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Nina Horta

Perfil Nina Horta é empresária, escritora e colunista de gastronomia da Folha

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Acabaram as avós dona Benta

Por Folha
14/08/13 03:00

Comecei a ler uma resenha nova do meu livro “Não é sopa”, bem escrita, até quando o autor começou a me chamar de dona Benta.  Não a do Monteiro Lobato, a outra, do livro grosso de receitas.

Fui ficando com ódio.

Foi publicado em 1995… Qual dona Benta qual nada, bonita, moça, viajando por São Paulo, Nova York, Paris, Londres, vestida por Ossie Clark, minissaia, mechinhas no cabelo, a nouvelle cuisine começando a arrebentar aqui, as experimentações, as novidades, as terrines, a bela apresentação do prato, Londres desfilando a mais jovem das modas pelas ruas, a comida de Jean Pierre White, Alastair Little, Bocuse já com 25 anos de trabalho!

Bem, pigarreei. Isso me parece ontem, mas provavelmente esse rapaz que escreveu não havia  nascido.

O que não me torna dona Benta. Acabaram as avós dona Benta, se um dia existiram. Enfiem isso na cabeça, crianças.  Nem as minhas avós eram donas Benta, senhoras mais compostas do que eu, sim, mas nenhuma das duas fazendo bolinhos de chuva para os netos, à tarde.

Uma delas cozinhava muito bem, mas sem grandes emoções, logo ficava livre para dar uns giros. A outra, protegida avó, me deixou de herança seu pilão de moer amêndoas, só dela, para doces que fazia numa cozinha só sua, escondida de todos. Escondidíssima, mesmo, jamais alguém a viu fazendo os tais de doces, e muito menos os doces.

Deixei o cabelo branquear, adoro um coque, o que me põe imediatamente no rol das velhas, mas não das fritadeiras de bolinhos. Por favor, não gosto que me chamem de dona Benta, entenderam? Não gosto e pronto.

O epíteto leva a pensar numa pessoa boa, amorosa, que só pensa nos outros, submissa ao marido e aos filhos, sem interesses a não ser os bifes acebolados, com o coração apertado por não ter sido secretária de alguma presidência. Arre! Seria mentira.

Mas… É aí que o resenhista que me chamou de dona Benta viu através dos véus. Posso ter ficado moderna em tudo, posso ter usado um salto 15 do Manolo Blahnik, rodopiado com as sainhas da Mary Quant, mas ninguém me convence que não existe uma coisa, uma essência, chamada mulher, que tem prazer de ficar em casa.

Que pode carregar pedra, acho besta esse assunto que a capacidade de um gênero é diferente da  do outro. Tudo igual. Mas, as melhores teorias caem por terra quando, no meio de um trabalho insano, minhas mãos começam a coçar para pegar um tricô. “Já vou, só acabar essa carreirinha aqui!”, é a frase que mais tenho vontade de gritar. Fala, Adélia Prado!

“Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora, me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como ‘este foi difícil’, ‘prateou no ar dando rabanadas’ e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez, atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.” É isso.

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Comentários

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  16. maria moraes comentou em 19/08/13 at 6:14

    Adorei os comentários, as respostas e a cronica em si! Que interessante essa variacao de pensamento. Para mim a Dona Benta povoou os sonhos. De ser sua neta, de ser Emilia, Narizinho e Pedrinho, de viver no Sitio do Picapau, nao o da Globo, no sitio mesmo “de verdade”. Nunca associei a D. Benta ao famoso livro de receitas, até porque quem fazia bolinhos, rosquinhas e as outras delícias era mesmo a Tia Nastácia! E adoro cozinhar. Para marido, netos, filhos e amigos e para mim mesma. Felicíssima a referencia ao poema da Adélia Prado. Que venham sempre mais e mais cronicas. Abraco da Alemanha!

  17. Nina horta comentou em 15/08/13 at 0:47

    Donas Bentas e donos Bentos, obrigada pelas intervençōes, nem sabem quanto preciso delas!
    Almerinda, obrigada, meu amor! nina

  18. lilian sanches comentou em 14/08/13 at 13:23

    Que mulher chata!

    • Nina horta comentou em 15/08/13 at 0:43

      Ah, Lilian, ser chamada no mesmo dia de D Benta e de chata, é dose. Concordo, o problema com a D Benta é meu. Nunca mais falo nele. Obrigada, daqui a um tempo me escreve de novo, quem sabe terei melhorado da chatice. Abraço nina

  19. Almerinda comentou em 14/08/13 at 12:24

    ADOREI!

