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Nina Horta

Perfil Nina Horta é empresária, escritora e colunista de gastronomia da Folha

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A forte natureza feminina

Por Folha
20/03/13 03:00

Resolvi visitar, há bastante tempo (não em 1600, no entanto), a mulher de um funcionário de meu marido que havia tido filho e estava na maternidade. Não a conhecia e fui impedida de entrar pela mãe dela, que saiu do quarto, fechou a porta cuidadosamente e perguntou se eu estava “naqueles dias”. Fiquei boquiaberta por não entender absolutamente o motivo da pergunta, a hora e o contexto.

Ao me ver assustada e quase ofendida, a mãe explicou que eu poderia talhar ou secar o leite da parturiente. Nem me lembro se entrei na visita, se sequei ou não o leite do bebê.

Como acontecem com assuntos dos quais nunca se ouviu falar, de repente, eles brotam de todos os lados. E fui entendendo essa história antiga, já perdida nos tempos.

Como os livros de história começaram a tratar de pequenas histórias, de vidas pequenas, de lugares pequenos, costumes pequenos, comecei a enxergar a mulher que “naqueles dias” não podia entrar na despensa, pois a carne apodreceria, o leite talharia, a gordura ficaria rançosa, os legumes preservados mofariam. Assim como o mel e o vinho. Todas as coisas úmidas se deteriorariam ao ter contato com a mulher. Durante as regras, elas só podem tocar no que é seco.

A matança do porco, por exemplo, é executada pelos homens. Elas só podem se encarregar do cozinhar. Aí sim, talvez o fogo apague os efeitos maléficos dos fluidos femininos. Mas, mesmo dentro da cozinha, há um tipo de preparo em que ela não pode tocar. Cremes, doces, molhos. Tudo que é liga ou emulsão, sem fogo, desanda. A maionese, o chantilli, as claras em neve.

Não satisfeitas com esse poder de apodrecer, as mulheres e suas regras embaçam espelhos, cortam brilho do marfim, escurecem cobre.

Se a mulher for colher trufas, nos anos seguintes, os lugares estarão marcados, pois nada crescerá neles. Pepinos e abóboras murcham.

Com todos esses problemas, mulheres que desobedecem aos interditos podem estragar uma festa de casamento, uma reunião em família ao fazer apodrecer um porco de cem quilos, por exemplo, que demora pelo menos um ano para crescer.

E, no fundo dos depósitos, nos porões, a mulher pode levar a casa à penúria, acabando com o estoque de banha, de gordura.

O sal nutre a gordura e é a imagem de um princípio masculino fecundador. A natureza feminina é mais forte que o sal. É um elemento de ruptura que pode estragar o que o homem produziu, a não ser que ela o cozinhe. Toda a parte do porco que é cozida compete à mulher, que é como as tempestades, agitada, desordenada. Um elemento natural.

Ao mesmo tempo, de tão fragilizadas pelas regras, não podem lavar roupa, devem evitar o que é frio, não podem ir ao cabeleireiro que o penteado não pega…

Naqueles dias, no entanto, o que cresce é o desejo sexual da mulher. É a época em que mais seduz o homem. “Força de sedução e força de infecção, tal é a dupla propriedade das regras mensais da mulheres” (Yvonne Verdier, etnóloga).

Loucas, vibrantes, sujas, descabeladas, frágeis, poderosas, ainda assim tinham que cozinhar. Pena, seria um pequeno, mas merecido descanso.

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Seu Severo e seu Estevão

Por Folha
13/03/13 03:00

Quando compramos o sítio, os meeiros eram os antigos donos. De tanto que gostavam de lá, iam ficando à medida que a terra mudava de mãos. Seu Severo e seu Estevão.

Seu Severo era da cidade, se é que se poderia chamar de cidade a Paraty daquele tempo. Não aguentava o movimento e passava a semana na roça, que era o sítio, a dez minutos da cidade. Tinha lá um açougue, que deixava na mão de um dos filhos, e no domingo descia para visitar a mulher. Era um velho muito bonito, forte, olhos azuis como contas de gude, cabeleira farta e branca.

