Fome de polêmica
28/11/12 03:00Logo em seguida a uma coluna que me mostra muito boazinha, comendo jabuticaba e dando milho para as galinhas, fico com uma vontade de fazer como o Pondé… Entrar numa polêmica das boas, só para implicar com todo mundo, Santo Exu, e ver, deliciada, os leitores se arranhando e me espinafrando com pseudônimo de ursinhos polares.
Mas não é meu jeito, o que eu deploro. Não consigo. Por exemplo, detesto todos os restaurantes de comida moderna que imitam os bons cozinheiros e cobram uma fortuna por um menu-degustação sem pé nem cabeça. Mas fico meses experimentando vários deles, quieta e depois só falo daqueles de que gostei.
Atitude que só tem me trazido dissabores vida afora. Não gosta, vá lá e fale e diga o porquê. E passe pra outra. E as discussões são sempre bem-vindas. É por causa da mania de viver botando panos quentes que a gente derrapa até na cozinha.
O que pode haver de mais escandaloso na cozinha? Aqui no bufê é tudo de uma santidade sem fim. A não ser… O cozinheiro que tinha três mulheres e se dava muito bem com todas e ainda namoriscava um pouco nas horas vagas. Passados muitos anos, as três deram o fora nele ao mesmo tempo. Acho que no século 21 foi a única pessoa que conheço que morreu de amor.
Traições, fingimentos, mentiras, fofocas, tudo isso rola em todos os patamares de uma cozinha, mas acho que é o máximo que acontece por essas bandas.
Logo no começo do bufê, quando os cozinheiros ainda faziam parte de um submundo e nem eram celebridades de revistas, vimos que havia uma briga se desenvolvendo entre os nossos e pedimos que viessem conversar.
Descobrimos que um deles tinha levado a foto do outro para o cemitério. Qual seria a implicação do gesto? O que acarreta levar a foto para o cemitério? Nunca soube, só suspeitei de chamamento dos mortos, talvez, para abocanhar o cozinheiro em 4×4.
Mas nada disso dá polêmica, ninguém quer nem saber dessas histórias. É preciso assunto mais gordo, como o do foie gras, que, se mencionado, traz e-mails de ódio candente. E falar em matar galinha também faz o mundo cair. Nem são vegetarianos. É porque falar em morte de galinha é proibido, bate na alma, galinha é um bicho muito íntimo.
E que não se toque em caça. Não se come caça e ponto final. Seria bom se pudéssemos discutir esses assuntos sem ficarmos ofendidos até o âmago. Pelo jeito, na cozinha, somos mais de bebidas e alegrias e rodopios no salão.
Com criatividade, poderíamos aludir à causa das baleias mandando um e-mail para todos os clientes. “Podem me chamar de Ishmael.” Ou virar uma crítica de restaurantes tão ferina, que pelo menos dois cozinheiros criticados se enforcassem por ano.
O Anthony Bourdain foi às alturas por um sucesso de escândalo, quando contou como eram os bastidores dos restaurantes tim tim por tim tim.
E o palmito assado Kaiowaá poderia ser um carro-chefe sem precedentes. Se ajudaria os índios, não sei. Mas acho que, nessa vida tão difícil, deveríamos ter o direito de ser burros pelo menos no Facebook, seio de mãe a transbordar carinhos.
É Nina, existem coisas que são dificilmente aceitas por algumas pessoas, pelo menos virtualmente. O povo pula no nosso gogó, pronto para sangrar e escarafunchar nossa aorta! Acho que já havia lhe dito que meu gosto por touradas me desabilitada em reuniões (virtuais ou não) de vários grupos… Gosto de touradas, admito que alguns fiquem chocados, mas isso não impede que eu goste e divida esse gostar com um grupo de pessoas que, a priori não são cruéis e sanguinárias.
o desenho da Maria Eugênia que sae no papel, belo e colorido, retrata devidamente a coisa. o retrato, máscara, persona, da família ficava no átrio da casa como atualmente ainda fica.
a máscara da Pessoa antigamente em Roma representava a família inteira, havia uma máscara da família ( o retrato é genérico e passando os séculos foi se individualizando, como se fosse um retrato da Horta e não da Nina ). ela aparecia para os outros nos cemitérios quando no enterro de mortos todos levavam suas máscaras familiares. vc pode imaginar em tal momento um encontro dos ‘deuses’ ou dos ‘demônios’ no sentido grego de ‘daimon’ da etimologia mesma da palavra.