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Nina Horta

Perfil Nina Horta é empresária, escritora e colunista de gastronomia da Folha

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Caderno de receitas da mãe

Por ninahorta
06/09/12 17:43

Leitor há muitos anos da Folha, sou seu leitor e admirador desde o começo. Adorei o “furinho na lata de leite Moça, os dois furinhos, aliás…” Levou-me à minha infância, há muitíssimos anos, em Minas. Aquela Minas das casas com quintais, galinhas ciscando no terreno do galinheiro, goiabas comidas no pé, jaboticabas (quantas!), guardadas por arame farpado no Museu Mariano Procópio. Guerras de Mamona. Tudo o que já não há mais. Mas tenho comigo ainda o Caderno de Receitas da minha mãe, iniciado em 1956 quando eu tinha 14 anos.

São inúmeras receitas, ainda medidas em pratos, pires, copos, xícaras. 
Por ela, com base nele foram feitas todas as festas de aniversário dos filhos, dos primos e primas (uma tia era quem fazia as balas de coco). Festas de criança em que a importância era toda dada aos bolos e doces, sem os enfeites que enfeiam as festas de agora.
Também por ela e com base nele foram feitos todos os doces do meu casamento. Assim como todos os doces e salgados do casamento do meu irmão.
Se houver interesse, o caderno está inteiro (escaneado) em http://sobral.tripod.com/receitas, clique em Receitas Eunice.doc.
 

—
Elieu Sobral

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ANTONIA, QUER VENDER OS SEUS BIJOUX ????

Por ninahorta
01/09/12 17:01

Olhem só, adivinhem quem é? É paraense, está em todos os sites de comida, vende tudo que você sempre quis e nunca conseguiu. Acho da maior responsabilidade esse serviço. Não adianta os grandes cozinheiros botarem a boca no mundo dizendo que grumixama e farinha Uarini são o que há de bons, se não temos acesso a eles.

Mas, adivinhem o sobrenome de nossa paraense.  Padvaiskas.  Lá pelos lados de lá dá tudo de exótico mesmo, porque o nome primeiro é Antonia, conhecido nosso. Então é Antonia Padvaiskas.

Eu já tinha ouvido falar nela e muito, mas não sabia que fazia uma experimentação, levando todos os produtos e você provando um a um, sem pressa, inclusive as castanhas-do- pará frescas, aquelas com gosto de coco, diferentes das que compramos aqui e com as quais até já nos acostumamos. É divertido fazer misturas, ver o quê, vai com o quê, a farinha por baixo de tudo.

E o cará roxo, por esse me apaixonei, adoro cará, adoro roxo, e um cará roxo de bispo é lindo e gostoso demais.

Já conhecia o aviú, o Dória me deu duas vezes, mas tenho sempre um desejo de aviú, é como se eu fosse uma baleia comendo os kril, como é mesmo o nome? Aqueles minicamarõezinhos que as baleias comem, assim, de enxurrada, um mundo de bichinhos se aninhando no estômago delas.

Pois a Antonia Padvaiskas vende até folha de bananeira, da que roubamos da vizinha para forrar os cubos de tapioca também roubados do Mocotó. E tapioca ela tem de qualquer jeito, logo não será preciso roubar mais nada, ela ainda nos torna honestos, dá um up na moral.

Já imaginaram quão Atala podemos ficar com piracui, farinha de peixe,
com a maçã do coco?

E tem um melado… Gostei tanto que ganhei um pote. Chiquérrimo num almoço acabar com uma pocinha de farinha boa pingada de melado, num desenho modernista, ou a copeira chegando com uma mini chaleirinha e despejando o melado por cima da farinha.É pra quem pode, não é todo mundo que pode servir melado com farinha. Padvaiskas permite, porque a farinha é excepcional e o melado também.

Ela não vende os colares dela, nem as sacolinhas, nem os anéis, mas por que não? Quem vende coisa tão bonita como comida pode fazer o mesmo com berloques. Vou começar campanha.

