A galinha

Por folha

07/05/14 02:02

Fomos andar em volta da fazenda, aquela fazenda do riacho que passava dentro da cozinha com seus lambaris e onde as mulheres arregaçavam as saias e lavavam a louça do almoço com os patinhos e patões comendo os restos.

Acho que essa é a imagem mais forte e clara que tenho de uma cozinha. Do seu forno varrido, lá fora ao sol, iluminado, em formato de zimbório, onde assava o frango esgoelado que correra curioso para ver as visitas. O palmito não sei de onde tiravam, mas aparecia imediatamente e era batidinho para ser comido com o frango e o arroz solto.

A cozinha de dentro era escura, com um armário de madeira imenso, fechado, que cheirava a polvilho e doce de mamão verde. O fogão de lenha, com estalactites de picumã, roncava baixo. Mesa comprida com a família reunida às sete horas para a ceia de mingau, biscoitão de polvilho, bolo e doce de leite. Era uma fazenda de cana, com moinho antigo, a imensa roda girando, já deve ter morrido de velho, desbarrancado.

Agora, voltando ao assunto frango, o que acho é que pode existir todo tipo de comida, mas nenhuma se oferece como o frango, não é uma oferenda feita por nós (até pode ser, também), mas é ele que se precipita para a morte sacrificial, tenho certeza, o frango foi feito para ser comido por todos, essa doação é coisa dele, de foro íntimo, pequenos dinossauros de canelas escamadas.

De todos os lugares do mundo, só não vi frango vivo no centro de Nova York, entre os carros, caminhando enviesado e com pressa.

É que já os fritaram todos no Kentucky Fried Chicken, ou por ser ave muito rústica, ama as estradas de terra batida, a terra mansa e morna, o sol que também é manso, o chão cheio de minhocas.
Divertem-se com pouco, já viram um galinheiro posto a dormir ao cair da tarde quando se esborracha um mamão maduro no chão? Saem todos, alvoroçados, acabou-se a noite, comer é preciso, num bater de asas espadanado, socorro, que não se pode perder uma sementinha preta dessas, per Dio!

E naquela pobreza inacreditável da roça de Minas, uma mulher sai de dentro da casa de chão de terra, brilho nos olhos, mão fechada, carregando o quê? Um ovo azul para o forasteiro. Sua única riqueza, aquele ovo azul.

A filha doente se arrasta no chão da cozinha, babando, deve ter uns dez anos como eu, que a observo, disfarçando a estranheza. Pois eis que ela revira os olhos em nossa direção e sapeca a frase que merecemos: “Eita, povo feio!”.

Na manhã calorenta a água de bilha, na caneca de alumínio, é a mais fresca e mata a sede. E o café é ralo e muito doce.

Tamanha generosidade que nos traz a vergonha de morar na cidade onde se contam os bifes congelados para o jantar. Vontade de desapegar, dar a correntinha de presente, o relógio, a presilha do cabelo, mas prá quem, tempo prá quê?

E lá no terreiro também tem a galinha, nervosa, para se dar inteira, se despojar das penas, esquecer do galo, morrer de amor com os olhos bem apertadinhos num último gozo, coisa mais linda, essa galinha. Se ficarmos mais um pouco, vai dar canja.

Comentários

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Nina, querida, que absurdo virou isso aqui! Como sempre seu texto é maravilhoso, perdi alguma coisa?! As pessoas estão te usando para palanque político?! Ninguém entendeu nada! Eles não sabem mais o que é poesia? Texto literário? Não desista, ainda…bj
- Beda comentou em 08/05/14 at 11:47
  
  Não existiria texto maravilhoso de pessoas, como NINA, que tem mente e espírito esculhambado à inércia da paz, dignidade, e plenitude da vida de todos neste planeta. Aliás os animais são protagonistas como fardos de escambo monetário por meia dúzia de sádicos assassinos, dito empresários e investidores, que promovem a matança desordenada por lucro e geração de emprego maldito. O resto, é esse povo que se alimenta de carne sem saber que está sendo manipulado, como já o é por seus pares elitistas e políticos sanguessugas (que mancham o berço esplêndido do povo brasileiro).
Arthur comentou em 07/05/14 at 18:52

