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Nina Horta

Perfil Nina Horta é empresária, escritora e colunista de gastronomia da Folha

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Que tal abrir um buffet?

Por Nina Horta
01/05/13 14:22

Vamos conversar de buffets. Conversa para vocês que têm vontade de abrir um negócio. Não se preocupem com minhas risadas e queixas. É mais um gênero, um modo de escrever. A profissão, imagino que seja como qualquer outra que sirva o público…talvez um pouquinho mais perigosa…  Estamos falando do buffet que sai de sua cozinha para servir em casas particulares, em clubes, em fazendas. Não fornece somente a comida, que geralmente é feita no lugar da festa, mas também a louça, os cristais, os talheres, o serviço de cozinheiros, garçons e copeiras, e pode incluir no seu trabalho mesa, cadeiras, toalhas e flores.

Atualmente em São Paulo há o mundo dos organizadores de festas que se encarregam de contratar os serviços do buffet e dos outros fornecedores, tirando do cliente toda e qualquer preocupação sobre a festa.

Quem é que o buffet atende? Dificilmente o buffet atende a todos os tipos de pedidos. É mais fácil se especializar, mas com muita eficiência conseguiria abranger os que querem festas muito grandes e comida muito barata, o cliente que não se importa com preços mas quer o melhor possível em todos os setores, e o cliente do meio, nem tanto ao mar nem tanto à terra.

Precisamos inventar um nome para o bufeteiro, o “caterer”, mas, por enquanto vamos chamá-lo de festeiro. O festeiro é quase por definição um ansioso. Se você é dono de um restaurante, pode chegar um dia que quer fechar a porta e ficar em casa descansando, com os pés para cima e a TV ligada. Não vai fazer isso mas pode. Alguns clientes bateriam com a cara na porta fechada e não o perdoariam. Só.

Já o festeiro e seu exército de Brancaleone obrigatoriamente precisam estar no lugar do casamento. Aquele dia é o único, o batizado é o único, a formatura é a única, ele não pode deixar os clientes na mão.  Casamentos, por exemplo, são festas pensadas e repensadas pelos pais dos noivos, pelos noivos, durante um ano inteiro, ou mais, e precisam ser o mais próximo possível do perfeito.

E a história mais complicada  é que o campo de trabalho do festeiro é minado, por mais que ele se esforce. Trabalhando cada dia num lugar, não conhece a fundo  os problemas que podem acontecer. Por isso a necessidade de chegar muitas horas antes ou mesmo um dia inteiro antes para que durante os preparativos já possa imaginar os estrondos que podem surgir de campos aparentemente pacíficos.

Os exemplos desses problemas podem ser feitos em crônica mais amena para não matar de susto os clientes em perspectiva de buffets e os próprios candidatos ao trabalho. No próximo post veremos alguns.

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Problemas de um buffet sem teto.

Por Nina Horta
01/05/13 14:20

Um problema grave de trânsito, uma ponte caída ou fechada com um desastre. Daí a necessidade de se sair muitas horas antes. Na maioria dos buffets, todos os que vão trabalhar devem estar no lugar no mínimo 4 horas antes quando a festa é na mesma cidade, e em festas fora da cidade, conforme a distância e os preparativos, um dia antes.

Falando a pura verdade a maior qualidade de um festeiro é rapidez de raciocínio, criatividade, para contornar  bombas relógio antes que elas estourem e estraguem a festa.

Tudo pode parecer exagero, mas não é.

Uma grande empresa, mundialmente famosa, resolveu abrir uma fábrica em Ribeirão Preto. Na época estava em voga uma bolha. Isso mesmo. O dono da festa arranjava um lugar plano e os donos da bolha de um material que não me lembro, mas leve e flexível, a enchiam de ar um dia antes. Cabiam 1000 pessoas naquele espaço que funcionava como um restaurante. Só que a brigada nunca havia trabalhado num balão.  A visita técnicas era impossível, pois a bolha só era enchida na véspera e ficava lá deitada no chão como uma lagoa sem água.