Ei, Antonia, se vende biju, por que não vender bijuterias? Ai, ai, ai….
(011) 7310 50 24  8344 4040
toni.ginger@gmail.com

 

 

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MANI-(AMENDOIM-MANDIOCA)-DANIEL E HELENA

Por ninahorta
28/08/12 15:48

Fomos ao Mani em convescote. Seis pessoas  prontas para o que desse e viesse em matéria de vinhos e comidas. Expectativa sempre alta. O que desse e viesse de melhor, é claro. Sempre que vou a um restaurante bom quero gravar o que comi, pedir que fotografem, se possível, escrever tudo tim, tim, por tim, tim. No meio da primeira caipirinha e do pão de polvilho, já me sinto o mais feliz dos cronopios, sem vontade de registrar nada e sim de sair distribuindo beijos pela sala e cantando desafinada uma modinha do Sul, terra da Helena.

Menu degustação, então? 15 pratos? Mas, nem… O prazer de comer e beber mata o meu documentário.

Então, quem timidamente tirou as fotos, sem saber se era legal ou não ficar fotografando foi a santa da Bel. Mas ela também bebeu um pouquinho, que não é de ferro,  e então, as fotos não vão ajudar muito nem a vocês, nem à Helena, mas só um leve colorido e os nomes já fazem a gente sonhar com a comida perfeita.

Contentem-se então com o pouco que posso dar sob os eflúvios do vinho.

Helena Rizzo continua linda e bruxa. Daniel Redondo (eu o apelidei de “dejame tranquilo”) continua buscando a tranquilidade das panelas e a distância de chatos como nós que queremos saber tudo. Helena, exausta,  depois de um jantar desses, mas fingindo que somos um bando alegre de pessoas amigas faz o social. Como cozinham bem. É motivo de orgulho, de assombramento ver  um prato sem defeito, uma mistura equilibrada de sabores, num nível totalmente diferente de nós, cozinheiros medíocres.

Salve, Daniel, salve, Helena, não se percam mesmo em frivolidades e escuta diária de elogios. A cozinha é um caminho duro de se percorrer, cheio de experiência e estudo e o contato com os cozinheiros aprendizes e com os  amigos verdadeiros, basta.

Obrigadas por tudo, pelo esforço, pelo serviço seguro, pela delicadeza e excelência.

E vocês, que porventura lerem o blog, desculpas, da próxima vez não bebo. Mas fica o conselho. Só existe um cozinheiro bom. O que busca a perfeição.

 

J´accuse! Fotos da Bel que também adorou a comida.

 

 


Salada Waldorf.  (Gelatina de maçã. sorbet de aipo, nozes caramelizadas e
emulsão de gorgonzola)

Gnocchi de mandioquinha e kuzu com dashi de tucupi  (dashi=caldo de peixe,
tucupi= caldo de mandioca brava)

Ovo “perfecto” (Cozido a 63 graus durante 1 1/2 horas acompanhado por
espuma de pupunha)

Lagostim com emulsão de bacuri e azeite de baunilha

Pirão de tinta com chipirones e alcachofra

Mandioca ouro com costela na brasa e dashi de banana .

Feijoada
Carpaccio de pé de porco com esferas de feijão, paio, laranja e couve

E ainda, não fotografados:
Sopa de jabuticaba com camarão ao vapor de cachaça.
Peixe do dia com batata doce, cebola roxa na brasa, azeite de picada e
coalhada de queijo de cabra.
Ostra da Praia dos Sonhos com gelatina de pepino e pérolas de lichia
Consomê frio de tomate com tamarillo, mini burratas e manjericão
Bombom de foie gras com goiabada e capa de vinho do Porto
Chips de batatas com rosbife e mostarda Dijon
Da lama ao caos.Doce de berinjela com coalhada de leite de cabra, pistaches
lima da Persia e sorvete de gergelim

 

 

 

 

 

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NEGÓCIO DA CHINA.