Seu Estevão era amigo dele. Acho que se conheciam desde a infância, e era o empregado e não era. Só se podia desconfiar que sim, pois andava sempre atrás dele. Morro acima, morro abaixo, conservava mais de metro de distância, numa hierarquia quase real.

O que faziam? Tudo. Dia após dia, era o bananal que tinha que ser cuidado como um navio. Acabado de limpar, era hora de começar. Usavam botas por causa das cobras, sempre respeitando a distância canônica de um atrás outro na frente.

Tínhamos horta, nada de se orgulhar muito. Plantavam feijão e mandioca. A casa deles era daquelas típicas, muito branquinhas, janelas azuis e o terreiro varrido à exaustão. E as poucas panelas rebrilhando e florzinhas espalhadas de um jeito que nenhuma paisagista conseguiria imitar. Eram tufos coloridos nascendo da terra seca, ora encostados na casa, ora sozinhos pelo caminho. Nunca cheguei a entender a estética das boninas nem daquelas marias-sem-vergonha.

Quem cozinhava era o Estevão, mas não soltava segredos. Ria com a mão na boca ou, melhor, sorria e miava qualquer coisa quando eu perguntava sobre o peixe seco dependurado no varal. O arroz tinha um bom toque vermelho, e o feijão era o mesmo que levava para nós, macio de tudo e dava um caldo grosso.

Uma vez me botei atrás do Estevão enquanto cuidava das galinhas para descobrir como é que sabia quais ovos deveria pegar. Ele, na frente, ia se abaixando, pegava o ovo, sacudia no ouvido e ou colocava de volta ou pegava. Explicações, zero. Eu tentava ouvir as profundezas do ovo, mas nada. Ele tinha uma língua que soava como latim antigo para mim. Em matéria de ovos, ele declinava. “Os óvi”.

Nem dava para acreditar era no dia de fazer farinha. Serviço do qual seu Severo não participava, só o Estevão com a ajuda de alguém. Ele combinava como um cromo no meio daquela tralha de madeira antiga até que surgia, no fim, recoberto de pó branco, cabelos, bigodes e tudo, e a farinha era fina e saborosa.

Seu Estevão morreu primeiro, na Santa Casa, aquela construção antiga junto ao rio, com a imensa árvore de fruta-pão de folhas abertas e espalhadas. À noite, a lua se planta ali em cima, e sei que o Estevão deve gostar de ver a cidade assim, lá no cocoruto do cemitério, com vista ampla do mar. Mar, que eu saiba, do qual ele nunca chegou perto.

O Severo não aguentou a morte do amigo. Foi definhando, mudou-se afinal para a cidade, apequenou-se. Já não achava graça em nada e morreu na cidade mesmo, respeitado por todos, pai de muitos homens e só uma filha, se bem me lembro.

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Tomates, flashes vermelhos

Por Folha
06/03/13 03:00

 Tomates. Lembro da primeira vergonha que passei na escola, chegada do Rio e falando “burracha” e “tumate”. Acho que nunca gostei muito de tomate, talvez pelo trauma. Não que os odeie, mas, na minha cabeça, deveriam ser mais gostosos.

Nem paro muito para pensar neles, não conheço os nomes. Sei que uma vez por ano, muito maduros, servem para um molho que faço para massas, com bastante alho e azeite, sem um pingo d’água. E os tomates têm que ser completamente maduros, senão estragam tudo.

Detesto quando a pizza está encharcada de molho ou quando as panquecas caseiras nem deixam ver sua pele bege. Há que ter cuidado. Bem pouco molho, por favor!

Claro que não resisto aos pequeninos, que se encontram no pasto, na frente da casa de Paraty ou em qualquer lugar, súbitos, de presente, estalando na boca. E o cheiro de tomate pisado, meu Deus, não tem igual.

Depois que apareceram os tomates-cereja, cada um de uma cor, acho graça neles, especialmente para a salada. Acho graça. Gostosos mesmo, não os acho.

Da infância, brotam dois sanduíches. Um de pão de fôrma branco, com tomates e maionese feita em casa. Sanduíche para não botar defeito, principalmente em madrugadas famintas. E, numa frigideira bem pequena, tomates e queijo, até que o tomate se desmanche, e o queijo comece a queimar nas beiradas.