Quando foi chegando a hora da festa via-se as ansiedade dos donos da bolha. Ela não se enchia quando ventava. O mundo tinha que estar parado por alguns momentos. Mas foi enchida.

E como era a porta? É claro que teríamos que ter pensado que a porta não poderia ficar aberta nem se abrir a toda hora pois o ar escaparia. Os garçons se comportaram como atletas de esportes perigosos. Se jogavam com as bandejas no abismo absoluto, escuro, pois as portas eram dobradas de tal jeito que não se escapasse uma gota de ar a cada entrada deles. E não era um coquetel, era um jantar de mesa posta!

Mas, perguntariam vocês. Por que teriam que entrar? Já não estavam lá dentro? Não! Na última hora  foi proibida a entrada de fogões na bolha. Como cozinhar para mil pessoas sem cozinha? Foi armadas fora, ao ar livre (ufa), e os garçons entravam com as bandejas prontas para aquela loucura. Todos nós havíamos avisado aos parentes que se ventasse muito deveriam olhar para o céu e se despedissem se vissem um enorme, inacreditável balão singrando os céus.

Outro grande perigo são duas festas ao mesmo tempo e os caminhões levarem a comida de Campinas para Bauru e a de Bauru para Campinas. Mesmo que não seja toda a comida, mas um prato principal, os acompanhamentos de outro, extremamente aborrecido.

As chuvas e tempestades que alagam a rua, carros boiando, convidados telefonando que não vão poder chegar.

Travessias de balsa complicadas, mudanças de maré em ilhas, ai, meu Deus, melhor mudar de assunto.

O casamento na casa que está para alugar e que os donos resolveram lavar tudo e ainda encher a piscina. Resultado, festa sem água. Aliás, festa sem água acontece muito, já tenham no bolso o telefone do carro pipa.

São problemas complicados e que devem ser evitados a todo custo. A visita técnica deve se prolongada, a conversa grande, as perguntas muitas para que se tente evitar problemas que podem acarretar o fechamento do buffet. Nada menos do que isso!

E virão outros problemas, logo depois, como as artes de Juca e Chico.

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O que mais queremos?

Por Folha
01/05/13 03:00

Achei graça no Facundo Guerra, novo sócio do Alex Atala no bar Riviera, que ficou todo feliz quando ele foi escolhido como um dos cem mais influentes do mundo pela revista “Time”. Imagine ficar sócio de alguém e, na semana seguinte, ele emplacar um título desses. Vai ter sorte assim…

Li um livro há alguns dias, “Faça Acontecer”, de Sheryl Sandberg, e parece até que é o meu livro preferido na vida. Não é. Coincidência.

Me impressionei com a descrição da “síndrome da farsa” que a autora descreve nas mulheres. Quando se tornam famosas, sofrem de um medo absoluto de que alguém descubra que, na verdade, são farsantes, que não sabem nada daquele assunto que as projetou e querem morrer de vergonha por estarem se prestando àquele papelão. Mulheres.

Os homens já aceitam com naturalidade e seguem em frente. Fazem acontecer, o que seria um bom slogan para o Atala.

Imagino que, se eu fosse o Alex, ao pegar o jornal, tomando café, e desse com a escolha como um dos cem mais influentes do mundo, quando não consigo nem que o cachorro me obedeça, correria para a cama de novo e tamparia a cabeça com o cobertor. Ou me instalaria debaixo da cama. Se, por acaso, saísse do esconderijo um dia, imediatamente faria como o Pelé e começaria a me tratar na terceira pessoa do singular, como um ser diferente.

Diria “o Alex vai hoje ao cinema para arejar a cabeça”, “o Alex quer mais galinhada, por favor…!”.

Como tive a sorte de elogiar e gostar de verdade do Alex Atala desde que ele era pequeno e fui seguindo a carreira que foi se tornando sólida, coerente, inteligente, gostosa, interessante, tenho autoridade para falar bem dele agora e até talvez ganhe um pouquinho mais de farofa de iogurte na sobremesa.

