O que há de errado no movimento Slow Food?
26/06/13 10:40O blog, como vocês sabem tenta falar sobre coisas que ainda não apareceram aqui no Brasil. Ensaios, livros, matérias de revistas, filmes sobre comida, e desabafos da blogueira. O motivo de não chegarem imediatamente aqui é a língua.
A blogueira Rachel Laudan pode ser achada no seu blog Rachellaudan, que trabalha muito á volta da história da comida. Eu nunca tinha ouvido falar mal do movimento Slow Food, sabia que ela andava meio capenga, mas não sabia o porquê. Aqui nesse artigo Rachel Laudan vai dar a opinião dela sobre o movimento. Achei que era uma fofoca boa.
Uma tomada de posição contra um dos movimentos de mais sucesso no mundo.
Rachel Laudan contra Petrini. São 10 páginas, vou traduzindo em 10 posts, ok?
Essa é a primeira página de dez do ensaio de Rachel Laudan no qual ela discorre sobre o movimento Slow Food.
Gastronomia – cultivo da arte de comer – sempre foi muito rara na história do mundo. A maioria das pessoas, na maior parte do tempo tinha mais do que fazer do que se preocupar com os delicioso sabores da comida, ao se sentarem à mesa. Para os pobres era um modo de encher o estômago, ou, raramente, num dia de festa, para se matar de comer. Para os piedosos era um modo de provar que podiam controlar os desejos da carne. As freiras, ou pelo menos as mais devotas entre elas, provavam suas vocações ao recusar mordiscar os ricos doces de ovos e açúcar que faziam para os mecenas dos conventos. Para os poderosos era um modo de mostrar seus poderes pondo na mesa tudo que era impossível aos seus inferiores. Os cortesãos da Renascença mostravam seu status em banquetes do Estado intermináveis onde a comidaera elaboradamente montada.
Nenhuma dessas pessoas estava pensando em comida boa.
Só quando apareceu uma classe urbana rica que não precisava se preocupar com a comida do dia seguinte, nem mostrar sua devoção, nem ostentar sua riqueza ou seu poder foi que apareceu a gastronomia. Só numa sociedade próspera na qual a riqueza não estava confinada a uma mínima parte da população é que ela pode florescer. Essas condições foram atingidas, por exemplo, no século 13 em grandes cidades da China ou do Islam: Hangchow, Bagdá, Damasco, Cairo e Córdoba – e de novo, nas cidades da renascença europeia, como no século 18 e 19 em Edo, Paris e cidades da China.
Com a gastronomia chegaram os gourmets. Ao invés de banquetes elaborados os gourmets preferiam jantares íntimos ou idas a restaurantes finos. Organizavam concursos para provar e julgar coisas boas como chá e vinho. Adoravam procurar espécimes raros e regionais e não se importavam de pagar caro por eles. Criaram uma literatura gastronômica que incluía, menus, livros de cozinha, guias culinários, poesia e filosofia. E se ligavam em culinária turística ou indo a restaurantes que se especializavam em comida de uma região particular, ou com a melhoria dos transportes, indo a restaurantes dos quais haviam ouvido falar.
Para os que podiam pagar, a gastronomia era um afastamento bem vindo da tarefa pesada de mostrar sua fortuna ou santidade. Tirava a comida do plano público e fazia dela um assunto de prazer pessoal. Aumentava um pouco o trabalho dos cozinheiros, donos de restaurante, fazendeiros e comerciantes. É claro que começou a surgir um pouco de esnoberia e especialistas. Mas, apesar desses traços irritantes, eles não eram o que há de pior nos vícios humanos. De modo que a gastronomia(como outros hobbies dos ricos, tipo colecionar primeiras edições de livros, cavalos de corrida, ou patrocínio de música de câmera) a felicidade humana aumentou sem perturbar seriamente os outros. E qualquer coisa que aumenta a felicidade humana sem perturbar os outros é uma boa coisa, convenhamos.
E agora temos o movimento Slow Food uma organização que se cristalizou a partir de alguns programas italianos quando o McDonald´s abriu em Roma. Em 9 de novembro, 1989, foi formalmente fundado como o movimento Slow Food para a defesa e direitos ao prazer, na Opera Comique, em Paris.
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