Prometi à minha cunhada uma receita de lasanha que ela própria fez há uns 30 anos e da qual nunca me esqueci. Quando dei com quatro páginas em letra miúda, não sei se ela vai querer repetir a dose. Lasanha é tida como brega. Brega quando é ruim e quase todas são porque ninguém faz mais desde a massa até a carninha com fígado de frango.

E os tomates, então, precisam ser tão bons que acho que só existem bem pequeninos, no Peru, onde nasceram. Pois não tem gente que vai ao Peru e fica perdido por trilhas procurando esse ªUr-tomateº, que misturado às sementes dos que temos daria um sabor diferente, nada azedo, só um pouquinho de doce com outro pouco de ácido? E o cheiro, bingo, o que falta no tomate é o cheiro! Perdemos o cheiro!

Na Inglaterra, toda velhinha que vai ao museu, no frio, depois se senta no restaurante e pede sopa de tomate quente, que pinga no xale.

Ah, mas a única sopa fria que brasileiro aguenta é gaspacho. Sempre pedi suco de tomate temperado nas boates de outrora, questão de regime, e, quando o garçom vinha chegando com ele, me arrependia totalmente, pedia que cobrasse e que me trouxesse uma vodca bem gelada.

Conheço uma Leila que tempera suco tão bem que você pode passar a noite tomando copos. É bom durante uma festa pancada, daquelas de casamento de 500 pessoas, em que tomar vodca seria impensável, mas o suco da Leila, esse é demais.

Lembro de uma vez que vi um alemãozinho muito louro tirando da lancheira um tomate inteiro, puro, e mordendo-o com grande prazer. São flashes da vida que não se sabe por que nunca mais se esquece.

Bem, já viram que de tomate entendo pouco, quiçá nada, e é atrás deles que vou, fazer uma pesquisa, saber onde são cultivados, se é verdade o quanto de veneno que carregam para crescer. Ainda mais essa!

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As tarefas da fazenda

Por Folha
27/02/13 03:00

Nos Estados Unidos, fiquei um certo tempo, não mais que uma semana, numa cidadezinha bem no meio do Meio-Oeste, visitando os “pais” de meus filhos, casa onde todos haviam passado um tempo.

Nós recebêramos aqui os filhos deles, uma delas passou um ano do ginásio conosco. Lá, moravam numa fazendinha, a casa térrea fechada o tempo todo por causa do ar refrigerado e um bendito e maravilhoso lago cheio de peixinhos que te beliscavam dentro da água. Céu azul, pequenas plantações de abobrinha, de tomate, de pepino. Muitos cavalos appaloosa, que eram o hobby do fazendeiro.

Galinhas e patos a serem alimentados todas as manhãs, leite a ser tirado. E as tarefas da fazenda, por menores que fossem, eram tarefas, e as crianças simplesmente odiavam ter que fazer aquilo.

Sonhavam com outra vida, com McDonald’s e sorvetes e cinema e bailinhos e até estudos, mas sem a obrigação de plantar, plantar e depois colher e depois guardar tudo em vidros para o inverno pesando na cabeça.

Odeio abobrinhas e tive que plantar um monte, as costas doendo, ah. Será que mrs. Neder não desconfiava que eu era um rato de livros, achava lindo ler como plantar abobrinhas, mas o ato em si me deixava com a espinhela caída? Me sentia a perfeita cigarra enquanto a dona de casa era a formiga laboriosa. E um supermercado na frente, enorme, com todas as possibilidades…

Estávamos no auge dos tomates, na época, e até o marido, um dia, à mesa, pediu: “Será que não dá para comermos alguns frescos antes que vocês façam conserva de tudo?”

A ideia de lazer não era muito bem-vinda. Tinham que estar trabalhando o tempo todo. Adorei o processo de guardar tudo em vidros. Na verdade, depois que se pega o jeito, é muito fácil. Trouxe para o Brasil as tampas e tudo o mais, mas, com certeza, a novela me distraiu porque não me lembro de ter feito conserva de nada. E, além disso, nunca achei aqui aquela rosca da tampa do tamanho que eu precisava e me contentei em fazer picles.

