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Nina Horta

Perfil Nina Horta é empresária, escritora e colunista de gastronomia da Folha

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Um pedaço de terra mequetrefe

Por Folha
21/11/12 03:00

Tomei café da manhã e fui me sentar num banco duro lá fora, só para tomar um solzinho e me sentir dona da jabuticabeira que, neste ano, está dando mais que o pires de “fruita”, como era de costume.

Fico até disfarçando o orgulho que sinto daqueles galhos pretos, era o que me faltava na vida. Ainda será preciso esperar uns dois anos para ela estalar de vez, em tlocs, plufs e nhocs.

Perto dela, tem uma arvorezinha parruda de pimentas negras, acho que são mexicanas. As pimentas parecem pitangas, ardidas, mas frescas, fazem bem a qualquer comida. 

Sem querer, fui moldando um quintalzinho caipira, com a ajuda do seu Antonio, que vem aqui em casa três vezes por semana e conversa com plantas e com bichos e divide a marmita que traz de casa com o cachorro. 

Planta mangarito, cará roxo, galangal, mas não sei se se esquece do local ou as plantas não vingam porque jamais consegui achar os frutos dessas plantações. Quando pergunto, embrulha daqui, embrulha dali, fala baixinho e me mostra o gengibre, só o gengibre.

Antes o jardim era bem bonito com umas cutucadas da Suzana, da Bothanica, mas fui relaxando. Primeiro ganhei duas galinhas garnisés, tão comoventes na sua pequena burrice…

Por mais amante de galinhas que eu seja, não houve como mantê-las soltas. Entram em casa nas piores horas, o desconfiômetro é zero, vivem em perpétuo estado de susto, à beira de um ataque de nervos.

Põem os ovos mais lindos, menores do que os comuns e maiores do que os de codorna e gorgolejam, desafinam, gritam, compartilhando o espaço com duas tartarugas e alguns pardais comilões.

Sentada ali, vejo que a primavera fez umas flores modestas. Tem uns jasmins-do-cabo cheirosos que duas amigas inventaram de me dar no mesmo dia. Cresceram numa rapidez e cheiram muito bem.

A casa vizinha à minha era térrea. Foi vendida e construíram uma fora do gabarito do bairro, com três andares. Meu sol sumiu por algumas horas e todas as plantas espicham o pescoço o mais que podem para alcançá-lo. Uma roseirinha deu um cacho a uns três metros de altura, acreditem.

Ando louca por umas boninas de todas cores. Até já tive, mas elas se espalham com tanta gula pelo chão que cortei tudo e agora meu coração fica pequeno quando as vejo florindo em outras casas.

Os sabiás são do tamanho das galinhas pois comem ração de cachorro, milho e mais o que apareça. São gordos, barrigudos e não sabem o perigo que correm em casa de cozinheira.

E as maritacas ou maitacas. Barulhentas, passavam gritando em voo e se aboletavam num pau d’alho altíssimo. Comprei umas sementes especiais para elas.

Agora ficam à distância de um braço, naquela boniteza verde, descascando cada semente com o bico e aquelas garras de papagaio que têm. São buliçosas, olha só que palavra mais velha.

Confessem que isso parece um paraíso. Não. É um pedacinho de terra bem mequetrefe que eu embalo com os olhos e nem trato, deixo que ele cresça maluco e misturado, como um matinho da infância. Só falta mamona para fazer uns cachimbos. Vou providenciar.

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Comentários

  1. nora comentou em 27/11/12 at 17:36

    não é fácil fazer parecer um pedaço de terra mequetrefe com uma plantação razoável…também não é fácil fazer parecer tão simples um texto tão complexo…muito belo!

  2. Tania Sciacco comentou em 23/11/12 at 17:37

    Seus textos são imperdíveis! Parece que vejo o banco duro, a jaboticabeira e até o sr Antonio… Já que é pra dividir com o cachorro, melhor trazer de casa…
    Beijos Nina e obrigada pela poesia dos seus textos.

  3. ivonecarvalho comentou em 22/11/12 at 15:39

    Por que sera que este Senhor Antonio tem quer levar a marmita de casa?? Sera que o empregador nao pode fornece-la, empregador este, profissional da area de Gastronomia….
    Comico, nao??

  4. ivonecarvalho comentou em 22/11/12 at 15:38

    Triste e saber que o Senhor Antonio tem que levar a marmita de casa… O empregador nao se da ao trabalho de alimenta-lo ( ha um momento… so agora me lembrei da profissao do empregador)…
    Comico, nao??

  5. sid comentou em 21/11/12 at 21:56

    Muito bonito, tudo. Saudações.

  6. Maria Guiomar Ribeiro comentou em 21/11/12 at 17:16

    Nina,
    Que texto legal. Também tenho uma jaboticabeira que dividimos com os passarinhos em plena São Paulo! E seu livro “Não é sopa” é uma delícia. Fiz a rosca mexicana ou de qualquer lugar do mundo é ficou muito linda e gostosa. E quanto ao pão de guerra, minha mãe também fez. Tempos duros! Agora “pão com ovo, cachorra” simplesmente formidável. E vou passar uns hábitos de velório mineiro. Aguarde. Bem brasileiro e com fartura. Beijos. Guiomar.

  7. ze comentou em 21/11/12 at 13:17

    que texto bonito ! jabuticaba era difícil de entender até que um dia bati tudo, casca, semente, polpa, no liquidificador e coando me deliciei com o suco. aqui também os prédios erguem-se diante de casas humildes afugentando as pessoas para longe. parece o filme ‘Up altas aventuras’ desenho animado que conta a história de um velho expulso de sua casa pela imobiliária local.

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