Não, não foi o lobby do sistema marqueteiro que o levou até lá. Para falar a verdade, acho que esses lobbies nada mais fazem do que descobrir o que é bom e mostrar o achado com mais ou menos exagero. Queria ver qualquer rede de marketing elevar uma péssima cozinheira a melhor do mundo e mantê-la lá.

A única diferença do passado, no caso, foi a inclusão de cozinheiros junto com pintores, atores, atletas, beldades, empresários, papas etc. e tal. Parece que o mundo quer alguém atento, curioso, com o poder de transformar e tenacidade de se mostrar.

(Acho muito simpático o Daniel Redondo, marido da Helena Rizzo, que é uma potência de cozinheiro e que, mesmo depois de descoberto, quando começa a caça para torná-lo celebridade, só geme “déjame tranquilo” e se esconde como um avestruz. Tranquilo, Daniel, isso também é uma técnica!)

O que mais queremos? Uma comida que, pelo menos, mostre nossos ingredientes e o modo como são trabalhados aqui, de preferência, aproveitando as inovações pelas quais passa a cozinha. Queremos beleza na apresentação! Beleza pura!

Que os chefs não só cozinhem, mas atentem para a questão da comida, naturalmente, sem estardalhaço ou didatismo exagerado. Que tenham generosidade para aprender e ensinar. Se além de tudo forem bonitões, ponto pra eles.

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Cardápio de Downton Abbey

Por Nina Horta
24/04/13 17:56

No artigo da Folha comentei a cozinha de Downton Abbey, e vamos lá a algumas
receitinhas da série. Isso é, o que comeriam aquelas pessoas naquela época.
É inacreditável a quantidade de assunto que uma novela explora!
Tenho o livrinho de cozinha de Downton Abbey, não autorizado, de Emily Ansara Basynes.

Se quiserem alguma receita estou às ordens, mas não são nada de diferente, qualquer
antologia deve ter.

Para as entradinhas antes do jantar, os hors d´oeuvres.

Ostras grelhadas com manteiga de alho e limão

Mousse de salmão defumado.

Mexilhões no molho

Batastas com caviar e creme fresco

Canapezinhos de caranguejo de Lady Mary

Cogumelos recheados

Tarteletes de anchova e cebola

Crackers de aveia com alecrim

Canapés de pepino e caviar

Ostras Rockefeller

Tarteletes de Roquefort e figos.

Uau, não mudamos muito nesses coquetéis. Passei a implicar com eles de um tempo para cá, mas ninguém me ouve, parece que todos gostam.


Vejamos a sopa seguida por um peixe.

Sopa de cogumelos

Sopa de castanhas

Creme de aspargos

Sopa Mulligatawny

Sopa de tartaruga

De peixes

Salmão poché com molho holandês

Salmão de Daisy com molho de mostarda e lentilhas

Bacalhau fresco com croûtons de parmesão

O terceiro prato

Bifes grossos e suculentos

Perna de cordeiro recheada com molho de amêndoas e figos

Steak au poivre

Beef Wellington

Assado de porco

O quarto prato

Assados, caça e saladas

Vitela Príncipe Orloff

Codorna com molho de figos

Salada de espinafre com queijo de cabra, nozes tostadas e peras

Creme de caranguejo e salada de salsão

Galinha assada recuperada do chão

Pato assado com molho de amoras

O vegetal

Batatas a Lyon

Couve de Bruxelas com castanhas

Repolho vermelho no vinho tinto, ao forno, com maçãs.

Aspargos assados com balsâmico com manteiga e sal marinho

O final- Sobremesas

As sobremesas são as nossas de sempre, principalmente as francesas; bolos e mousses de
chocolate,Büche de Noel. Ovos Nevados, salada de frutas, merengues, torta de maçã

Chás

O chá é bem interessante por não termos o costume do chá das cinco que é uma obsessão
com os ingleses

Sanduíches de salmão defumado

Sanduichinhos de pepino

Scones com creme

Sanduichinhos de ovo

Shortbread de açúcar mascavo

Cremes de maisena e ovo.