Mas como eram práticos em outras coisas. À noite, os pratos eram de acrílico ou plástico mesmo, uma coisa bonita, não aqueles pratinhos de aniversário de criança. E ao acabar o jantar, ó felicidade, um belo saco de lixo, e a mesa se esvaziava sem pia cheia. E o que se faz de piquenique! Cheguei à conclusão de que piquenique nada mais é do que um jeito de se livrar da louça. Sanduíches, salsichas em churrasco, frutas e acabou-se a trabalheira.

No dia em que vim embora, foram me levar ao aeroporto sem café da manhã, coisa que me assustou, pois não existo antes do café. Pois não é que logo depois de termos saído, surpresa! Pararam o carro, toalha xadrez vermelha no capô e “doughnuts” de todos os tipos com uma garrafa térmica de café.

A vinda dos pais ao Brasil foi um fracasso. Primeiro, a falta de trabalho caseiro. O pai era tão grande que tinha que dormir atravessado na cama. Não acharam graça dos cavalos do jóquei porque era jogo, contra a religião deles. Em Paraty, não é que chegaram na praia umas cinco meninas de topless? Que remédio, cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso.

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Querem um buffet balatinho?

Por ninaghorta
20/02/13 20:41

Leitores! Amigos! Tenho que confessar. Não consigo acessar a parte administrativa do meu blog há quase um mês devido À MINHA IGNORÂNCIA DIGITAL. Aconteceu alguma coisa, acesso o blog mas não a parte administrativa, sou leitora dele.

No Carnaval quis comentar 500 coisas, tinha textos inteiros sobre as escolas de samba, queria falar sobre uns livros que tenho lido e nada!!!! Agora até perdi o jeito, mas resolvi mandar para a equipe que controla os blogs, na Folha, e eles vão publicar para mim. Vejamos se dá certo.

Amanhã começo outra vez, é o que espero, só vou contando uma novidade que estou adorando. Restaurantes e buffets sobre rodas, volantes. Como se fosse um ônibus, lá dentro tem câmara fria, pia, fogões, pranchas de trabalho e zuim!!!! Você estaciona em frente, junto de onde vai trabalhar, quase se acopla ao lugar, e quando acaba o jantar, ou a festa, ou o que for, fecha a porta e sai feliz da vida guiando o seu ônibus. Por mim já faria um segundo andar com cama e TV e ficava mundo afora, aprendendo e ensinando e festejando.

Outros caminhõezinhos são restaurantes, mesmo, fazem um tipo de fast food só pelo fast, porque todos têm certas veleidades de cozinharem gourmet food. Botam umas mesinhas na frente, os que querem se sentam, mas a maioria come em pé mesmo ou leva para casa.

Dá uma idéia de liberdade, não dá? Como as Kombis que vendem cachorro quente só que grandes e otimamente aparelhadas. Enjoou daquele pedaço, está se sentindo abafado, preso? On the road.

Ainda não vi aqui em São Paulo, é claro que é coisa de americano, aliás, vi sim, mas só no Google, é um buffet sobre rodas, todo arrumadinho, muito esperto, mesmo.

Por falar em Google andei dando uma pesquisada em preços de buffets. A internet mudou completamente o acesso aos clientes, jamais vou falar mal dela e voltar ao fax, mas a chegada de pedidos para festas é de um tamanho que quase é preciso um funcionário para responder às pessoas que não vão fazer festas.

E os preços que eles mencionam querer gastar? Converso com o cliente que quer um casamento, com coquetel e jantar. E ele me diz que quer gastar quarenta reais. Acho engraçado e pergunto a ele quanto gastaria para comer um sanduichão e duas cervejas e gorjeta, e ele responde “é mesmo”!  E eu lembro a ele dos garçons, do transporte, dos buffets, do coquetel farto, do jantar, da sobremesa, do café com biscoitinhos….Ele continua afirmando que teve propostas com esse preço baixo.

Tento afirmar que é bom que se certifique bem, etc, até loguinho, prazer em conhecê-la, etc e tal.

Aí quem fica grilada sou eu. Foi então que fui ao Google. Meninos, achei um buffet de R$20,00, por pessoa. É em Guarulhos, tem site arrumado, fotos de casamentos… Ai, ai, ai….