Os vegetarianos que me desculpem, mas os três propósitos básicos da existência desse animal banal são:
Frango é feito pra comer.
Galinha é feita pra botar ovo.
Galo é feito pra rinha.
Maria Cecilia comentou em 07/05/14 at 18:36

O texto da Nina comprova a insuportável falta de humildade do ser humano. Apesar de ter falado em generosidade (do frango), ela simplesmente justifica o comer carne de frango, com a vontade do mesmo de ser fazer comido. O franguinho foi ver quem chegou e morreu esgoelado e foi para a panela. Fiquei curiosa e não gostei…. e tem mais pra não tem acento….
Astrogenaro Ortorrano comentou em 07/05/14 at 16:41

Texto magnífico, magnânimo, muito bom! Quando se lê sobre comida na internet, a gente é bombardeado com muita bobagem.
Falta textos igual esse. Verdadeiro.
PS: O vegetarianismo é uma farsa, como todos os “ismos”. Baseado no maniqueísmo, totalmente alheio à realidade do Universo.
- Rafaella comentou em 08/05/14 at 8:57
  
  Sou vegetariana, não sou maniqueísta e não sou alheia à realidade do Universo. Apenas respeito os animais enquanto seres sencientes capazes de sentir prazer e dor, e que não foram criados para nos servir. Se você se sente bem tirando uma vida apenas para manter a satisfação de seu paladar, vá em frente. Infelizmente não sou eu quem vai fazer você e outros bilhões de pessoas no mundo a mudar de ideia.
- Beda comentou em 08/05/14 at 11:36
  
  O melhor axioma é observar que os insipientes sempre foram céticos por não acreditar que a falta de estudo e burrice é uma dádiva do impulso emocional.
Astrogenaro Ortorrano comentou em 07/05/14 at 16:30

Esse texto animou meu dia. Adoro textos literários culinários. Adoro frango, galinha, arroz com frango! O ovo é uma dádiva. O frango frito, assado, cozido, de qualquer jeito é tudo de bom. Peito de frango é a carne da carne.
PS: Os vegetarianos são pessoas intolerantes que não aceitam enxergar a natureza como ele é.
Ivan comentou em 07/05/14 at 15:36

Respeito os vegetarianos..´que assumem uma opção, (na minha opinião equivocada pois vai contra a natureza humana, já que somos ONIVOROS, iguais a diversas espécies de macacos.. Mas gostaria de ser respeitado também, como carne sim, cadáveres sim, e gosto muuuuuuito!
abração aos amarelos mãos de cenoura kkkkkkk
E vou fazer uma galinhada hoje, para comemorar
- Beda comentou em 07/05/14 at 15:59
  
  Macacos são herbívoros, não onívoros. Não comem carne. São fortes e saudáveis como os muitos animais que não comem carne para sobreviver: zebra, cavalo, girafa, galinha, boi, vaca, gorila, macaco, búfalo, e muitos outros que você pode imaginar na savana africana. Claro, não estou generalizando pois existem os animais com a arcada dentária de caninos ao todo como é o caso do tigre, — não sendo o caso do ser humano. Tanto que o tamanho do intestino do animal canino é curto, provido de um ácido estomacal 10 vezes mais forte que o do ser humano para digerir alimentos sem a mastigação necessária. Já o homem, o contrário: tem intestino longo e delgado, com ácido 10 vezes menor que a do animal canino e ele deve fazer a tal e famosa “mastigação(dentes molares)” para não ter azia e ficar aliviado ao fazer a digestão.
  - kiko comentou em 07/05/14 at 16:29
    
    Sinto lhe informar, mas a maioria dos macacos são oníveros, alimentam-se de insetos, pequenos anfíbios e lagartos, aves e ovos. Assim como é o homem. A prova disso é que a vitamina B12 (encontrada apenas em alimentos de origem animal) é essencial ao homem e a sua deficiência pode causar anemia megaloblástica!
    - Beda comentou em 07/05/14 at 18:38
      