Por ninahorta
22/08/12 03:03

As fotos são de alguns de nós da equipe do buffet. Resolvemos dar uma espiada na aula do Luiz Stockler Portugal sobre wontons chineses. Vamos fazer um casamento em setembro com os mais frescos e deliciosos pasteizinhos. Ainda não chegamos ao formato ideal, mas o recheio….. Afinal era a segunda aula,

O Stockler (que sabe tudo de tudo), o professor intenso, começou a aula com o mapa da China e duas horas depois já estávamos comendo os pasteizinhos fritos. Fritos é modo de dizer, pois a frigideira é só pincelada de óleo e de quando em quando um pingo de água. O vapor da água é que vai cozinhá-los, à medida que fritam.

O molho  deixaria qualquer pastel de iniciante bom. Gostosíssimo, com muito gengibre e pimenta.

Juro, juro que quando estivermos bem treinados dou a receita mais fácil do mundo. (Ainda não postei as do casamento de junho por não ter pedido autorização à noiva.)  Essa primeira foto é da Bel, a sócia nova.

Luiz Paulo, o professor, Leila e Eduardo, Ivone, Pedro, Maysa,  e os wontons!!! Ainda chegamos lá, exercícios diários que dentro de um mês nos farão especialistas de um campo bem saboroso da comida chinesa.

Bel, Maysa e eu trabalhamos no escritório mas fomos aprender e comer. Leila é cozinheira muito boa, sabe daquelas coisas que faz um cará virar manjar, só com o leve sabor do cará, sem alho, cebola, excesso de sal. Nasceu sabendo, mas agora vai fazer um curso no Laurent para ficar com “atitude” de cozinheira. Espero que não resolva voltar com o cará cheio de maracujá. Não, brincadeira, o Laurent jamais ousaria uma coisa dessas.

Você adivinha quando a nossa comida diária foi feita por ela pela sutileza da cozinha brasileira bem temperada.

Já a Ivone lava louça, e de vez em quando tem que subir num banco para alcançar a torneira. E daí? O cozinheiro supera todos os obstáculos, o que quer dizer meio metro a mais, meio metro a menos?

O Pedro faz pendant com ela, tem dois metros. É o fritador pururuca e fazedor de biscoitinhos para o chá. Queríamos tirar a foto do par  para fazer marketing. “Pequenos e grandes jantares.” Mas, todo mundo achou maldade.

Eduardo se exibiu o que pode para o professor e até para nós mesmos. É um mestre de corte, todos nós quisemos imediatamente aprender com ele. Cortou a cebolinha numa velocidade inacreditável e ainda demonstrou de olhos fechados. A próxima aula vai ser com ele, estão convidados, tragam suas facas que afiamos e ensinamos o corte speedy e certeiro.

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Por ninahorta
16/08/12 09:09

Falei ontem sobre festas que caibam nos bolsos, muita gente gostou e outros me interpelaram se eu queria acabar com a alegria dos ricos.

Longe de mim. Tem coisa melhor do que ser convidado para uma festa com o melhor champagne bem gelado, cascatas de camarões, buffets se curvando pelo excesso de comidas das quais nos serviremos devagar, indo e voltando sem filas monstruosas, aproveitando o que há de melhor em matéria de ingredientes, de cozinheiros e garçons.

Como poderia não gostar de banquetes se é essa a minha profissão? Estou danada se todo mundo receber amigos com uma boa pizza.

Como disse é questão de dinheiro. Acho que os bem ricos devem gastar muito, ora se devem,  dar o que há de melhor aos seus amigos, sem exibições, com um grande coração generoso. Se não fossem os amigos ricos onde experimentaríamos as lagostas, os peixes inteiros com crostas incríveis, as galinhas como as de Bresse, untuosas, suculentas?

Eu reclamava ontem  dos  que não têm o dinheiro e querem dar uma festa com cara de rico. Aliás, as melhores festas são aquelas com a cara das pessoas. Todos sabem do que estou falando.

Uma vez (surto chinês), convidei um casal de amigos para um jantar. Tudo em louça chinesa, receitas estudadas com o maior carinho, eu mais na cozinha do que na sala, etc.