Já viram o cardápio desses buffets? Quase tudo em francês, sem erros, um coquetel de vinte peças no mínimo, moderno! Muito bem organizado e impossível de ser desmascarado porque gosto não se discute, e se eles conseguem fazer por esse preço sorte de quem os acha, e azar de quem faz a festa, contra todos os princípios do bom senso e da lógica.

No caso eu estou simplesmente reclamando contra o tempo que a Internet nos faz perder com esse tipo de coisa. No restante, é uma benção.

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Colcha de retalhos

Por Folha
20/02/13 03:00

Há que se pensar nas pautas do ano que chegou. Os assuntos que se apresentam são interessantes.

Vamos ver se nos lembramos de todos, e o leitor pode ajudar mandando e-mails com suas histórias.

1- Brigas na comida. Quais são elas? A mais perigosa, por ter adeptos ferrenhos de todos os lados, considero os animais e sua morte. No céu, na água e na terra.

2- E o que significa mesmo a palavra “sustentável”? É fácil comer sustentavelmente? Quais os problemas, como sair deles?

3- Outro assunto candente que envolve escolas e pais é o fast-food. Como fazer para que a criança não se entupa de açúcar, de sorvetes, de chocolate, de biscoitinhos gostosos e coma muita cenoura? Esse dá panos para manga, pois é preciso ser “diferente” para puxar da lancheira um tomate e um ovo cozido em vez de comprar na cantina um hambúrguer com batata frita.

4- É possível voltar a plantar e a comer o se que planta? A nostalgia pela vida do campo tem bases sólidas? Você trocaria hoje a garrafa de leite, o café de máquina, o pão da padaria por ter que ordenhar a vaca, plantar, colher, secar, moer o café, fazer o pão com suas mãos criativas? Será que a vida do campo era mesmo melhor? Para a maioria, a utopia do campo seria impossível pela nossa ignorância a respeito.

5- O sabor da comida. O que fazer para que o tomate tenha o mesmo gosto do qual alguém se lembra, na infância? Ou daquele tomate do jardim que quando se pisa nas folhas solta um cheiro de tomate, de tomate de verdade, como foi feito por Deus? E que não tenha sofrido influências de biologia molecular, sequenciamento de DNA, modificações genéticas.

6- Os restaurantes e as novas máquinas cheias de tecnologia que ajudam a cozinhar. Técnicas, equipamentos, “sous-vide”, centrífuga, nitrogênio, esferificadores, alginatos. O quanto podemos levar dessa onda para a nossa cozinha de casa e se vale a pena… E o dinheiro gasto? Será a cozinha do futuro?

7- Comidas muito experimentadas e que deram certo. Suas receitas passo a passo só são possíveis nos blogs. Os textos costumam ser enormes e não há espaço em jornais, revistas e mesmo em livros.

8- O crítico de comida, quem é ele? Tipos de crítica. Prós e contras. Os guias, os blogueiros. Restaurantes e a moda. Você sabe escolher o restaurante aonde vai? Quanto tempo vive um restaurante da moda? O que é um bom restaurante?

9- As comidas do mundo inteiro. Misturar tudo ou só fazer a comida com os ingredientes da terra?

E muita coisa mais, com certeza, mas são essas as de que me lembro no momento. Sei muito bem do que o meu leitor gosta.

10- Reminiscências. É uma enxurrada de e-mails quando se fala do passado. Aquela bala paulistinha, colorida que ia ficando uma agulha fina na boca, seu azedume, opa balinha ruim! E sei do que não gosta, que é do que mais gosto –resenhas de livros que dificilmente serão publicados aqui, resenhas em geral e restaurantes fora do Brasil.

Agora, se estiver muito bem escrito, se der um clique, o assunto pode ser qualquer um, que toca o coração do leitor. Vamos tentar o melhor.

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Bichos fora do mato

Por Folha
13/02/13 03:00

Depois da lei de que não se pode cortar uma árvore, aquele meu pedaço, pelo menos, da serra do Mar, em Paraty, virou mato, mesmo, mata cerrada. Aparecem cabecinhas de macaco por onde se anda, uns “miquinhos” que nem sei o nome que vieram alegremente se juntar aos pernilongos, às pererecas, aos morcegos, às cobras, às aranhas e aos gambás. Esses são os bichos que na nossa cabeça deveriam morar lá fora, no mato, mas que vira e mexe vêm nos fazer companhia.

