitas, o que comprar, quando comprar, pois a simples leitura poderia fazer parecer que eles não sabiam fazer aquilo sozinhos e passariam vergonha, principalmente frente à senhora da contabilidade com 20 anos de serviço e bastante liderança. Na verdade era um atalho para facilitar o trabalho deles.
Para nós era inexplicável que ao pedirmos ervilhas Bonduelle, número 0 por serem mais padronizadas e mais frescas eles conseguissem encontrar, procurando por todos os lados uma tonelada de ervilhas “frescas”, de no mínimo 10 dias, se não mais, do que a que havíamos pedido por escrito.
É claro que aqui estamos falando de falta de comunicação entre os patrões e os empregados, e falta de conhecimento de relações humanas dos dois lados.
No entanto, um buffet de 10 funcionários não pode ter sempre um profissional de RH de bom nível e aparece aí a necessidade de cursos específicos feitos pelos patrões nessa área, conversas com outros donos de buffet, o que poderia nos ajudar a errarmos menos. No caso o assunto é medo de mudança.
Claro que passaremos a falar, depois, sobre os erros dos empregadores!!!!!! Se é que a Veronica escreveu sobre isso, senão….
(Qualquer semelhança com buffets conhecidos ou funcionários aqui referidos é mera coincidência. Foram delineados para facilitar a compreensão do texto de Relações Humanas com o qual os buffets não estão acostumados.)
MARIA VERONICA PORTO BILYK
ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS DE MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS E CULTURAIS EM ORGANIZAÇÕES E SUAS ADERÊNCIAS SOB O PONTO DE VISTA DAS ÁREAS DE CONHECIMENTO: GERENCIAMENTO DE RH E COMUNICAÇÃO, DO PMBOK®
Trabalho apresentado ao curso MBA em Gerenciamento de Projetos, Pós-Graduação lato sensu, Nível de Especialização, do Programa FGV Management da Fundação Getulio Vargas, como pré-requisito para a obtenção do Titulo de Especialista.
Edmarson Bacelar Mota
Coordenador Acadêmico Executivo
Ana Paula Arbache
Orientador
São Paulo – SP
2014