O homem que comeu o mundo
07/11/12 03:00Jay Rayner é o crítico de comida do “Observer”, de Londres. Começou nos 90, quando Londres e o mundo já haviam redesenhado o mapa dos restaurantes famosos. E ele tinha a impressão, grudada no fundo de sua consciência, de que em algum lugar do mundo existia a melhor comida. E de que ele poderia achá-la se se esforçasse muito.
Durante o dia ia aos restaurantes e, à noite, lia blogs. Adorava os blogs de Steve Plotnicki, um nova-iorquino milionário que frequentava todos os restaurantes sempre levando uma garrafa de vinho de sua adega, mesmo que estivesse num boteco vagabundo. E o blog “Chez Pim”, da tailandesa Pim Techamuanvivit, por causa das suas receitas complicadas das ruas de Bancoc e dos menus parisienses que ela também postava depois de visitas.
Quanto mais ele se empenhava, mais reconhecia que o mundo havia mudado. Primeiro era só Paris. Se queria comer bem era em Paris, uma cidade inteira confiante na sua capacidade de oferecer a melhor comida do mundo.
O fim da Guerra Fria, segundo ele, mudou tudo. “Uma nova classe intercontinental, cheia de dinheiro, se formava —não só na Europa ou nos Estados Unidos mas também na Rússia, na China, no Oriente Médio e no Japão. A nova tribo desenvolvera um gosto por símbolos da sua afluência, menos tangíveis do que o iate imenso e o carrão. Queriam estilo de vida. Experiências, hotéis, spas e… restaurantes.” A gastronomia se globalizara.
Muitos outros críticos haviam chegado à conclusão de que a boa vida não estava nesses restaurantes de luxo. Estava na autenticidade, no pequeno restaurante dos caminhoneiros de estrada, na pousada à beira do riacho onde saltavam as trutas.
Na mesa do camponês que chegava do trabalho de ordenhar as vacas. Jay Rayner suspeitava da autenticidade e da simplicidade total. Para ele, havia algo de errado naqueles que achavam que a boa comida estava dentro dos estilos de vida dos muito pobres, que esse modo de comer era mais autêntico do que aquele de quem tinha um liquidificador e outras bobagens como eletricidade e água boa para beber.
Jay Rayner tinha até vergonha de pensar assim, sabia que, como escritor, precisava ter um elo com o camponês desdentado. Mas latejava nele, como crítico de restaurantes um plutocrata de dentes brilhantes. Ele queria saber o que comiam os ricos, muito ricos.
E queria se justificar daquela vida que levava de ganhar dinheiro comendo. Sair pelo mundo procurando respostas poderia ser uma redenção. E quem sabe encontraria respostas para as perguntas que as pessoas se fazem incessantemente.
A cozinha é uma arte? Quanto podemos aprender sobre o mundo em que vivemos por meio da comida que chega ao nosso prato? É moral comer enquanto outros passam fome? A globalização ameaça extinguir a chama da criatividade que por tanto tempo ardeu no peito dos chefs?
Daí começou a peregrinação virtuosa. Las Vegas, Moscou, Dubai, Tóquio, NY, Londres e Paris. Viaje com ele. Além de tudo é engraçado. O nome é “The Man Who Ate The World”, Jay Rayner (ed. Headline Review).
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A produção de alimentos é uma das atividades mais sobres de qualquer sociedade, mas também uma das menos valorizadas. Quando a madame se escandaliza com o preço do tomate não imagina as dificuldades enfrentadas para colocar o produto na prateleira do supermercado. Ironicamente, quem escreve sobre alimentos e a produção dos mesmos acaba ganhando mais dinheiro do que aqueles que os produzem.
na Távola Redonda só se comia se antes se anunciasse uma maravilha e por isto ficavam todos esperando de jejum à Mesa : ‘não só de pão vive o ser humano’ disse Moisés. o alimento é espiritual. ‘Da boca de Deus’ da expressão mosaica, faraosaica ( farisaica cabe perfeitamente retirando o cunho pejorativo afinal e´uma classe,casta, hierarquia eclesiástica ) é imagem forte.