Biscoitinhos de nozes

Creme de limão

Morangos cobertos de chocolate

A comida dos empregados nos dias de hoje está mais na
moda do que as
dos patrões

Kippers, ovo frito e batatas ao alecrim

Kedgeree picante.

Rins recheados

Mingau de operário

Lingua

Feijão ao forno para o breakfast

Sopa de cebolas

Sopa de rabada

Sopa de lentilhas

Picadinho de carneiro

Carne moída com purê de batatas

Torta de galinha e de cogumelos

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A vida de uma casa

Por Folha
24/04/13 03:00

Alguém já viu o seriado “Downton Abbey” (GNT, às quintas-feiras, 22h30)? Fiquei em dúvida se falava nele no começo, no meio ou no fim. Teve uma audiência de milhões de pessoas assistindo à vida de uma família e da criadagem nos fins da era eduardiana. Aqueles cenários ingleses, maravilhosos, as roupas, a vida das mulheres e dos homens, há cem anos. E a vida de uma casa.

O começo da novela anuncia o afundamento do Titanic, e nele morre o herdeiro de Downton Abbey, o que vai ser o pano de fundo para a trama. Depois, a Primeira Guerra com suas mudanças.

O mundo vai passando ao largo, mas, na realidade, é um novelão dos bons sobre a família e seus agregados, a fortíssima hierarquia social, o que se podia fazer ou não. O que vai nos interessar mais? A vida dos empregados ou dos patrões? Páreo duro.

Downton Abbey é a casa, o lar de todos. Só funciona por patrões e empregados a considerarem coisa de sua responsabilidade, cientes de seus deveres, obrigações e direitos.

Para efeito desta coluna, vamos ver a cozinha funcionando o tempo inteiro. A cozinheira é ótima, vai trazer risadas e aflições. É ajudada por um fio de gente, a menina Daisy.

A cozinha é inacreditável. Acho que, por necessidade de facilitar as coisas, juntaram todas as seções, numa salinha só, com uma só mesa, um forno, um fogão. A verdade seria outra. Além da cozinheira, teríamos alguém para lavar louça, outra para limpar verduras, outra para assar pães, mas, no caso, sobrou tudo para a pequena e frágil Daisy.

Podemos descobrir os horários de Daisy. (Há um livrinho sobre o assunto “The World of Downton Abbey”, na Amazon.)

4h30 – Ela se levanta para acender o fogo na cozinha. Depois, acende as lareiras de cada quarto e corre escadas acima e abaixo para colocar a mesa de café da manhã dos empregados.

6h – Acorda os empregados e acende lareiras do primeiro andar.

10h – Daisy lava a louça do café da manhã. A cozinheira-chefe manda que ela limpe as panelas para o almoço e que lave as verduras.

4h – O chá dos empregados. Ninguém pode olhar para a cara de um empregado sem pedir um chá, que vem devidamente arrumado em bandeja de prata.

7h – Daisy já está trabalhando há 13 horas, mas é agora que vai começar o jantar dos empregados e, um pouco mais tarde, o dos patrões.

8h30 – Limpa as panelas que foram servidas no almoço e serão usadas de novo para o jantar.

9h45 – Depois do jantar da família, Daisy lava o restante da louça. Come alguma coisa na cozinha e é mandada para a cama, para o seu desgosto, pois é a única hora que os empregados têm para conversar um pouco. (A folga deles é de meio dia por semana.)

Achei que vale a pena ver. Bonito, bons atores, extremamente previsível, com armadilhas para pegar nossa atenção. Novelão inglês, delicioso para quem quer ver as panelas, a louça, a mesa, as joias, os uniformes, os objetos. E o passar da história como entretenimento na TV.