  20. Fernando/61 comentou em 14/08/13 at 11:23

    Puxa vida, respeitosamente, quanta futilidade! Não seria mais fácil aceitar que a citação “Dona Benta” foi simplesmente pelo fato de você assinar uma coluna de culinária? Nada mais do que isso, uma bela coluna de culinária. Nada de associá-la com vovós piegas e tricoteiras cheirando gordura e alho… E quase virou estudo sociológico. Fernando/61 Santo André

    • Almerinda comentou em 14/08/13 at 12:27

      Fernando
      Não vi uma só futilidade! um texto muito bem escrito que defende idéias muito caras a autora (e para mim também) e de uma beleza quase poética.

      • Fernando/61 comentou em 14/08/13 at 15:30

        Almerinda (CC: Nina, of course!), por sinal nome de uma tia que tive, realmente o texto foi bem escrito, as ideias devem mesmo ser caras à autora, existe realmente uma certa poesia e paixão não escondidas, mas as citações de local e griffes ficaram antipáticas, forçadas, deslocadas até e sem nexo lógico para um mero protesto contra o “Dona Benta”. Para MIM, teria sido mais legítimo dizer simplesmente: detestei a simples comparação, esse crítico de fraldas não entende nada, é um neófito, um chato de primeira. Aliás, como eu também. Um abraço, with all my apologies.

    • nina horta comentou em 14/08/13 at 20:00

      Mas, não foi, Fernando, o crítico ia indo muito bem quando de repente para vender o livro começou a falar em receitas e D Benta. O livro tem pouquíssimas receitas, elas só servem para demarcar as épocas.Achei que ao nomear as modas da época estaria mostrando como a comida da qual falo no livro, pelo menos a de vanguarda, nem chegou a nós, ainda, a não ser nos Atala da vida. A avó de hoje usou mini saia, não adianta idealizar aquela avozinha do Chapeuzinho Vermelho, lembra, ela era o lobo!
      E faço essa crônica há 25 anos. Se não gostasse de cozinha, de agradar os outros pela boca, já teria desistido há muito tempo.
      Concordo com você, essas grifes podem ter soado ridículas, são ridículas, mas eram tão lindas! Londres era um jardim de mulheres lindas e de homens também nessa época. Tudo muito louco, mas lindo e livre. E não pense que fico zangada com críticas, se tem coisa que gosto é de crítica e recebo com o maior sorriso nos lábios e entendo, direitinho e agradeço. Nunca mais falo no Ossie Clark, mas que estilista, que roupas! Soou antipático, só isso.
      Puxa, ninguém acredita que o livro da d Benta é ruim, que D Benta nunca existiu, tô azarada!!

      • Fernando/61 comentou em 14/08/13 at 21:13

        Nina, boa noite. Jamais disse nem diria que as “griffes” soaram ridículas, apenas não ví lógica… e sei que eram de fato bonitas e apreciadas. Cá para nós, também nunca ví uma receita da D. Benta, “fake” de nascença, fazer suceeeesso; e só não tenho cabelos brancos porque cairam faz tempo…

  21. Iara Tribuzzi comentou em 14/08/13 at 11:18

    Oi, Nina
    Já escrevi para você, anteriormente.
    Não se zangue nem perca tempo com os críticos, faltam-lhes delicadeza e conhecimento.
    Tenho 72 anos, ainda trabalho, e adoro qdo. um dos netos pede :
    Ô , Vó, faz um macarrão para nós ?
    Bom feriado, beijo, avise qdo. vier a BH !

  22. nina horta comentou em 14/08/13 at 10:59

    É, não gosto mesmo de ser chamada de D Benta. Primeiro por detestar o livro, nunca usei, minha mãe usava o Rosamaria, e a D Benta nunca existiu, foi um cara da editoria que resolveu inventá-la. Não sei direito o que me pega nela. Acho que vocês que são jovens independentes, bonitas e fazem bolinhos estão certas. Não era isso que eu queria dizer? A Dona Benta que traz à cabeça uma velhota muuuuuuito boazinha, muito limitada é que me irrita. E não sei quem de vocês falou que era inveja. Pois não é que pode ser? A gente pode ajudar o neto a fazer a tese de mestrado e ele só lembra dos bolinhos da outra avó. ..