Vamos nos conformando, mas fiquei surpresa ao dar com o livro “Nature Wars”: a incrível história de como, com o retorno da vida selvagem, os quintais se tornaram campos de batalha. O autor é Jim Sterba, editora Crown.

Livro de americano, realidade diferente da nossa, mas com muitas aproximações. Jim Sterba afirma que estamos perdendo certos direitos de propriedade para as criaturas selvagens. Parece que criamos um estilo de vida “bunda-no-sofá” e assistimos à natureza no canal Discovery. Não sabemos nada sobre florestas, quem são os bichos, como devem ser tratados. Pensamos que as galinhas já nascem depenadas, pescamos os peixes e os jogamos de volta ao mar com um beijo na boca. O que terá acontecido?

O autor acha que muito pouco tempo se passou depois que promovemos a extinção e a destruição de florestas e animais selvagens.

Nos Estados Unidos, o conservacionismo começou em 1880. Em 1950 já havia chegado a um bom nível de reflorestamento. E, em 2000, a maioria dos americanos morava em subúrbios altamente preservados, ou melhor, reflorestados.

Nas décadas seguintes, criaram-se habitats em áreas rurais e foram reintroduzidas espécies em extinção. Deu certo por um período, mas começaram a perceber que algumas espécies não só se adaptavam, mas cresciam em número muito maior do que em seu próprio habitat. Principalmente porque nós, antigos predadores, passamos a protetores.

Essa mistura de homens, florestas e bichos nunca havia alcançado proporções semelhantes. Os mantenedores de vida selvagem se concentraram em manter populações saudáveis e os protetores dos animais se empenhavam em salvá-los do predador humano. Nenhum dos grupos estava preparado para o excesso de vida selvagem e à interação dos homens com os bichos.

Protetores de baleias, gatos, raposas, lobos, atum, bacalhau e mais e mais formaram exércitos proclamando que o seu bicho estava em extinção. Grandes campanhas foram feitas e o trabalho dos conservacionistas é sério e intenso.

Formaram-se grupos diferentes como os que são totalmente contra a morte de animais em benefício de qualquer ser humano. Grupos que não fazem objeções ao uso responsável de animais, contanto que eles não sofram. E outros que rejeitam a filosofia de direitos animais e acreditam em um uso responsável.

O assunto do livro é esse, a discussão, reflexão e constatação de como andam as coisas. Essa é uma pequena e incompleta resenha sobre um livro interessante. Não são opiniões minhas e não responderei a e-mails de ódio. O livro pode ser comprado na Amazon.com.

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Ninguém manda em mim

Por Folha
06/02/13 03:00

Meu Deus, vocês não imaginam como sou apegada à Amazon americana. Desde que começou, nunca deixei de comprar meus livros de cozinha lá. E, quando viajava, confesso que, ao passar numa vitrine de livraria, sorria ao ver que não havia unzinho (bom) que eu não tivesse, compradora compulsiva que sou.

E jamais me desapontaram. E jamais deixaram de me responder. E sempre perdoaram meus erros. São meus amigos, ou melhor, eu sou amiga deles, prima, irmã, vítima talvez.

Quando a campainha toca e é um daqueles embrulhos pardos, dá um calor no coração. E o Kindle, juro que posso chorar de alegria ao precisar de um livro e obtê-lo no mesmo segundo, inteirinho, brilhante, com capa e tudo, e fotos, caindo virtualmente no meu colo. Demais.

Os milhares de livros sobre alimentação que saem no mundo estão lá. Tudo, uma pequena tese sobre mandioca, um maluco que cozinha no mato para testar a sobrevivência, cozinheiros assassinos.

Então, venho dizer que a Amazon que se estabeleceu aqui não está fazendo um bom marketing de si própria. Vejo por mim e por todos os meus fraternos amigos. Toda e qualquer possibilidade de fazer parte da Amazon daqui nos apavora. Se me pedem para preencher alguns dados eu literalmente caio da cadeira, fecho o computador de tanto medo. Perigo, olha o golpe, lá vem o tiro mortal, fecha a porta, o bicho chegou. É vírus, não quero. Por quê? À toa, porque não quero. E, se eu não quero, ninguém pode me obrigar.