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Faça Acontecer

Por Nina Horta
22/04/13 22:35

Ai, se eu tivesse um pouco de juízo não me dispersava tanto em assuntos diferentes e poderia me especializar em alguma coisa. Nesses tempos que perdi o acesso ao meu próprio blog (obrigada Livia Marra da Folha  e Dulce Horta, minha filha, por ressuscitá-lo), li de tudo um pouco, assisti de tudo um pouco e vamos à lista do que gostei mais, talvez vocês possam pescar coisa ou outra.

Por um tempão recusei comprar o livro  “ Faça acontecer” da chefe operacional do Facebook,  Sheryl Sandberg que saiu agora pela  Companhia das Letras.

Nunca leio livros de auto-ajuda, por preconceito, e esse me pareceu um livro de auto ajuda, no qual ela descreve como as mulheres não desenvolvem bem suas carreiras, sem a intenção de fazê-lo, mas inconscientemente barrando oportunidades.  Aparentemente nada de novo no front, mas não custa dar umas cutucadas renovadas nas culpas femininas que parece nunca se acabam. Culpa de sentar à mesa com os homens campeões, culpa de deixar os filhos em casa, culpa de….

Na nossa profissão de cozinheiras, festeiras, a culpa é cem vezes maior porque se trabalha mais na hora da folga de todo mundo!!!

Coisas que apareceram lá sobre mulheres fizeram com que eu me identificasse a ponto de ficar vermelha de vergonha. Como por exemplo a síndrome da fraude. Mas será um síndrome só de mulheres?  Aquela que te faz sentir que está enganando o mundo quando alguém te elogia.  “Ah, ele nem sabe que fraude eu sou, pelo amor de Deus, para de pensar que sou essa pessoa que só existe na sua cabeça!”

É uma síndrome forte, não aceitar elogio de um prato bem feito, não aceitar elogio de festa, chamar  a atenção para o que havia de errado e imagino que deve ser uma benção você ouvir alguma coisa boa de você e simplesmente dizer “obrigada”.

E me lembro que a escritora americana de comida, a M.K. Fisher, conta que só conseguiu aceitar carinho dos fãs com 90 anos!!!!!!!!! Mas, conseguiu apesar de levemente tarde. Por que não para homens também? Não tem homem inseguro, medroso? Só tem.

Bem, acho que é um livro que ensina mulheres, e por que não os homens?  a darem a cara para bater, enfrentarem a vida sem medo. E na nossa profissão também abriga muitas culpadas, mulheres que não sabem aceitar riscos. Dei uma pensada e acho que os buffets que saem do artesanato para se tornarem grandes empresas também estão, majoritariamente na mão de homens, ou com um respaldo de homens. Então, será que isso tem conserto? Será que precisa ter conserto?

 

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Os cozinheiros atores

Por Folha
17/04/13 03:00

Na semana passada, contei que fui entrevistada por uma repórter que trazia, além de lápis e papel, olhos azuis ou verdes, cabelos louros, nada chamuscados pelas lides da cozinha. É que ela atua em todos os setores, entrevista sobre o que lhe interessa, e a cozinha a estava deixando intrigada.

Quase todas as pautas eram sobre o assunto. Onde andariam outros heróis que não chefs, desde quando a malha colada do Super-Homem fora substituída pela calça xadrezinha do chef? Não pude responder a tudo e aqui vai o restante.

E os realities shows de chefs? Um mistério, porque neles não se aprende a cozinhar, mas concordo que se aprende a dizer “sim, chef”, para não se tomar uma frigideira no ouvido. Então, ali, o programa não é de comida, é de competição.

E tenho uma hipótese sobre os programas que se repetem exatamente do mesmo jeito, como o do Gordon Ramsay, aquele que conserta restaurantes falidos.

O roteiro é exatamente o mesmo, o mesmo timing, ele chega à cidade, entra no restaurante, vê que num lugar onde há um mar gigantesco na porta o dono do restaurante só serve cabrito congelado e muda o menu para ostras e vermelhos e outro peixinho vadio que nade por ali.

