Joseph Anton Memórias
26/09/12 01:18Joseph Anton: Memórias
Pois é, as memórias de Salman Rushdie, pela Companhia das Letras caíram bem no nosso colo na hora exata. Porque quase ninguém leu Os Versos Satânicos. Era um tal de começar e parar… e não ler nunca mais. Com o filminho na Internet provocando mortes somos capazes de entender melhor a saga da fatwa, o passar pela vida com medo real de morrer a qualquer hora. Praga da condição humana , mas no caso, com a FBI dormindo na sua garage para te proteger ela se torna mais real e palpável.
Muitas vezes dá vontade de achar que nem tão difícil era morar numa boa casa, ter uma carrão blindado e vários seguranças e as queixas dele parecem pequenas comparadas a qualquer habitante de cidades perigosas.
Mas, era o sentimento de não ser livre para publicar, não ser livre para falar o que quisesse, liberdades de todo dia, de dar a volta no quarteirão, comprar o jornal na esquina, essas coisas que pelo jeito são importantíssimas, apesar de não nos darmos conta disso.
O livro é bom, li no IPAD sem consciência do tamanho, não consigo calcular sem sentir o livro nas mão, mesmo que me digam quantas páginas têm.
Depois das memórias, muito pessoais, cândidas e pasmem, na terceira pessoa, o que às vezes dificulta a leitura. Por exemplo, ele acaba uma frase falando sobre alguém. Começa a frase seguinte com o pronome “ele”. Que ele? O sujeito da outra frase? Ou ele próprio? Com a leitura das memórias resolvi me obrigar a ler Os Versos Satânicos. Já desenfurnei quase todos os livros para me animar a começar. Haja tempo.
Acho que depois de ter lido os indianos mais modernos os dele ficaram mais fáceis e a tradução é muito boa.
O maior valor do livro, para mim, foi humanizar um sujeito que tem uma cara antipática e um comportamento levemente pomposo. Ele explica a cara de antipático. Tem um problema nas pálpebras que não se abrem bem o que o faz ter um aspecto soturno. Acreditei, no começo, mas tampei seus olhos com as mãos e ele continua com cara de antipático. Todos os que estiveram com ele na Flip dizem o contrário.
Mas, quem vê cara não vê coração e ele foi o escolhido para representar o homem censurado, a palavra censurada, a boca calada contra a vontade.
Os temas do livro: a sua campanha, suas incertezas, seu desconforto, a luta contra a censura e a promessa de morte. Ele, como pai, como marido, filho e last but not least indiano. Às vezes soberbo demais, name dropper. Parece cultivar suas amizades, já uma grande virtude. Conheceu uma de suas mulheres através de Liz Calder, uma das editoras da Bloomsbury, que inventou a FLIP.
Achei que valeu a pena ler, principalmente para quem quer entender melhor os conflitos com os muçulmanos. Ele acha, que de certa forma, a atitude tomada contra ele foi o primeiro passo para a destruição das Torres Gêmeas.
Desculpem se esse post é somente para contar que li esse livro, porisso faltei ao blog. Para não dizer que não tem nada a ver com comida, sua última mulher foi Padma Lakshmi, a bonita morena do programa TOP CHEF.