Comprar os livros brasileiros aqui, maravilha, seria a minha falência, mas maravilha. Eu preciso de um monte deles que a Amazon americana não tem.

E como é que ela vai se comportar aqui? Cheia dos truques? Igual à outra? Vou perder minha assinaturas de jornais e revistas americanos e ingleses? Não é possível. Se não é, então expliquem.

Mas, para tornar o assunto mais curto, recebi da Amazon (a minha, a de lá), o nome de um livro de um chef tailandês, que escreveu suas memórias e é um cara de linguagem supercriativa –tanto no que escreve, quanto no que fala e no que cozinha. Pois não sei a que alturas do pedido desse livro preenchi, com certeza, meu nome e endereço, pensando que era a Amazon americana que estava me pedindo. E, quando vi, era sócia da Amazon daqui e não mais de lá. Errei? Erraram?

Acontece, ás vezes. E leitores, leitores caros, fiquei dois dias louca, triste, deprimida, furiosa. Afinal, reviravolta geral, consertou-se a coisa, voltou tudo como dantes ao quartel de Abrantes. Já posso, outra vez, comprar lá fora. Ufa!

A Amazon é um porto seguro, do qual eu entendo, sou quase casada com o Jeff Bezos. E não quero me divorciar. Se eu não puder continuar comprando livros lá, mudo para Anna, Illinois, lá no “meinho” do Midwest, nem tem no mapa.

Sei que, com o tempo, eu me acostumaria com a Amazon daqui. Provavelmente ela é idêntica à de lá. Mas, só quando eu acreditar.

Por que não posso ser sócia daqui e de lá? Sopa no mel. Por enquanto, não quero. Por trás fica aquele medo de ter de cozinhar só com o livro da Dona Benta, que, infelizmente, detesto. Nasci “fusion”.

 

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Meu almoço nas férias

Por Folha
30/01/13 03:00

Nas férias o almoço obedece a um certo ritmo. É preciso esperar que todos cheguem, a cozinha já está a postos. O primeiro a sair do banho lê os jornais numa marquesa cheia de almofadas brancas que chamamos de UTI, pois é o pouso dos meio doentes que querem participar da confusão. Outro fica na poltrona, sem direito a amendoinzinhos ou uísque, talvez uma tragada de cachaça, que assim é o costume da casa para que não percam a fome.

Todos começam a aparecer de cabelos molhados pelos ombros, caras esfregadas, cheiro de sabonete Phebo. Os que preferem cozinhar e tomar banho depois sofrem com a areia dentro do maiô e a canga escorregando. Depois são privilegiados com banho de banheira, morno, e sabonete Floris, eterno e que não perde o cheiro.

Limpos de corpo e alma, os que vieram do mar parecem se sentir mais morenos, saudáveis e se oferecem para abrir o vinho. Trouxeram consigo um pouco da energia do mar.

Os da cachoeira, que desceram a ladeira, equilibraram-se em pedras, agarraram-se nos ramos de patchouli, escorregaram no musgo e, de repente, sentiram aquela massagem de Deus nas costas, aquela surra de água fria, ainda estão meio ligados à experiência de pertencer ao jequitibá centenário, aos coqueiros, e às pedras escorreguentas. Estão mais quietos, pensativos.

Na cozinha, o tlim-tlim da louça é baixo, espera ordens para subir o tom, para que tudo se precipite, afogue-se, aqueça-se, alastre-se, enrole-se e que do caos brote a ordem.

A couve foi colhida pela manhã na hortazinha. (Já pensaram se eu escrevesse aqui couve orgânica e sustentável? Acabaria com o almoço, transformaria tudo num clichê de plástico e mudaria o gosto da couve estrumada e regada.)

Um pó dourado de luz (coisas de Paraty) bate na pimenteira que teima em subir até a janela da cozinha, todo ano. Magrinha, é quase uma trepadeira de pimenta de passarinho.

Em um ano arde muito, no outro não.

As mulheres usam roupas claras, decotes, alças, shorts.

E, de repente, está na mesa! Não está, mas vai ficar em minutos, daí o corre-corre.

Aquecer o feijão, provar, fazer a farofa na manteiga, cuidado para não queimar, frigideira de ferro é um perigo. Vamos cortar o lombo gordo em fatias? Melhor não, cada um corta a sua.

