O marido da minha sócia dizia que festeiro sem teto é profissão de imigrante. Basta um fogão, o cliente paga a metade, você faz a comida e recebe a outra metade. Quase.
Na realidade o pagamento antecipado dá uma certa segurança se o cliente fugir antes da festa ou resolver que não vai mais se casar quinze minutos antes da cerimônia.(O consolo é que raramente acontece)
Precisamos de uma cozinha, é claro, e todo o restante, desde mobiliário a pratos, copos, cadeiras, prata, pode ser alugado. Muitas vezes o festeiro ao começar sente vontade de comprar todo o material e alugar ele próprio. É bom pensar duas vezes pois é um investimento grande, considerando-se o lugar para guardar tudo, as viagens que devem ser feitas com a tralha inteira, a lavagem, a colocação no almoxarifado. É uma outra firma, além do buffet que está sendo fundada. Ah, e o controle das quantidades e quebras e a manutenção.
As festas bem sucedidas por si só geram uma propaganda boca a boca inacreditável, um dos motores de futuras festas.
Há uma possibilidade de se escolher clientes e até mesmo de deixa-los no meio do caminho se alguma coisa grave acontecer entre as duas partes. (Se estiver estipulado no contrato!)
Algumas desvantagens muito óbvias são visíveis a olho nu quando todos começam a se estressar, pois o tempo de festas reúne quase todas elas nos mesmos meses. O chef, no fim do ano, está enlouquecido, exausto, com dores pelo corpo, a brigada também e se não chegassem as férias muitos desistiriam da profissão.
Muitos deixam o serviço de buffets sem teto por causa das dificuldades das festas seguidas, e da imprevisibilidade durante o tempo de menos festas. Muitos acham que o lucro obtido não faz jus à energia e jogo de cintura necessários.
Um exemplo de dia a dia com cada cliente. – Atende-se o telefone ou responde-se a um email de um cliente. Liga-se para o cliente que às vezes sabe , às vezes não sabe bem o que quer. Esse telefonema exige muitas referências, depois de vinte anos de buffet você é capaz de saber se a pessoa está mesmo interessada na festa pelo seu “alô”, ou pelas palavras que usa. Se é um cliente novo é possível que queira conhecer o dono do buffet e ir visitá-lo no escritório. A conversa é agradável e comprida, pois o assunto é grande e para se conhecer alguém é necessário muito papo. Simpatizaram, cliente e dono do buffet.E a hora de um encarregado fazer a visita técnica, uma das coisas mais delicadas do processo. Isto é, visitar o lugar onde vai ser a festa, julgar a possiblidades da cozinha e entender qual louça ficaria melhor. A casa é muito tradicional, moderna, as duas coisas misturadas? É preciso ter muitas referências para saber se adaptar a cada tipo de casa.
Agora o cliente quer provar a comida de sua festa. E tem razão. Se nunca comeu a comida daquele bufet sentir-se-á inseguro de provar pela primeira vez no dia do acontecimento tão esperado. Depois temos a festa em si, e a partir do dia seguinte a avaliação.
Mas, quem tem jeito para ser dono de um buffet sem teto? Que tem só a sua cozinha e sai com a cozinha às costas, como um caracol, faça chuva ou faça sol?
Alguns atributos:
Paixão. Para dar certo o profissional precisa gostar muito do que faz. E ser curioso e estudioso e responsável. O contato com o cliente deve permitir que ele veja nos seus olhos se você está realmente interessado na festa dele ou quer fazer um serviço, ser pago e dar o fora.
Tem que ter traços empresariais, isto é gastar muito tempo e energia, querer fazer sucesso, ter vergonha de uma festa mal feita, querer se aperfeiçoar e melhorar a cada dia. Seria bom se tivesse uma boa idéia de tudo que é preciso num buffet, desde a comida, a bebida, a decoração, o comportamento dos garçons, o trato com o cliente. Já dá para ver que o dono do buffet precisa ser um superhomem ou contratar muita gente boa.
Um conhecimento básico do negócio, que possa transmitir a quem for ajudá-lo, bancá-lo, ou se associar a ele. Deve ter um contador ou saber fazer bem a sua própria contadoria.
Hoje em dia, sem computador não existe negócio. Há dez anos acreditem, os cardápios eram levados por motoristas, para cada cliente. Quando chegou o fax, que durou pouco, foi uma alegria sem fim. Alguém deve saber mexer muito bem com o computador. Por causa do computador não existem mais digitadores como no tempo das máquinas de escrever e é dificílimo achar alguém rápido, que saiba digitar sem erros, colar fotos… Não é incrível? .
De que mais vai ser preciso?
Alguém que saiba montar cardápios muito bem, fazer o site, responder aos clientes e alguém (um gerente, por exemplo)que esteja ligado em tudo que está acontecendo.
Um bom atendente de telefone é uma preciosidade. Se você tem um já tem meio caminho andado.
Conhecimento das leis que regem o ofício. |Contratos, contratos com empregados, cálculo das despesas, de taxas. O ideal é ter um advogado ou o próprio contador de confiança que te ajude nesses processos que são fáceis de aprender mas complicados a ponto de não te deixarem trabalhar na cozinha se for cuidar de tudo.
Recursos humanos. O dono do buffet tem que ter uma personalidade que permita que ele contrate os empregados, treine, motive e saiba manejá-los. É uma das partes mais difíceis pois estará lidando muitas vezes com pessoal terceirizado que você não conhece. Com o tempo e o aprendizado isso se torna muito mais fácil.
E principalmente o dono do buffet tem que saber vender o seu produto. Na verdade o que ele está vendendo é segurança. Se o cliente confiar em você,acreditar, simpatizar, a venda está praticamente feita.
Continuamos da próxima vez.