Verdade ou mentira?
11/06/14 02:00Vou confessar que a coisa de que mais tenho vontade, num dia sem inspiração, é divertir e agradar os leitores com uma bela mentira. E o pior é que não consigo. O espaço que tenho é de crônica, e a crônica não pede verdades absolutas (também, quem as tem?).
Minto, minto. Uma vez descrevi um restaurante brasileiro em Nova York, nos mínimos detalhes do ambiente, das tábuas do chão, a música e a comida, é claro. Mas, no fim, me desmentia —era um lugar que eu gostaria que existisse.
Imaginem que dez anos ou mais depois recebo noivos para combinar sua festa de casamento. E vinham confiantes, de olhos fechados, pois ele abrira um restaurante em NY copiando aquele descrito. A crônica lhe dera ânimo para começar. Estão vendo? Às vezes não é uma verdade, mas uma falsidade que venta na vela dos navios prontos a sair mar afora.
E, além de tudo, a Verdade não existe num campo tão subjetivo quanto o do gosto, o da comida.
Por exemplo, às vezes as verdades parecem mentiras e as mentiras, verdades. Achei esnobe contar que, depois de um esforço desproporcional à minha vontade de viajar, não gostei do Noma. Quantas variáveis formaram minha crítica! O único casaco de viagem que perdera no aeroporto, a chuvinha cortante, os arrepios de frio, os espirros, os companheiros falando muito alto.
Já fui implicando com o vaso com arranjo comestível (brega demais) e o mesmo camarão que picava a língua de todo mundo. Não que eu tenha odiado, longe disso, mas senti na boca o gosto de déjà vu, era uma história repetida à exaustão, nos mínimos detalhes. Como falar mal de um restaurante tão adorado? Não havia sido a comida, havia sido eu, o casaco, o vento, a vodca excessiva. Se eu falasse a verdade, estaria mentindo.
Comida é um assunto perigoso e só nós humanos temos preferências arraigadas e conscientes. O que eu quero dizer é que mesmo falando a mais profunda das mentiras estamos incluindo numa crônica todas as verdades que estão influindo em nós, naquela hora, naquele momento, numa vida inteira. Verdade ou mentira numa crônica são quase a mesma coisa, se confundem.
Fui ao bairro da Liberdade num dia quente, de festa. As ruas cheiíssimas. Procurava um líquido que amacia os patos, coisa difícil de explicar a quem não fala português. Afinal achei, numa casinha esmagada entre dois prédios, e que funcionava como loja, restaurante e moradia —pois havia uma mesa redonda no centro onde umas dez pessoas almoçavam, se revezando.
Claro que fiz cara de fome de bolinho de cará recheado, frito na hora —era o que acontecia no fogão. Convidadas, sentamos, minha cunhada e eu, e fomos servidas sem mais.
Uma pimenta forte por cima e era o céu. Não sei se foi a fome, mas os bolos eram secos, sem gordura, com aquela casca crocante por fora e o miolo macio. Havia arroz que não comemos, muito branco, meio grudado. E verduras cozidas em steamers de bambu. Não é o que eu chamaria de um restaurante descolado, mas uma comida! Tentei encomendar os bolinhos ainda crus, mas o desencontro de línguas era grande. Verdade ou mentira?
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