Cozinheiro pensa?
17/04/12 23:43Li O Artífice, de Richard Sennett, da ed Record, há algum tempo, mas parece que vai ser traduzido outra vez pela Companhia das Letras. É um ensaio sobre o trabalho manual.
E quem somos nós, cozinheiros? Artesãos. Parece que demos agora para pensar.
Muita gente acha que a função do cozinheiro é cozinhar e só. E cozinheiro precisa lá pensar?
Que história é essa de toda cozinha ter por baixo uma filosofia?
O livro acima oferece um bom respaldo para a auto-confiança do cozinheiro, tanto lidando com as panelas quanto pensando nelas. Na verdade, o autor busca os argumentos para uma vida material mais humana e acha que se entendermos como são feitas as coisas, se atinarmos para a importância de trabalhar com as mãos, de literalmente botar a mão na massa, recuperaríamos um impulso básico e nunca perdido, a vontade de fazer um trabalho perfeito, bem feito por si mesmo.
Na culinária, a relação entre a mão e a cabeça são óbvias.
Estou com fome, o que posso fazer com esse legume duro e cheio de pétalas e com um monte de feno por dentro?
É pegar, cheirar, provar cru, imaginar o gosto, cozinhar. Mas de que jeito? A técnica para fazer uma alcachofra gostosa se desenvolve através da imaginação. E daí a improvisação diante da falta de ferramentas adequadas e, logo depois, inventar as ferramentas.
Quanto mais difícil, mais espertos ficamos para conseguir um resultado que nos satisfaça. Aprender com a experiência.
O artífice (o cozinheiro) carrega dentro de si uma coisa especial que é o engajamento.
E o engajamento não pode separar cabeça e mãos. Um serviço repetitivo e automático não leva a nada de bom e humano nem para a cabeça nem para nos expressarmos manualmente. Quando estamos tecnicamente muito bem preparados podemos sentir plenamente e pensar profundamente o que estamos fazendo e com orgulho.
Seria bom pesquisar a cozinha através dos tempos. Teríamos que descartar o trabalho movido pela admiração ao mestre e à tradição. A cozinha não pode ser um lugar confortável para o cozinheiro. É onde ele é levado ao aprendizado por alguém que sabe mais.
Pode ser dolorido descascar mil batatas, mas é preciso.
Há que existir padrões a serem alcançados e, de preferência, o ensino não deve sair de um frio manual, e sim dos esforços de fazer o melhor possível, da curiosidade frente ao ingrediente, da vontade de mudá-lo, transformá-lo, levá-lo para outro domínio.
O antropólogo Lévi-Strauss, “o Ovídio da moderna antropologia”, sempre se manteve aberto ao tema da metamorfose. Para ele, o artesanato fundador é a cozinha. O cru é o mundo da natureza, tal como encontrada pelos seres humanos; o ato de cozinhar gera o mundo da cultura, a natureza metamorfoseada.
Para progredir na habilidade manual, o processo de trabalho tem que visitar outros domínios, qualquer domínio, o da pintura para as cores, o da física e química para as reações, o da música para a sensibilidade, da leitura, da dança, por que não?
Tudo tem sua valia para a metamorfose, até os passos em falso, os cul-de-sac, as estradas erradas. A capacidade de mudar, de brincar, de jogar, comparar hábitos, conviver com outros cozinheiros, ensinar e aprender, enfim, muito riso e muito siso.
OS – Só o setor “receitas” já valeria a leitura do livro. Qualquer dia conto para vocês.
Oi! Achei ótimo o que você escreveu nesse post. Recentemente assumi o comando da cozinha de um restaurante onde trabalho, mas ao invés de apenas copiar o antigo chefe, que tem vasta experiência em restaurantes de diferentes lugares do país, procuro ao reproduzir seu pratos melhorar sempre o que é servido, com o respaldo das técnicas que aprendi e continuo estudando.
A decoração, a preocupação com o modo de preparo, inclusive também experimentando os sabores de certos ingredientes crus, imaginando a melhor forma de harmonizar o prato, tudo isso o cozinheiro deve se preocupar, se entender a arte daquilo que faz;
contospromissores.blogspot.com.br
Oi! Achei ótimo o que você escreveu nesse post. Recentemente assumi o comando da cozinha de um restaurante onde trabalho, mas ao invés de apenas copiar o antigo chefe, que tem vasta experiência em restaurantes de diferentes lugares do país, procuro ao reproduzir seu pratos melhorar sempre o que é servido, com o respaldo das técnicas que aprendi e continuo estudando.
ó decoração como modo de preparo, inclusive também experimentando os sabores de certos ingredientes crus, imaginando a melhor forma de harmonizar o prato.
contospromissores.blogspot.com.br
Adoro cozinhar e tive que aprender a usar os vegetais de uma maneira mais ampla porque meu marido eh vegetariano e claro ter que realmente pensar cada dia o que cozinhar e criar pratos diferentes com os mesmos vegetais foi um desafio e continua sendo que da muita satisfacao quando crio my own recipe ou simplesmente copiar uma boa receita de um livro. Obrigada pela sugestao do livro vou ler – grande abraco adoro sua coluna
Existe duas situações distintas neste “post” o Cozinheiro como quem pensa o que pode fazer com um conjunto de “ferramentas” e aquele a quem chamam cozinheiro que apenas executa uma receita. Não quero tirar o valor a nenhum deles pois para executar algo principalmente na cozinha existe necessidade do saber, no entanto temos de dar muito valor aqueles que conseguem com mestria conjugar os ingedientes para fazer algo único.
Obrigado pela sugestão do livro, vou tentar encontrar para ler.
é um tratado sobre o afrtífice da cozinha aos softweres abertos, passando por stradivárius, os ourives, os cozinheiros, os marceneiros e a inimaginável abilidade das mãos