Ficou bom,  amaram, mas a convidada não retribuiu. Disse que não sabia o que fazer depois de um jantar daqueles, tão caprichado. (Éramos assim há centenas de anos.)
Bem, um dia não deu mais para disfarçar. Convidou e adivinha o que fez? Sendo de família italiana, fez um belo talharim em casa, com molho de tomate. Sabe quando uma coisa tem o melhor gosto do mundo?  Mais vinho e pão.  Foi demais, não me esqueci do gosto, era perfeito, e era honesto e era simples, carinhoso. Comemos de dar vergonha.

É isso, todo mundo sabe. Comida boa, variada ou não, tudo vale quando a alma não é pequena, diríamos nós já um pouco  desfocados depois de tanto vinho.

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Acho chic!

Por ninahorta
14/08/12 23:36

 

Gentem, é a crise! No buffet  os clientes se imbuíram da virtude da poupança, mas é só na hora de pagar. Querem tudo como antes no quartel de Abrantes. Aquela coisa clássica, entradinhas, saladas, peixe, carne branca, carne vermelha para quem não gosta de peixe e uma massa para quem não gosta de nada. E algo diferente e gostoso para os vegetarianos.

Lembram-se daquela série de culinária, Two fat ladies, em que elas andavam numa motocicleta com carrinho do lado, duas inglesas malucas e simpáticas? Uma delas comentou que não tinha problema nenhum com os vegetarianos, a única coisa que a incomodava era ter que fazer uma comida especial para eles, quando nunca, jamais, a tinham recebido para o jantar com um bifão bem sangrento. Então, tem que ser olho por olho, dente por dente. Se os vegetarianos não fazem nada para nós, também não vamos fazer para eles e pronto.

Muitos garçons. É esvaziar o copo e já deve ter alguém ao lado, solícito. Nada contra, mas está chegando a hora de poder receber de uma maneira mais descontraída. Qual o convidado que não pode chegar até o estoque de bebidas e se servir ele próprio, do que quer, na quantidade que quer? Eu até prefiro.

Vamos facilitar e baratear nossas festas.

Um pratinho de entrada bem cheio daquelas coisas que agradam a todos, como presunto cru, melão. Um ceviche bem picante…e só.

Ir construindo uma fominha boa para a bela polenta mole, de semolina, que vem à mesa num tacho acompanhada por um brasato, uma carne derretendo de macia, mais um molho de tomates bem denso e talvez outro ainda, de gorgonzola. Prato fundo, colher, se preferir e  um bom vinho.

De sobremesa há um mundo a se escolher. Duas sobremesas e pronto, de preferência com chocolate uma, com sorvete outra. (Para agradar os homens, a maioria deles, que acha que sem chocolate e sorvete não existe sobremesa.)

Um cafezinho bem quente, ou dois, muita conversa jogada fora, e então?

Existem mil festas desse tipo, gostosas de fazer, mais baratas do que o Buffet clássico.

Vamos nos divertir mais barato, é muito justo, mas vamos mudar também nossas exigências em relação a serviço e variedade de comes e bebes. Acho mais chic, juro.

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Marcus Samuelsson, um orfão africano -1

Por ninahorta
13/08/12 18:34

Vi um chef no programa do Charlie Rose na TV Bloomberg e fiquei encantada. Negro bonito, de traços muito finos, pestanudo, achei até que estava maquiado. A voz sussurrante e terna, tipo bom rapaz.  Não resisti e fui ao livro dele recém lançado.
“Yes, chef . A memoir.”

Para que ler mais um diário de cozinheiro se são todas iguais? Não sei. Eu gosto.
A saga da pilha de batatas, as noites mal dormidas, a tirania dos chefs estúpidos, as pequenas implicâncias dos chefs que nunca crescerão por suas mesquinharias, e afinal a história do menino que vira o primeiro entre seus pares. No meio dos livros sempre tem uma nova filosofia de culinária, um novo jeito de assar uma galinha.No caso de Marcus Samuelsson um jeito novo de se curar um salmão. É bem escrito (usou uma ghost writer) e não entedia nada. Li de uma vez só, ou duas. Uma noite e meio dia.

