Marcus Samuelsson, um orfão africano -1
13/08/12 18:34Vi um chef no programa do Charlie Rose na TV Bloomberg e fiquei encantada. Negro bonito, de traços muito finos, pestanudo, achei até que estava maquiado. A voz sussurrante e terna, tipo bom rapaz. Não resisti e fui ao livro dele recém lançado.
“Yes, chef . A memoir.”
Para que ler mais um diário de cozinheiro se são todas iguais? Não sei. Eu gosto.
A saga da pilha de batatas, as noites mal dormidas, a tirania dos chefs estúpidos, as pequenas implicâncias dos chefs que nunca crescerão por suas mesquinharias, e afinal a história do menino que vira o primeiro entre seus pares. No meio dos livros sempre tem uma nova filosofia de culinária, um novo jeito de assar uma galinha.No caso de Marcus Samuelsson um jeito novo de se curar um salmão. É bem escrito (usou uma ghost writer) e não entedia nada. Li de uma vez só, ou duas. Uma noite e meio dia.
Órfão africano, etíope, foi adotado com a irmã por uma família de uma cidadezinha sueca. Ele tinha três anos, não se lembrava da mãe, mas a comparava com uma mistura de temperos africana, berbere, usada em tudo na Etiópia. Na sua imaginação de adolescente via a mãe muito pobre levando-o a pé, com a irmã, para o hospital.Ou fazendo uma polenta de grão de bico com manteiga e cebola e polvilhada com berbere, era o que os muito pobres comiam. Com o pão chato injera, feito com o grão teff.
Pois o menino sem mãe virou sueco. Ele e a irmã. Foram recebidos na Suécia com a comida da avó, com um refresco de frutas vermelhas e dois tipos de sanduíche, um de uma espécie de parmesão duro e outro de patê de campagne em pão preto de cereais. Picles, mostarda e um bolo de maçãs.
Nada mau, e daí em diante foi virando um sueco dos bons. Pescar com o pai, defumar o peixe, comer e ajudar a avó, uma grande cozinheira intuitiva. Muito arenque, peixe fresco, e a tradicional frigideira de batatas, anchovas, cebola e creme. E o frango assado, temperado com cardamomo, gengibre, sementes de coentro, tudo em pó, moído na hora, na pele da ave. Uma caminha de cenouras com o frango recheado com tudo que havia no quintal, alecrim, maçãs, cebolas, um pouquinho de alho.
A vida era a família, a escola e o esporte. O esporte empatando com a família. O futebol. E quem o inspirou a querer ser um grande craque? Pelé. Só não se tornou um jogador por ser pequeno. (Mais tarde se descobriu que sua idade estava errada, ele era um ano mais moço do que os papéis da adoção informavam.)
O menino bom de bola se desaponta e esquece o futebol. Estava nascendo o cozinheiro.Vai para um escolinha de cozinha, aprende a hierarquia, a disciplina de uma cozinha, os métodos básicos, estuda o Larousse Gastronomique e o livro de Escoffier. Mas lá no fundo achava os livros sem graça, muito tradicionais, queria criar.Por que não se podia misturar o pato com laranja a um arroz ao curry em vez de servir com batatas dauphinoises?
Oi Nina, tomei conhecimento deste chef pelo programa Top Chef masters (aho q ele ganhou, nao me lembro), onde ele praticava uma culinária heterogenea e inventiva. Fiquei cuioso, bom saber do livro. Abraços!
Esquece, Wair, são uns 3 a 5 livros, bons, mas já tem coisa mais nova. Impressionante como as novidades chegam e morrem depressa!Abraço, Nina
Trabalhei com o Marcus no Aquavit em 1998 e ele já era a sensação de NY. Na ausência do chef os pratos saiam da cozinha, todos muito bem feitos. Mas, quando o chef estava presente e colocava sua mão, era como mágica. O prato se iluminava!!!! Saudades!!! Nina, parabéns pelos seus textos deliciosos. Eles servem de inspiração para os meus. Bjs
Jura, Andrea, que privilégio! E muito obrigada pelos elogios e mil desculpas pela minha cabeça de velha maluca. Me diga o quê e onde vc escreve para eu ler.
Esses suecos ! Tudo de bom !
Vi ele num dos “Top Chef”, fiquei na torcida para ele ganhar, ms acho que não deu.
A frigideira de batatas e anchovas se chama “Janssons Frestelse” (A Tentação do Sr. Jansson), é um clássico e uma delícia. Quando estiver com vontade me fala e eu vou fazer pra vocês.
Muitos beijos cabeludos,
Ashraf
Sabe que eu não sei trabalhar bem com anchovas? Teve um tempo que minha cunhada comprou baldes, me mandou potes e só comi. Vamos combinar um dia desses.