Você corre lá e põe as bilhas de água gelada no aparador. A couve é a última e ponha sal antes de ir à panela, senão ele não se distribui direito. E é só um susto, hein? O camarão trazido do mar leva seis minutos para fazer, deixa que eu faço que tenho prática. Quem quiser põe o caldinho no arroz, fica ótimo.

E o suco de mixirica do Rio?

O almoço foi longo, afogado em bem-estar, fartura e malemolência. Sandra traz o café na canequinha de ágata numa bandeja pintada de bananas. Detesto aquela bandeja, mas ela já tem uns 20 anos. Todos bebem, dobram as redes sobre si para evitar mosquitos, e até o que lia as notícias do dia se esquece do discurso do Cameron.

Ah, a sobremesa eram bananas fritas com creminho de gema e suspiro por cima.

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Confie no seu nariz

Por Folha
23/01/13 03:00

Tenho recebido mensagens estranhas por e-mail. Agora mesmo chegou uma com o tópico: “Onde estão os óculos da vovó?”

A mensagem era uma pergunta: O que significa “glasses”? E dava as alternativas: 1- óculos; 2- explica;  3- falido; 4- protótipo.

Posso responder intuitivamente experimentando cada palavra. Onde estão os “explica” da vovó? Onde estão os “falido” da vovó? Ou onde estão os “protótipo” da vovó?

A pergunta, se notarem bem, é extremamente delicada. Ela quer que você acerte e que não passe pela humilhação de se mostrar um asno respondendo que “glasses” quer dizer “falido da vovó”. Quer dizer “óculos da vovó”, como está explícito no tópico “os óculos da vovó.”

Imagino que a pergunta nada mais queira do que me deixar feliz. Que tenha sido feita num esforço positivo, que queira reforçar a ideia de que levo jeito, de que posso me inscrever em algum curso de inglês que não vou fazer feio. Vou enfrentar o professor, as lições de casa, mas tudo será fácil para mim, porque sei que a vovó perdeu os “óculos” e não os “explica”. Os “protótipo” da vovó também estão seguros, ela só
perdeu os óculos.

Vocês repararam que já se foram 15 minutos somente com essa reflexão produtiva? A internet nos apronta muitas dessas, poderia continuar listando. Não estou nem procurando, é um e-mail atrás do outro.

“O seu cachorro come cocô?” –com este levei até susto, é muita intimidade! Não vou tirar a privacidade do cachorro assim, online, coitado! Aqueles que gostam de reclamar ao se sentir muito expostos na rede podem começar a mandar aquelas correntes de adesão para os cachorros também.

O melhor é ir direto para os textos bons, que nos interessam, e fazer propaganda deles. Todos nós temos obrigação de compartilhar as coisas boas da internet.

Tem um blog novo, sobre perfumes, do Denis Pagani, que é tudo de útil para quem quer comprar um perfume. Mas também para nós, cozinheiros, que sempre precisamos afiar o nariz. São novos em folha, o blog e o dono dele. É o 1nariz.com.br.

O Denis Pagani escreve bem, e o assunto que escolheu é um achado, num texto vivo, inteligente e engraçado. Parecia difícil comprar perfumes. Agora, podemos ser experts e até aprender a usar o vocabulário dele para nossas comidas.

Temos a descrição, o esforço de trazer aos nossos narizes um cheiro. Olhem só um pedaço que dá conselhos a machões para que não errem ao comprar um perfume: “`Fougère’ significa samambaia em francês, mas deve ser entendido de modo evocativo: eles partem da lavanda para conseguir um efeito herbal, verde, às vezes amargo como tomilho, às vezes mentolado, pontudo, como pinho e eucalipto.

Fica impossível não associar com produtos de limpeza: sabonete, pós-barba, desodorante, às vezes Pinho Sol. Ou seja, pode ficar vulgar (barato ou comum), confie no seu nariz e disposição. São perfumes de peito cabeludo, barba cerrada, talvez camisa aberta e correntes, para despertar o George Clooney em você”.

Gostei do adjetivo “pontudo” para cheiro. Na cozinha tem uns cheiros bem pontudos, não tem?

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