Órfão africano, etíope, foi adotado com a irmã por uma família de uma cidadezinha sueca.  Ele tinha três anos, não se lembrava da mãe, mas a comparava com uma mistura de temperos africana, berbere, usada em tudo na Etiópia. Na sua imaginação de adolescente via a mãe muito pobre levando-o a pé, com a irmã, para o hospital.Ou fazendo uma polenta de grão de bico com manteiga e cebola e polvilhada com berbere, era o que os muito pobres comiam. Com o pão chato injera, feito com o grão teff.

Pois o menino sem mãe virou sueco. Ele e a irmã.  Foram recebidos na Suécia com a comida da avó, com um refresco de frutas vermelhas e dois tipos de sanduíche, um de uma espécie de parmesão duro e outro de patê de campagne em pão preto de cereais. Picles, mostarda e um bolo de maçãs.

Nada mau, e daí em diante foi virando um sueco dos bons. Pescar com o pai, defumar o peixe, comer e ajudar a avó, uma grande cozinheira intuitiva. Muito arenque, peixe fresco, e a tradicional frigideira de batatas, anchovas, cebola e creme. E o frango assado, temperado com cardamomo, gengibre, sementes de coentro, tudo em pó, moído na hora, na pele da ave. Uma caminha de cenouras com o frango recheado com tudo que havia no quintal, alecrim, maçãs, cebolas, um pouquinho de alho.

A vida era a família, a escola e o esporte. O esporte empatando com a família. O futebol. E quem o inspirou a querer ser um grande craque? Pelé. Só não se tornou um jogador por ser pequeno. (Mais tarde se descobriu que sua idade estava errada, ele era um ano mais moço do que os papéis da adoção informavam.)

O menino bom de bola se desaponta e esquece o futebol. Estava nascendo o cozinheiro.Vai para um escolinha de cozinha, aprende a hierarquia, a disciplina de uma cozinha, os métodos básicos, estuda o Larousse Gastronomique e o livro de Escoffier. Mas lá no fundo achava os livros sem graça, muito tradicionais, queria criar.Por que não se podia misturar o pato com laranja a um arroz ao curry em vez de servir com batatas dauphinoises?

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Marcus Samuelsson, um chef sueco - 2

Por ninahorta
13/08/12 18:18

E o menino foi andando com garra para a profissão, deixando tudo para trás. Nada era tão importante como cozinhar. Queria deixar a cidadezinha sueca para trás, ser o primeiro do mundo, conhecer Paris, trabalhar na França. Com cada chef que estagiava aprendia tudo. Um jeito de cozinhar e com muitos deles regras básicas de disciplina e generosidade na cozinha.

Descobre a cozinha japonesa (através de uma namorada) e fica deslumbrado com a novidade.

Vai para a Suiça, seu aprendizado maior num hotel importante. Banquetes, salsichas e carne curada, miolo de cordeiro sobre alfaces, sopas geladas de aspargos, peixes com creme de raiz forte, ovos em aspic, flores de açúcar, águias de gelo, melões esculpidos.

Áustria, Estados Unidos. Em Nova Iorque a sua chance, o grão de sorte. Vai trabalhar no Aquavit, um restaurante sueco, americano. O paladar da comida era aquele a que estava acostumado . Almôndegas com purê de batatas e molho de lingonberry. Blini recheado de legumes e queijo.Trabalhava muito mas apaixonou-se pela cidade e a estudava tanto quanto sempre estudara cozinha. Chinatown é o quente. Aprende muito, não quer parar. Nova York era internacional. Come nos restaurantes mais baratos e nos mais caros. Faz tours em navios, como ajudante de cozinheiro e aprende em cada porto. Conhece o mundo descendo aqui e ali e confraterniza com os cozinheiros do mundo todo. Indianos, pretos, coreanos, homens, mulheres e crianças.

Tirou da cabeça que a melhor comida era francesa. Quem inventara essa bobagem? Estagia com Georges Blanc. Escreve cartas sem parar, pedindo estágios. Escreve para o dono do Aquavit, Hakan Swahn. “Se o senhor me contratar farei do Aquavit um dos dez melhores restaurantes da cidade.” Tinha 24 anos. Foi aceito.

