A performance da galinha
11/09/13 03:00É só pegar a carta de Caminha, aliás, fabulosa carta, tão bem escrita, tão interessante! Pedro Álvares Cabral se arruma com sua melhor fatiota e se senta junto aos companheiros para esperar os índios que lhe seriam apresentados. O parágrafo que nos interessa agora é o das galinhas.
“Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela: não lhe queriam pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados.”
Não se importam com o carneiro, com doces, com figos, mas quase tiveram medo da galinha. Quase tiveram medo da galinha. Engraçado, não? Quase. Nem um medo inteiro a galinha provoca. Mas, cuidado. É a mais escandalosa das mulheres. Louca, não pensa, já vai berrando seja lá um ovo, seja lá uma faca, vem o destempero, a gritaria.
O que lhe terá passado pela cabeça em Copenhague, quando Alex Atala a agarrou? Primeiro, alegria, um circo, o circo lhe cheirava a folguedos, correrias, risos. Depois o homem grande que mexia com seu cerebrozinho de galinha, já tinha visto gente assim, as tatuagens, os cabelos entre vermelhos e grisalhos, malhadão, um velho viking perdido, não, um cozinheiro das Arábias, era isso?
Pois não é que de todas as decisões possíveis naquela hora, no meio de gente curiosa e animada, de quantos desejos, quereres, o homem vai usar justamente ela, a galinha?
Tanta coisa, tanta modernice, pensou consigo mesma, mas era sempre a mais fácil.
O homem com certeza queria que ela se comportasse com dignidade, era uma hora de drama, de levar uma mensagem, quase um sacramento, um ritual, uma tomada de posição, reverência. Era a hora da morte que frutifica, que vai trazer a vida, mas à galinha não lhe importam firulas.
Seu mundo é pequeno, dos pés feios ao bico agudo. Só o que lhe interessa é o exato momento.
A galinha gostou que o homem Alex a sacrificasse assim, destroncando-lhe o pescoço. Se tivesse cortado ali, na veia, com uma faca afiada, ela só penderia para o lado e perderia a chance do ruflar de asas, do efeito.
Bateu as penas o quanto pôde, queria ajudá-lo na performance, mas exagerou um pouco, viu que ele se perturbara, afinal era um momento digno.
Na saída do pódio, na marcha a ré gloriosa de Atala, tinha uma pedra no caminho, e ele tropeçou, quase caiu, humano, demasiadamente humano, desfez a tensão, antes de subir ao céu.
Ela, a galinha, já sonhava com a receita que fariam dela. Bem tratada em vida, sabia que morreria um dia. Daquela turma já intuía o que esperar. Prato enorme, branco, o sobrecu colocado bem no centro, a moela aberta ao lado, uma frágil ova tremelicante, o pé feito em torresmo El Bulli e o jogo já em osso, polido, brilhando como marfim.
O ritual do cozinheiro e da galinha foi num simpósio de nome MAD, o tema era “guts” (coragem ou tripas) na palestra A Morte Acontece. Estamos ficando so-fis-ti-ca-dís-si-mos na gastronomia. Tal e qual minha avó, que Deus a tenha.
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Minha mãe matava a galinha que criávamos a quirera de milho, segurando as asas e os pés da ave com seus pés. Depenava o pescoço, segurando a cabeça da coitadinha para trás. Num corte certeiro, jorrava o sangue numa xícara com vinagre para o molho pardo.
Não nos incomodava este ritual.
Minha neta que cursa Engenharia de Alimentos, e na mesma Universidade há o curso de Zootecnia, deu-nos uma aula domingo passado, como abater a ave sem estresse da mesma. Coincidências.
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A gastronomia tornou-se um fim em si mesma, se tanto. O que vemos hoje em dia É um espetáculo egocêntrico de processos autorais plagiados no lugar de tradições gustativas, estas sim estabelecidas no complexo de formação de identidades culturais. O grande apelo moderno do século XXI das redes sociais E da super exposição midiatica, criaram um modelo de cozinheiro deslumbrado com o suposto glamour da profissão mais voltado ao marketing do que aas panelas propriamente ditas.
A gastronomia É, ou deveria ser apenas um meio simples – apesar da sua crescente evolução cientÍfica da compreensão da dietética e sofisticação do mercado mundial de alimentos – de se pensar a alimentação, tanto no que se refere aos seus complexos prazeres sensuais, quanto suas necessidades fisiológicas. Um meio de compreender, aqui no sentido de abrangência, todo um pensar e características culturais – os tesouros nacionais. Mas a transformaram em um fim em si mesma, um ato que culmina no indivíduo e na sua satisfação pessoal.
A capacidade transformadora inerente aos processos relativos aa morte nao deveriam ainda ser um tabu, vida se alimenta de vida, mas sua transformação em espetáculo sim, um horror, uma cena digna de Apocalypse Now. Devemos nos opor contundentemente a este trágico que procura saciar mais a egos do que a estômagos inteligentes.
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VÁRIAS VISÕES INTERESSANTE,,COMO SOMOS CARNÍVOROS.JÁ PENSOU SE FOSSE AO CONTRÁRIO….
A Beth não come galinhas? Mas seria bem engraçado um tatuado no panelão…
Olha, essa culpa eu não carrego…Não como bicho nenhum….No tempo das cavernas, ou ainda lá na savana africana, eu ainda entendo que não havia ou não há muita opção, mas nós temos tantas coisas boas prá comer!!!Não preciso disso não, mas cada um faz o que quiser e o que lhe convier…
Me fizestes pensar em uma galinha como nunca havia pensado, gosto mesmo de seu texto e por extensão de você.
E eu que convivi com uma galinha roliça bico amarelo ,crista encarnada.Ela comia seus grãos de milho junto com a gente,meu finado pai amarrava no pescoço dela um guardanapo branco e ela se comportava melhor que os humanos à mesa.Morreu de velhice!Ela era muito humana e nós animalescos …….
Pois eu sonho com o dia em que algum marciano, venusiano ou plutoniano, ou qq um que se julgue superior aos terráqueos, venha à Terra e tenha uma predileção muito especial por ruivos, peludos e tatuados e capture esse exemplar e o degole, despele e despedace para enfim comê-lo apreciando cada ossinho….Seria tão divertido! Afinal, “death happens”para qualquer um, não é mesmo?
Beth u my hero! quero ser sua amiga no facebook.
SERIA ENGRAÇADO,MAS SOMOS HIPÓCRITAS POR QUE ACABAMOS COMENDO ANIMAIS MESMO INDIGNADOS,,,ESSA QUESTÃO É COMPLEXA,,,É DIFÍCIL MUDAR A CONCEPÇÃO DE NÃO COMERMOS CARNES JÀ SOMOS DESDE BEBES ENSINADOS A ISTO….