O dono quase se mata com as modificações, o cozinheiro bate a porta e vai embora. Mas, quando dentro de três meses Ramsay volta, pode-se escutar hummm, hummm de gostosura na boca dos clientes. E o cofrinho do caixa está barrigudo, se arrebentando de euros.

E assistimos. Os cozinheiros atores são surpreendentemente bons, o Ramsay atua melhor do que cozinha, e o resto é a satisfação de nossa parte infantil, sabe quando a mãe pula uma linha do “Chapeuzinho Vermelho” e a criança quase dormindo sobressalta, chorando? Nós, os do sofá, somos assim também.

Imagine se um dia nos puséssemos a ver o programa e, quando os garçons trouxessem a comida da casa para o chef provar, ele achasse tudo uma delícia, comentando que não teria nada a fazer lá, que o problema deveria estar em outro lugar? Começaríamos a chorar como os bebês, com certeza.

No mais, assistimos a coisas que nos interessam. Quem não gosta de comer? Quem gosta de matar um peru e assar para o jantar? Então vemos o Jamie Oliver matar os perus do seu quintal, perus que ele nomeou e criou com suas crianças, e ficamos felizes por ter que ser ele a executar os bichos e não nós que compramos o peito enrolado em plástico no mercado.

E o momento é de muita reflexão sobre a cozinha e sobre todo o resto. A cozinha sofreu um bocado com sua medicalização e confundiu os assuntos. E ainda tem a nutrição com maiúscula.

Sugeri que a Luara lesse “Culture in a Liquid Modern World” (Zigmunt Baum), um livro pequenino e fácil. Vai achar que todos no mundo, não só os cozinheiros, estão nesse impasse de não ter “receitas”, livres como pássaros na gaiola.

A ideia dele é que todas as normas que antes cultivávamos passaram por um poderoso liquidificador e tornaram-se massinha de jardim de infância em nossas mãos. Ainda estamos brincando com elas. Até aprender tudo de novo.

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Dia de ogro na cozinha

Por Folha
10/04/13 03:00

Ontem foi lá no bufê uma repórter bonita me entrevistar. Tinha um nome devastador, ninguém pode não gostar de alguém que se chame Luara. Vi que estava preparada, tinha lido meu livro, tinha gostado, os olhos brilhavam de simpatia por aquela mulher que passara a vida lidando com a cozinha e, ao mesmo tempo, tinha um negócio e coisas paralelas.

O que ela queria saber? “Que história é essa que comida passou a ser a coisa mais importante do mundo? Por que o assunto é esse, por que as pessoas saem para jantar fora todo dia? E, por que, se não cozinham, assistem a todos os programas de TV, Ana Maria Braga, o ‘MasterChef’, o Gordon Ramsay, o Jamie, o Troisgros, o Anquier e a Rita Lobo? E todos os outros mais?”

Eu queria ser a mulher que ela esperava, cheia de paixão pela comida, descrevendo como se tempera um coelho, como se faz um ragu muito macio, o milagre de transformar o cru no cozido, o ovo em clara batida. Eu queria a pureza da Palmirinha, a cultura do passado, ela também.

Mas, sem querer, foi saindo de dentro de mim um ogro pessimista. De minuto em minuto, eu matava o brilho da Luara. Intercalava uma frase falando bem da cozinha, e logo apareciam mais três questionando a possibilidade de cozinhar com graça hoje em dia.

Geralmente, colocamos os problemas dentro de nós. Cozinhar ficou difícil porque nós envelhecemos, porque nossa família aumentou, porque trabalhamos o dia inteiro, à noite, queremos sossego.

Hummmm, mas não estaríamos apontando para dentro quando o certo era apontar para fora, para o mundo, para as circunstâncias?

Mas vamos convir que acabou-se o que era doce. O trânsito, as distâncias, as filas, o computador exigente, todas as notícias do mundo (quando uma azia de um coreano pode mudar a nossa vida).