Trabalha e inventa, sempre tendo como pano de fundo a cozinha da avó sueca. Afinal era um restaurante sueco em Nova York. O chef morre de um ataque de coração, de repente, ainda moço. Quem imaginaria? Torna-se o novo chef executivo do Aquavit, coisa inacreditável.

Cozinha como a avó, mas juntando de tudo um pouco. Modernizando, misturando paladares com delicadeza e justeza, sem exageros. É realmente um bom cozinheiro na época da nouvelle cuisine.

Como não pode colocar nomes estranhos num menu sueco, fazia salmão pincelado de miso e enrolado em manjericão, e servia com erva doce e um caldo de limões kaffir, erva doce, galangal e yuzu. No menu a coisa se chamava salmão crocante com laranja e erva doce grelhada. Wasabi era raiz forte, yuzu , vinagrete de limão. O negócio era não assustar o comedor com nomes improváveis.

Fez sucesso. A imprensa foi se aproximando e querendo saber a filosofia deles, os objetivos. Ruth Reichl dá 3 estrelas ao restaurante. Marcus Samuelsson e o patrocinador do restaurante viajam o mundo experimentando novos restaurantes. Ganha prêmios, começa a se desenhar como um dos melhores cozinheiros da América.

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Marcus Samuelsson, o chef americano - 3

Por ninahorta
13/08/12 17:00

Bem, não é preciso contar o livro todo. Hoje está feliz com um restaurante de comida afro americana no Harlem.  Começa a notar a beleza do bairro, vai morar lá com a mulher, também negra que encontrou em New York .
É assim que começa o restaurante Red Rooster.

“Quando penso na minha missão como chef negro, vejo tudo claro. Documentar, preservar, apresentar, capturar, inspirar e aspirar. Estou documentando a história do Harlem, no Rooster, preservando a bela história da comida afro-americana através das minhas lentes suecas-etíopes.” Nada mais globalizado, não é?

“Nesse meio tempo eu me tornei um chef, um pai, um marido, um orientador e um amigo. Não se pode tomar um trem para Adis Ababa, mas pode-se para o Red Rooster

Passei tanto tempo da minha vida por fora que até comecei a duvidar que um dia seria parte de um povo, um lugar, ou tribo. Mas o Harlem é grande o bastante para aceitar tudo que sou. Harlem, grande e diversificado o bastante, velho e novo o bastante, para abarcar tudo que sou e que ainda espero ser. Depois de tanto viajar, estou, enfim, em casa.”

Vamos pegar as influências  dos vários países na cozinha de Marcus Samuelsson. |Dicas dele.

 

“Para mim, minha mãe é como o tempero de nome berbere, mistura de condimentos etíope. É usado em tudo, de cordeiro a amendoim. É nosso sal e pimenta.

Ela era pobre e nos alimentava com shiro, uma farinha de grão de bico que se cozinha como se fosse polenta. É jogar na água e juntar manteiga, cebola e berbere. Fica em fogo baixo por 45 minutos, até ficar com consistência de hommus, e então é comido com injera, um pão azedo rico feito de grão de nome teff.

 

Arenque é o clássico peixe sueco. Aparecia em quase todas as mesas, fazia parte de quase todas as receitas, menos das sobremesas, e principalmente nos feriados. Está até trançado na língua. Você pode ser surdo como um arenque, ou burro como um arenque. Os condutores de bonde eram chamados de condutores de arenque. Se você está cansado é um arenque morto. Sapatos cheios de chulé são potes de arenque.

Os fregueses de Ljungqvist´s(o vendedor de peixe) compravam muito arenque.- Para cozinhar na água, fazer picles, assar, ou colocar em camadas nas casseroles com queijo, alho poró e tomates.  Nas noites que minha mãe iria fritar o arenque, ela evitava o arenque de 20 cm e comprava o menorzinho, pele de prata, ströming que vinha do Báltico e se encaixava melhor nas suas frigideiras de ferro. Sendo uma sueca dos anos 50 ela podia servir ervilhas de lata horríveis, mas o arenque era outra coisa. Ela tirava as escamas, eviscerava e fazia os filés. Para ela o arenque não era um trabalhão na cozinha. Saber como limpar um peixe era tão inato quanto abrir uma porta.