  23. Renata Mendes comentou em 14/08/13 at 10:27

    Bom, eu não compartilho dessa visão de que Donas Bentas são vovós que se vestem de vovós e que entregam suas vidas aos outros – maridos, filhos e netos. Para mim, as Donas Bentas são pessoas que sabem transformar amor em comida e que conseguem agregar pessoas com esse amor. E isso não inclui esquecer de si, necessariamente. Não sou vovó (tenho 30 anos). Trabalho fora o dia todo, estudo à noite e já conquistei muita coisa na minha vida. Sou uma mulher que se pode dizer moderna, independente. Mas AMO cozinhar para aqueles que amo e que quero bem. Eu adoraria se me chamassem de Dona Benta!

  24. Regina Celia comentou em 14/08/13 at 9:59

    Tenho 50 anos. Sou avó de 04 netos (o mais velho com 14 anos), separada e sempre fui independente, criei meus filhos sozinha, viajei , estudei e me profissionalizei…mas ADORO fazer bolinho de chuva à tarde para as pessoas que amo!…e bolo de fubá também.

    • Renata Mendes comentou em 14/08/13 at 10:21

      É isso, Regina! Ser Dona Benta não quer dizer ser submissa ao homem ou esquecer de si. Ser Dona Benta é dar amor em forma de comida. Para os outros, sim, mas também (e principalmente) para si. Acho que o mundo precisa de mais Donas Bentas, viu…

  25. Marcia comentou em 14/08/13 at 9:58

    Desconfio que invejam Dona Benta. Alias, vejo cada mais homens gostando de aprender receitas e passarem a imagem de maridos, amigos e pais amorosos. São os futuros Senhores Bentos, e com orgulho. Não é uma questão de se tornar cozinheiras ou cozinheiros profissionais do lar, mas saber fazer bem feito um prato no momento certo. O alimento sempre agregou fraternalmente.

  26. Silvia comentou em 14/08/13 at 9:37

    Café da manhã num hotel em Santiago del Estero, Argentina. Uma horda de motoqueiros, vestido couro preto dos pés à cabeça, invade a salinha, todos grandalhões. Vão atravessar o Atacama. Conversam em português, a maioria é de Minas Gerais, pelo que eu percebo. Mas não falam sobre condições das estradas, nada disso. “As rosquinhas que a minha avó fazia, essas sim, eram fantásticas. Nunca mais encontrei rosquinhas assim….” diz o encouraçado mais alto. “Pois a minha mãe fazia umas bolachinhas de manteiga…. ” rebate o outro. É assim. Memórias gastronômicas são as mais marcantes, sem dúvida, e se associadas à uma figura amorosa da infância da gente, então nem se fala! Se um dia a minha casa estiver pegando fogo, o primeiro objeto que eu corro pra salvar é o meu CADERNO DE RECEITAS! hehehe

  27. Hamilcar França comentou em 14/08/13 at 9:28

    Há,ainda ,os maridos dona Benta, aos 61 anos pesco,limpo, preparo com carinho a peixada que ela gosta. Comemos juntos,uma taça de vinho e…… “coisas prateadas espocam”

    • Renata Mendes comentou em 14/08/13 at 10:22

      Gostei!

  28. Fátima comentou em 14/08/13 at 8:38

    Também não gosto do estigma da Dona Benta, tenho 58 anos, sou separada, filhos adultos que estudam e trabalham em outra cidade e país: eu trabalho, estudo, e cuido de minha casa onde moro sozinha, sou independente. Tenho um neto de 2 anos, o qual vejo toda semana pela internet, pois ele reside em outro país. Portanto, não consigo me imaginar de coque , óculos no nariz, vestido florido, rodado e avental, vendo a vida passar em obrigações caseiras, sem remuneração…coitada da Dona Benta…

  29. Sonia Brito comentou em 14/08/13 at 8:00

    Bom dia. Hoje é meu aniversário, 72 anos. Adoro suas crônicas, mas a de hoje foi especial. Um presente de aniversário remetendo à magia dos 2 na cozinha, nem sempre limpando peixe, mas cozinhando, improvisando… “coisas prateadas espocam”

  30. sergio felicissimo silva comentou em 14/08/13 at 6:04

    Conhecí uma avó de 29 anos…Certamente não é nenhuma Dona Benta…Mas que é inconsequente é…

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