      Vitamina B12 são encontrados no vinagre de maçã orgânico que contém além disso 30 nutrientes, 12 minerais, 6 vitaminas, enzimas, pectinas, beta-carotenos. Não posso esquecer também as algas, que são fonte de alimento de rejuvenescimento e de muito B12, tanto que os orientais consomem diariamente e sempre parecem mais jovens do que aparenta ser. Exemplo, o Tofu tem 2,5 mais cálcio que o leite, e o feijão tem 2 vezes mais proteína do que a carne vermelha.
wagner comentou em 07/05/14 at 15:31

Belo texto; lúdico, sentimental e saudosista.
Permite inebriantes momentos de um mergulho na memória, em busca das cenas análogas da infância de quem conta suficientes primaveras para isso…
Mas não resiste à intolerância de nossos tempos politicamente corretos…
Intolerância de quem não teve momentos como os descritos na crônica de Nina na sua infância de gadgets; de quem irá ao zoológico para conhecer uma vaca ou um porco; de quem prefere a “segurança” de amizades virtuais a quem escancaram as ações diuturnas em tempo real; de quem não se liga na incoerência que é defender causas ” da moda”, indiferentes ao prejuízo análogo que a fabricação de seus aparelhos de conexão (ipads, iphones, itudo) causam ao planeta…
Eduardo comentou em 07/05/14 at 14:57

Cômicos, se não fossem trágicos, os comentários anteriores – elaborados, provavelmente, por fervorosos defensores do vegetarianismo.
Ao contrário do que afirmam, o texto é bem escrito e trata, de uma forma bem humorada e respeitosa, do papel da galinha na culinária humana – o que remonta aos primórdios da civilização.
O que os vegetarianos deveriam entender – e respeitar, sob pena de se transformarem em mais uma religião fundamentalista – é que os animais fazem parte da cadeia alimentar humana e sempre o farão.
Aliás, deveriam agradecer aos primeiros hominídios que ingeriram carne animal, pois só assim foram capazes de desenvolver a atual capacidade cognitiva, tornando possível atividades como escrever bobagens na internet.
Isso não significa que os animais devam ser mal-tratados ou massacrados, mas simplesmente que servem de alimento para outros animais – nós, humanos.
- Beda comentou em 08/05/14 at 18:53
  
  Os “hominídios” que você se refere são os homo-erectus. Tempo em que os homens eram bárbaros e, tampouco, obviamente, não saberiam sobre os alimentos provenientes da terra e seus nutrientes. Tanto é que nesta época o canibalismo era natural, tanto para obter poder sobre outras tribos e se auto-alimentarem para o “ganho de forças guerreiras espirituais”. Vale lembrar que há indícios claros ainda de canibalismo no interior do sudeste asiático e oriente médio (tenho arquivos pessoais sobre o fato, com fotos e tudo). Hoje, homo-sapien. Um ser mais desenvolvido e pleno de raciocínio moral. Conhecedor da ciência, medicina, tecnologia, literatura, etc. Constata-se tudo sobre alimentos, diante pesquisas e suas propriedades nutricionais e medicinais para o corpo humano. Comer carne é um hábito saudosista paleolítica, pois, mesmo conhecendo sobre alimentos saudáveis para o corpo, o homem atual continua, talvez, um bárbaro desconhecido pelo própria cegueira ascendente. Graças a Deus, o homem com a sua “cognição” sabe se diferenciar para encontrar planos mais evolutivos que outros que optam em viver no ostracismo dos seus egos e devaneios cruéis. Tudo vence, só com o tempo. Até lá, pobres animais e fontes naturais serão vítimas de um holocausto de indesejosos sanguessugas monetários.
ze comentou em 07/05/14 at 13:49

Há galo de Barcelos que ressuscita de morto que estava na mesa quando alguém com fé fala, fato que teria ocorrido em Portugal há tempos atrás perpetuado na imagem de um galo estilizado que se vê ainda bastante por ahi.
Beda comentou em 07/05/14 at 13:05

