Amyr Klink me deu uma faca
09/01/15 01:42Boas coisas podem acontecer quando você menos espera. Fui abrir a porta para o Tahan, editor santista, e ele chegou na hora certa com um presente. Presente, por que?
-Ah, passei antes no escritório do Amyr Klink e ele te mandou um presente.”
Achei que era brincadeira. Tenho a maior admiração pelo nosso homem dos mares, conheço bem as irmãs dele, muito bem, mas com o Amyr, mesmo, mal troquei dez palavras rápidas. Adorei os livros, sigo atentamente sua vida…
O que teria me mandado?
Acreditem se quiserem: Uma corrente e um gancho feitos por baleeiros da Noruega, na Georgia do Sul, em Grytviken. A corrente, com mais de cem anos e sem enferrujar. Galvanizada abaixo da convergência antártica, e ele a catou nas andanças que fez por lá. São corrente e gancho para pendurar talhos de gordura de baleia ou carne de rena.( Georgia do Sul, circa 1906 e 1910)
Bonita, vejam na foto, fui dependurando na lareira onde se sentiu bem confortável, apesar da possibilidade de temperatura bem diferente do que a que estava acostumada.
E… uma faca maravilhosa. A faca é a ferramenta mais importante na vida dos lapões. (Só são feitas em Karastojok, Noruega) Uma faca idêntica à que ele tem a bordo, há mais de trinta anos. É um modelo único, que acompanha um lapão por toda a vida e para todos os fins. Podem ser fins culinários, inclusive para caçar e cortar lenha.
E além de tudo o Amyr elogiava meus textos, o que é um orgulho para mim, pois ele e a família escrevem extremamente bem.
Eu mereço um presente desses?
Fiquei namorando a faca, sem saber direito como estrear. Gostosa de segurar, dá uma sensação de poder, me senti uma rude camponesa capaz de enfrentar qualquer novidade à minha frente.
Tivemos um Natal simples e lá pelas cinco da tarde resolvi fazer um enfeite de mesa bem grande e escandaloso. Tenho um pequeno jardim que perdeu o sol por causa da construção de uma casa vizinha fora dos parâmetros do bairro. As árvores, sobem os troncos, se espicham para ir colher o sol lá por cima. Um dia roubei na casa de uma consulesa da Dinamarca uma muda de holly, aquela planta bem natalina, de folhinhas dentadas, que dá uma fruta vermelha. Aqui no Brasil fica verde, sem frutos, mas no Natal sempre uso uns galhos. Pois não é que a planta criou um tronco até grosso para chegar ao sol?
Fui cortá-la com a faca. Pac, pac, pac, e a danadinha da faca dos lapões parecia não estar fazendo força alguma e nem eu. Era só ter paciência e de repente lá estava um galho grosso de um metro e meio mais ou menos. (De altura, de altura…) Foi um orgulho só. Normalmente eu não teria conseguido sem um instrumento forte e dócil como essa faca.
A minha vontade é andar com ela na cintura quebrando todos os galhos, das árvores e da vida. Colei a foto do presente aí para fazer inveja a vocês e agradecer o Amyr. Nunca pensei que nessa idade vetusta ainda me entusiasmaria por um facão desse porte, mas que delícia! Cuidado comigo, sou dona de uma faca de verdade, sem frescuras, corta de tudo um pouco e é uma companheira bonita.
De hoje em diante podem me chamar de Nina, a velha poderosa.
Pingback: luottoa
Com todo o respeito à faca presenteada, mas afiada mesmo é você, poderosa na combinação perfeita da ourivesaria vocabular. Cada texto seu é qual iguaria. Sempre prazeroso, nos embarca e conduz a alguns dos remansos benfazejos do viver.
Nossa, um comentário maior que a faca! Abraço afiado!
Nina, agora vc é uma menina ainda mais poderosa!
Menina feroz! Beijos.nina