 

Comíamos nossa versão sueca de um hambúrguer. Carne feita na panela, uma almôndega coberta por cebola caramelizada. Algumas vezes o hambúrguer era misturado com cebolas, alcaparras, e nabos em picles antes de ser passado na manteiga. De onde eu venho isso é comida de alma, e boa pra burro.

 

Os suecos tradicionalmente preferem o picles salgado, azedo e doce. Para conseguir essa mistura de sabores, usamos uma solução chamada 1-2-3: 1 parte vinagre, 2 partes de açúcar, três partes de água. Mas, o vinagre sueco tem que ser ättika……..duas vezes mais ácido do que os vinagres americanos. Minha avó fazia picles constantemente com essa proporção que ela punha em jarros e guardava na despensa.

 

Depois que matávamos e preparávamos a galinha, minha avó as salgava bastante. Porque a salgava? Porque mesmo que tivéssemos uma geladeira era não fora criada com uma. Na cabeça dela o frango poderia estragar. E o que acontece se você salga alguma coisa? A pele fica mais firme pois o sal preserva.  A carne fica mais macia. Depois de salgar punha a galinha no sótão por algumas horas pois lá era frio e seco. Os chefs modernos deixam no ar refrigerado para a pele ficar seca, o que facilita o assar. Ela sabia intuitivamente essas coisas que nos ensinam nas escolas de chefs.

Quando estava na hora de assar a galinha ela me mostrava as especiarias que usaria – cardamomo, gengibre, sementes de coentro, que ela moia e passava por toda a pele. Então colocava cenouras na assadeira, fazendo uma caminha para a galinha se deitar. Recheava a ave com coisas do seu quintal: alecrim, maçãs, cebolas, talvez um pouquinho de alho. Costurava e levava ao forno.

 

Nas férias de verão, na praia com o pai.

… Na cozinha Nini já tinha colocado quatro pedaços de quadrados de pão preto para sanduíche com: ovos cozidos duros cortados em rodelas, pasta de ovas, maionese, e cebolinha picada e filetava então as cavalinhas que havíamos pescado e defumado lá mesmo, polvilhava-as com pimenta-do-reino e alho, e colocava a carne do peixe quente e saborosa por cima de cada pão.

 

Quando saímos para jantar fora comíamos ou perca frita com batatas cozidas ao dill e manteiga.

Numa pizzaria eu pedia a Capricciosa: cogumelos, alcachofra, presunto e azeitona.

 

E também o restaurante que vendia camarões “descasque e coma”. Era uma comida popular pelo jeito que era servida. O camarão vinha num prato grande, com casca, cor de rosa e gordo, ainda com a cabeças, e cada pessoa pegava um punhado de uns dez de cada vez. Descascávamos e havia uma vasilha de água ara se limpar as mãos. Depois pegava-se uma grande torrada, passava-se maionese e o camarão ia por cima com um poico de dill picado e uma espremida de limão. Ao acabar recomeçava-se todo o processo. Era muito gostoso.

 

 

Aprendi com a mãe da namorada, japonesa, a pegar os pepinos cortados em bastonetes e mergulhá-los no missô e a polvilhar com bonito em flocos.  Vegetais crocantes e frios, molho fermentado e delicadas fatias de peixe que praticamente se derretiam ao toque.

 

Comecei a fazer molhos à la minute. Para sole, eu entrava depois que o peixe havia sido cozido na manteiga, juntava mais umas colheres de manteiga à frigideira e esperava que ficasse dourada. Juntava, então, salsinha e suco fresco de limão e experimentava meia colherinha para julgar o sal. Passava para o cozinheiro que provava de novo e despejava o molho por sobre o peixe já no prato.

 

….aprendi que não adiantava olhar para ver se o molho estava pronto. Afundava-se uma colher no molho e vendo se grudava na colher. Se escorria o molho estava fino demais, se grudava, estava bom.

