Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Nina Horta

Perfil Nina Horta é empresária, escritora e colunista de gastronomia da Folha

Perfil completo

O que há de errado com o Slow Food / 4

Por Nina Horta
30/06/13 22:13

O que há de errado com o Slow Food- continuação-4

Seja lá como for, o que Petrini decidiu é que a estratégia do terroir rejuvenesceria aquela específica região da Itália. Em 1986 ele fundou uma associação para “vender” ao mundo um pacote de história, paisagem, vinho, cozinha, e estilo de boas vindas para sua área italiana.  Foi isso que um ano depois de transformou  no brilhante e sugestivo nome Slow Food, com uma agenda que se estendia bem além do Piemonte italiano.  Apesar de que muitos nos Estados Unidos  viam o projeto como  uma retomada dos ideais da Dieta para um Pequeno Planeta, na verdade suas origens eram bem diferentes.

A questão é se um movimento gastronômico como o Slow Food fundado para estimular o turismo culinário, pode ter ambições tão grandes de corrigir ou substituir o Modernismo Culinário.  No livro de Petrini, e aqui me restrinjo a ele, não há nada a sugerir que isso possa acontecer.

Para começar, a adoção que Petrini fez da estratégia do terroir francês, com sua versão romantizada da história, significa que ele simplesmente passa por cima de muitas coisas que fizeram com que a comida italiana fosse o que é hoje. Ele ignora os tomates em lata que Francesco Sirio  colocou à disposição de todos o ano inteiro. Não fala nada sobre a máquina de extrusão e sala de secagem  que tornaram o spaghetti possível à nova nação.  Diminui  a influência de autores culinários como Pellegrino Artusi e Ada Boni  que escreveram sobre  a comida italiana e a codificaram. Passa por cima  da campanha de Filipo Marinetti nos anos 30 que luta por uma nova cozinha (apesar de que os métodos de Petrini – manifestos, visitas promocionais a Paris, e sua busca  de adesão da mídia coincidem muito com os métodos de Marinetti.  Oferece a nós um país sem supermercados, um país sem redes de fast food próprias.  Não há   uma    Associação de Comida e Cultura com sede em Roma apoiando o estudo  da comida camponesa no mundo inteiro, ou no World Association with General Agreements on Tariffs, and Trade e nenhum CAP, ou o  Common Agricultural Policy da União Europeia ( apesar de que o  movimento Slow Food tem muito em comum  com mudanças da política sobre a forma de produzir a comida, ie produzir quanto for possível tão barato quanto possível, produzindo comida de alta qualidade e com sustentabilidade.)

De modo que Petrini, não fazendo parte de nenhuma dessas instituições na Itália é tão artificial como um resort de praia em Maui, encalhado numa areia com palmeiras e o mundo mágico do enorme Mickey com seu castelo desproporcional.  Em vez da areia branca e do Mickey, temos pequenos restaurantes rurais que oferecem uma comida maravilhosa, lojas que vendem pão artesanal,queijos e salames.

Só de vez em quando a realidade se intromete e é quando Petrini  se queixa sobre certas comidas tradicionais italianas. Os camponeses e  fazendeiros não estão à altura do movimento.  Pastores  passam os verões com suas famílias ao invés de se isolarem nas cabanas alpinas. Fazendeiros de Abruzzi comem sua própria carne curada em vez de vendê-la no mercado.  Os camponeses da Sardenha fazem queijo de segunda classe e precisam melhorar suas técnicas.  Eles tem que ser forçados a produzir ingredientes e produtos tradicionais de alta qualidade.

A verdade,  como o próprio Petrini diz, é a construção do terroir.  É muito mais. É nada mais é que a invenção do terroir e não sua preservação.  Para cada produto de séculos, existem, diria eu, depois de ler muito sobre o assunto,(o Salone del Gusto), muitos produtos que saíram do repertório, ou que foram inventados ou reinventados para coincidir com o gosto moderno urbano.