Um texto de grande exemplo (como o tamanho do ódio por seres vivos e obesidade da autora) na interpretação e sagacidade que não deve ser seguido por um único átomo. Perdão. Perdão. Eu tenho que pedir perdão pela pobre Nina. Peço perdão a essas lindas, lindas, criaturas que estão neste Planeta para elas e não para os homens. Vamos perdoar a autora por não saber o que fala, escreve, pensa e ingere, nesta “tenra” idade. Pobres animais, ainda, são palco de tanta falta de dignidade com o sentimento alheio e o estado de espírito de cada um no seu íntimo e natureza. Como ela diz, “…acho que pode existir todo tipo de comida…”; pra começar a autora não entende de comida. Comida para ela deve ser, e me surpreende pela idade e (des)conhecimento de vida que tem, aquele modelo americano como ela cita a do KFC. Todo gordos, super obesos, ingerem produtos industrializados em excesso, refrigerantes, muito açúcar refinado, gordura de todo tipo, come kilos de carnes, e, ao final, vive a inércia de querer ter saúde e um dia emagrecer como as mocinhas fit da TV. Pobre Nina. Precisa estudar mais sobre como o corpo humano que se alimenta dos minerais, vitaminas e proteínas da terra. Somos todos provenientes da terra como todos os animais, bactérias, plantas. Todos os melhores alimentos vem da terra, e a energia que ela nos proporciona vigora a vida em nosso corpo, tornando-o saudável. E os animais todos, sem exceção, também vivem da terra e dos seus predadores naturais, que, neste caso, não é o homem. Texto lírico psiquiátrico, mal escrito, à luz do próprio Jack, o estripador. São pessoas, como Nina, que fomentam a violência pelo sangue do próximo, o lucro pela morte alheia sem dó — e muito menos sem dignidade pela vida–, faz dos animais e a vida natural delas o escambo da ganância pelo dinheiro no terreno capitalista. Em suma. Só me resta perguntar as afirmações feitas pela própria Nina, veja: “se oferece”, como assim? No caso a galinha ou o frango? Quer dizer que o frango é um tipo de ave e a galinha é outra? Quem é a “oferenda”? “…não é uma oferenda feita por nós”? “…mas é ele que se precipita para a morte sacrificial”? “…tenho certeza”? “…essa doação é coisa dele(galinha)”? “…foro íntimo”? “…pequenos dinossauros de pele escamada” (Nina você deve ser racista. Crime inafiançável)? AFINAL, pergunto: Nina quem levou a galinha para o assassinato truculento para servir-te no jantar? Foi a galinha ou o frango? Ela saiu ciscando na rua e caiu na sua mesa. Sim, foi o homem que ceifou-a da vida sem propósito natural, como é a sua pobre e insignificante vida cheia de ódio e obesidade. Tomara que na próxima encarnação você possa vivenciar a dor de ser um “dinossauro” ou uma barata para ser pisoteada assim que a virem. Bem. boa sorte. Para conquistar um nível mais elevado de sabedoria, como Ghandi, você tem que estudar muito mais sobre a vida num planeta de todos. E cuidado para não encontrar um maníaco por aí e te fazer em pedaços e te jogar espalhada na cidade. Acha isso horrível? Você não devia… porque talvez você tenha o mesmo espírito da crueldade, a começar pela sua foto e o sorriso estampado na coluna. Tem o ar de soberba sobre todos, pessoa sem piedade e misericórdia. Imagem à bruxas de contos de fada! Agradeça por viver mais um dia, enquanto milhões de animais são mortos injustamente, confinados, para satisfazer o seu pobre e escroto ego. Claro e de tantos outros que gostam de comer um cadáver nas refeições. Vá procurar uma ajuda de vegetarianos!
Rafaella comentou em 07/05/14 at 11:54

Texto odioso. Animais não foram feitos para nos servir, sra. Nina Horta. Sua forma de interpretá-los enquanto simples coisas é, no mínimo, enojante.
Ilana comentou em 07/05/14 at 9:27

Desperdicei meu tempo lendo esse texto tedioso e mal escrito, de uma pessoa que acha que os animais são meros recheios de torta…tsc, tsc,tsc…

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