 

No meu estágio com o entremetier aprendi a fazer ma deliciosa sopa de abacate com leite de coco, enfeitada com grapefruit sanguínea e pimenta-rosa.  …. Fiz centenas de mille-feuilles com frutas vermelhas, cada uma com uma bolota de sorvete de champagne, enfeitado com caramelo.

 

Lagosta com abacate

 

Salmão defumado no tandoori

 

Como café da manhã, na Espanha, eles pegavam tomates maduros, descascavam e amassavam por cima da torrada, e salpicavam pimenta-do-reino por cima.

 

Em Porto Rico pedi camarões de mofongo que me desapontaram à primeira vista, simplesmente um prato com um mingau cinzento por cima. A garçonete me mandou usar a colher e debaixo do aveludado purê de banana-da-terra encontrei uma mistura de camarões picados e porco. Agora que sei alguma coisa da cozinha africana vejo que é uma mistura das bananas africanas e temperos caribenhos.

 

No dia seguinte, afundei dois peitos de pato em água salgada e coloquei um peso por cima para não subirem. Seis horas depois tirei um deles  da salmoura e salteei com mel e molho de soja……….. no segundo juntamos erva cidreira e folhas de limão kaffir.  Ficou fantástico.

 

E mesmo no caso do hovmästardsas – um molho doce de mostarda com dill, servido com gravlax, que era quase que uma religião na Suécia, eu fiz mudanças, procurando um sabor de nozes. Juntando nozes mudaria a consistência, e sei, então, café expresso coado. ….Eventualmente passou a ser o molho usado no arenque e no gravlax. Mais tarde retirei até o dill que me parecia um lugar comum.

 

Lagostas embrulhadas em fatias de pêra……uma sopa de tomate com carne de caranguejo no meio. Assei tomates no forno a baixa temperatura com sal, açúcar, pimenta-do-reino e alho. Depois enchi cada tomate com caranguejo desfiado e coloquei no meio de um prato fundo, rodeado por uma concha de sopa de tomate com bastante gengibre e notas de erva cidreira. Sabia que esses sabores se misturariam bem e foi o que aconteceu.

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QUEM COME O QUÊ, NAS OLIMPÍADAS?

Por ninahorta
03/08/12 01:51

Deformação profissional é um problema. Sério. Fico assistindo as Olimpíadas num estado completo de fofura, estado de espírito fofo, todo mundo amigo, que coisa é aquilo? Zorba , o grego, de braço dado com Chu em Lai,  o Sarkozy com o Naipaul, Audrey Hepburn com Neimar. Cada um com cara do seu país, jeito de andar, de falar, a atitude.

E os monstros de força choram! Mão no peito cantando hino. Me confundo toda, me vejo em Esparta, noutro mundo guerreiro. Só me espanto com os desequilíbrios das aterrissadas. Já repararam que todas as atletas que simplesmente voam, chegam errado ao chão? Com aquele pulinho para trás? Todas. Valha-me Deus, minha filha sugeriu que na próxima Olimpíada quem desequilibrar ganha pontos. Dão três pulos mortais seguidos com reviravoltas no ar, e ganham dez pontos pela chegada torta.  Bom, no fim ganha a que deu menos passinhos pra trás.

E onde entra a deformação profissional? É que fico pensando no que eles pensam naqueles minutos de esforço inaudito. Contam até 100? Vem uma musiquinha impertinente na cabeça? Acho que não.  Mergulham nas suas comidas mais conhecidas. Os americanos num prato fundo de cereais com leite, os orientais num arroz branco, num morro de arroz, os cubanos em creme de abacate, os mexicanos em moles marrons, alemães em cerveja quente, italianos em molho de tomate, franceses em foie gras. Pulam, deitam, se jogam no ar, na areia, na água como quem procurasse o seio de mãe a transbordar carinhos, no leite de mãe, a única explicação para tal perfeição e obsessão.

E o boxe e o judô, a raiva contida e incontida? Contra a comida que faltou, que pode faltar, contra a comida ruim, sabe-se lá, sempre há um assunto de comida lá no fundo. Mesmo em Olimpíada.

PS – Ah, o brasileiro em água de coco, acho.

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