Você adoraria ser o mágico Jamie Oliver, mas sabe que não dá. Vamos assistir e talvez um dia, quem sabe? Cozinharemos com a leveza dele. (Conheci o Jamie Oliver se formando, virando cozinheiro no começo dos 90.) Olha o tanto que demorou! Hoje assistimos aos profissionais como no teatro. Assistimos aos cozinheiros. Somos nós, num mundo ideal. Podemos ir ao mercado e comprar o que o cozinheiro fez.

Luara, minha entrevistadora loura e azul, é mentira que só comemos fora e bem. Só pra quem pode. A padaria nos salva, um café e um sanduíche ou uma rabanada, um suco. O sanduíche e a saladinha do almoço e do jantar… Talvez, à noite, um macarrão rapidinho, um risoto, que já nos dão enorme prazer e orgulho, mas, definitivamente, a massa de cozinheiros domésticos está deixando a profissão e o hobby para os especialistas.

Doces para os doceiros, bolos para os boleiros. Que cada um se arranje do jeito que pode, do jeito que seu bolso alcança e, se o amor pela cozinha é muito, ainda vai dar certo. Há meios de elaborar a escala das prioridades. Só não vai dar tempo de ler “Culture in a Liquid
Modern World” (cultura em um mundo moderno líquido), de Zygmunt Bauman. Prefira a padaria com seu eterno pãozinho quente com manteiga e pouca filosofia.

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Jardins, hortas e cafés da manhã

Por Folha
03/04/13 03:00

Vocês sabem, não é que o primeiro passo para um dia bom é um café da manhã sem pressa, cafezinho simples, com pão fresco e manteiga, não precisa mais? Precisa, sim, precisa estar vendo alguma paisagem verde pela janela ou pela porta. Se os jornais estiverem ao lado, melhor ainda. Há por trás daquilo uma ligação com o mundo. Nem que não dê tempo de ler, é só a âncora daquele costume arraigado.

Uma vez, roubei do jardim de um cliente uma muda de florzinha amarela. Acontece que todo jardim plantado com a mesma coisa por um quilômetro fica lindo quer queira quer não. O dele era assim, e consegui repetir a façanha num canteiro. Está lá. É a hora das flores pequenas e amarelas, e resolvi que vou fazer com que elas tomem conta da antiga horta. Vou deixar a pimenteira, o pé de louro, a jabuticabeira. E que as flores amarelas imperem sozinhas.

Nesta altura da vida, já me convenci de que a natureza de mãe não tem nada. Está sempre ali para dar o bote, mesmo que a gente não se distraia. Há aquelas pestes de bichinhos pretos ou de lesminhas incolores. Aprendi que morrem se a gente derrete um sabão na água e rega tudo. Até dá certo.

Acontece que a sálvia não sabe direito se gosta de sol ou de sombra, tem que ser meia-sombra. O coentro morre depressinha. Parece que a raiz da pimenteira tão querida está com cupim, e as heras estão umedecendo as paredes da casa.

Lá no sítio, é ainda pior. Não falo mais de caseiro que não planta nada, que só come Danoninho da cidade, mas coitado, é plantar e vem a chuva, e vem o vento, e vem a pulga, e zero. Começar de novo. Melhor plantar árvore, daquelas conhecidas. Não há vento que entorte.

E as galinhas? Seu Antonio me disse que uma delas estava com o pé machucado, com o dedo inflamado. Não me lembro de ter respondido nada, talvez um murmúrio, “vou à farmácia”. Não sei mesmo.

Ontem perguntei como ia a galinha. Ele respondeu que o dedo dela caiu com o remédio que eu mandei passar.

“Eu?” “É, a senhora disse para eu passar água sanitária.” “Seu Antonio, o senhor sabe que odeio água sanitária, nem compro…”

É, mas diz ele que mandei e quero morrer de dó da galinha sem dedo, que desastre!

E aquelas plantas que “pegam demais”? Hortelã, bonina, aquela florzinha caipira com cheiro de vaselina barata e feijão de rama vão nascendo, vão nascendo e, de repente, é preciso arrancar e jogar longe.

Com o tempo, vai dando uma saudade, mas, na hora da invasão, são mortos a sangue frio.