Como marketing, as estratégias do Slow Food são soberbas, talvez o exemplo mais bem sucedido  da adoção  quase universal  da Estratégia do Terroir Francês  para vender comida no Primeiro Mundo.  Como base de um programa de reforma é profundamente suspeito.  Se nós, nos países adiantados  sofremos de amnésia coletiva quanto à escassez dos suprimentos alimentícios há um século atrás, também temos uma tendência  de esquecermos que a maioria das pessoas do mundo ainda vive sob uma dieta pobre. E dizer que o Slow Food  produzirá agricultura sustentável e que vai manter a bio diversidade sem considerar o restante do mundo significa que o problema está mal colocado  desde o começo.

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
  • Comentários
  • Facebook

Comentários

  1. drunk comentou em 10/07/13 at 10:50

    Great, thanks for sharing this post.Much thanks again. Much obliged.

  2. IMVU Credits comentou em 10/07/13 at 9:47

    Im thankful for the post.Really looking forward to read more. Much obliged.

  3. Павел Ливинский comentou em 09/07/13 at 18:37

    Спасибо! Буду теперь заходить на этот блог каждый день!

  4. cool news comentou em 09/07/13 at 16:31

    8QN01K Wow, great article post.Thanks Again. Really Cool.

  5. Павел Ливинский comentou em 09/07/13 at 14:26

    Как обычно просто супер обьёмная статья и как всегда дочитал до конца

  6. kwatery http://www.msarbinowo.pl comentou em 09/07/13 at 13:02

    I appreciate, cause I found exactly what I was looking for. You’ve ended my four day long hunt! God Bless you man. Have a nice day. Bye

  7. camperawnings.org comentou em 08/07/13 at 18:24

    Appreciate you sharing, great post. Really Great.

  8. cool news comentou em 08/07/13 at 14:54

    S1HyZj I truly appreciate this blog post.

  9. firefall comentou em 07/07/13 at 9:26

    I enjoy THEESE firefall! they are simply comfertable and chic.these products maintained my personal base trend while going for a walk throughout ideal that will protected the top firefall. As well, they are simply effortless to clean up. round to acquire the so next couple(antique in height bober inside brown:)) <Many

  10. http://www.msarbinowo.pl Sarbinowo comentou em 07/07/13 at 1:06

    Sweet website , super style and design , rattling clean and utilize pleasant.

  11. buy diflucan 50 mg comentou em 06/07/13 at 8:25

    Really enjoyed this article.Really thank you! Cool.

  12. Hack Facebook account comentou em 05/07/13 at 14:42

    Im grateful for the blog post.Thanks Again. Keep writing.

  13. buy lasix canada comentou em 05/07/13 at 8:27

    I truly appreciate this article.Much thanks again. Awesome.

  14. one-time offer comentou em 03/07/13 at 3:17

    iPhone 5 to begin production in May.. iPad 2 will be in February

  15. Márcia comentou em 01/07/13 at 9:15

    Mandou bem, Nina Horta. Concordo com cada e toda palavra posta no seu texto.

  16. Ana Paula Velloso comentou em 01/07/13 at 5:43

    “Como base de um programa de reforma é profundamente suspeito” Concordo, está fora da realidade do mundo moderno, não sei dizer historicamente, não estudo isso. Porém temos que ter em mente que o mundo é maior do que a França e a Itália, tem tb a África e o Haiti e …… “E dizer que o Slow Food produzirá agricultura sustentável e que vai manter a bio diversidade sem considerar o restante do mundo significa que o problema está mal colocado desde o começo”. E além da questão econômica tem a questão do mundo moderno de falta de tempo que anseia por praticidade, não da mais, feliz ou infelizmente, para come soufflé de queijo ou baião de dois (daqueles bem feitos) todos os dias!!! Não sei se captei de forma correta. É isso?

  17. Mario comentou em 01/07/13 at 0:00

    Artigo bem-feito e interessante. A conclusão (negritada) é ainda melhor.

Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailninahorta.folha@uol.com.br

Buscar

Busca
Publicidade
  • Recent posts Nina Horta
  1. 1

    Aviso

  2. 2

    A velha e a praia

  3. 3

    Coffeebreaks e breakfasts econômicos.

  4. 4

    Estripulias do olhar

  5. 5

    As (muitas) vantagens do delivery

SEE PREVIOUS POSTS

Arquivo

  • ARQUIVO DE 08/05/2011 a 11/02/2012

Categorias

  • Geral
  • Versão impressa

Sites relacionados

  • UOL - O melhor conteúdo
  • BOL - E-mail grátis

Blogs da Folha

Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).