Pois é, o pão está crocante, perigo continuar comendo. Se começo a ler o jornal, perco a hora. Imagine um catálogo de plantas comestíveis que veio junto com um deles. Uma ervilha-verde de trincar nos dentes, uma salsinha-crespa que sozinha dá gosto a um omelete inteiro…

Foi-se o tempo de inventar hortas novas. Ainda tenho uns desvarios de canteiros altos que batam na minha cintura e com rodas para serem levados ao sol da tarde ou tirados das tempestades que Deus dá. É possível, seria o máximo. Tomo o último gole de café já frio e corro para o trabalho. Amanhã tem mais.

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O psicopata americano

Por Folha
27/03/13 03:00

De repente, me lembrei de um livro que li há muitos anos. Minto. Tentei ler e achei tão esquisito, tão fora de propósito, que larguei. É o “Psicopata Americano”, de Bret Ellis. Saiu em 1991. Suponhamos que demorou dois anos para ser escrito e publicado, logo já tem uns 25 anos.

Lembro-me de que não devo ter entendido o livro, que só falava em grifes de roupas e comidas, extremamente superficial (de propósito) e violento. Mas, lá no fundo do cérebro, sabia que ele tratava muito de comida e fui dar uma relida.

Para espanto total, o livro que eu tanto estranhei virou quase normal para mim. É como se eu estivesse lendo a “Vogue” misturada com Tarantino. Nem estranhei nada e ainda me interessei e fui até o fim.

Sinal de que o horror da superficialidade e da falta de valores já não se faz estranho, vai mal!

Mas eu estava certa quanto à comida. Já se comia em Nova York o que se come ainda hoje nos restaurantes chiques. O dia e a noite dos personagens giram em torno de almoços e jantares, o status de se conseguir lugar com o maître e a posição da mesa. (Os maîtres eram mais importantes que os chefs.)

A primeira comida que aparece é na casa de uma amiga do psicopata, que serve sushi. Na hora da sobremesa, ela oferece sorbets de kiwi, carambola, figo e pera d’água.

Um desavisado pede sorbet de chocolate e cai na desgraça. Não é o que deveria pedir, errado ou exótico demais. E, ainda por cima, confundiu cappuccino com carpaccio.

No dia seguinte, o café da manhã do nosso americano, bonito, sarado, branco, rico e psicopata, é: um muffin de cevada com manteiga de maçã. Uma tigela de cereal de aveia com germe de trigo e leite de soja. Uma garrafinha de água Evian e uma xicrinha de café descafeinado. Uma xícara de chá de maçã e canela descafeinado.

No almoço (eles já usam muito o guia “Zagat”), conseguem um lugar num restaurante de “pós-Califórnia cuisine”. O protagonista já sabe como vai ser: canos expostos, cozinha aparente, pizza feita na vista dos clientes, burritos com vieiras, torradas de wasabi, fusilli e queijo brie com azeite.

Ele pede radicchio com lula e ragu de tamboril com violetas, e o chef os presenteia com pipoca “cajun” e também com um vermelho queimado de um lado só, “medium rare”. (Lembram-se dessa mania que deu aqui também por causa do chef do sul dos EUA Paul Prudhomme, que fazia o peixe na grelha, de um lado só, até queimar?)

Um jantar de negócios: boudin branco, frango assado e cheesecake. (A palavra cheesecake soa mal para um deles, é muito comum, fica confuso: “O quê? Cheesecake de que sabor? Quente? Cheesecake de ricota? De queijo de cabra? Enfeitado com flores ou com coentro?”).

Éramos assim há mais de 20 anos. Vamos andando ou paramos no mesmo lugar? Como o ser humano é engraçado! Como somos engraçados e excêntricos! O tanto que podemos nos preocupar com comida e suas modas… Tem muito pano pra manga nessas manias, hora de repensar. Eva e Adão já com a maçã. E nós atrás com sopinha de abacaxi esferificado. Quem sabe seja tudo sobre a árvore do bem e do mal?

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