Gordon Ramsay, o que embala nossas noites
29/03/12 18:31Sabe aquela criança que você tem que fazer dormir e ela pede sempre a mesma história que sabe de cor? E então, você, já com mais sono do que a ouvinte pula um pedacinho, que não tem a menor importância, que o sapo bateu na porta, toc, toc, você só pula o toc e já põe o sapo pra dentro. A criança que parecia embalada, acorda como se tivesse levado um choque, indignada, “e o toc, toc?”
Acho isso bastante parecido com nossa TV de adultos. É tudo igual, dizem alguns. Uma droga e tudo igual. Mas, respondo. Vocês já tiveram a sensação de entrar no quarto para dormir depois de um dia de surpresas e trabalho, enfiar um pijaminho de flanela velho, olhar para a cama posta com lençóis limpos e muitos travesseiros macios, o último refúgio do guerreiro? Um lugar onde não será incomodado, onde vai poder ler, rezar, cantar, fazer o que quiser, ou assistir um programa de gastronomia, seu hobby apaixonado? É como se uma fatia de mundo fosse inalcançável, só sua, o canto da felicidade. E daí você vai ligar a TV. Vai ser numa entrevista sobre neurônios, ou naquele programinha besta que você assiste há anos, o entrevistador é o mesmo, o cenário mudou um pouquinho, as perguntas são tão semelhantes que é perigoso o entrevistado responder antes de ser perguntado?
Esta introdução toda para falar nos programas de comida, na TV. Não sou a rainha deles, mas vejo bastante.
Passei uns tempos na Inglaterra há uns oito ou dez anos e me hospedei num apartamento que ficava ao lado do restaurante onde o Gordon Ramsay era o chef. Estava às moscas, pois ele acabara de ir embora levando toda a brigada. E na época a moda era dizer que ele era um patrão intratável. Fiquei meio desconfiada porque a brigada não segue um mau patrão. Comecei a procurar, conversar, e na verdade o que me pareceu é que era um excelente cozinheiro e muito exigente. E que trabalhar para ele valia estrelas no currículo.
Só um parênteses. Nessa época encontrava-se o Jamie Oliver, de motocicleta em todo lugar que se ia. De capacete, parava na frente do restaurante e já enveredava para a cozinha, almoçar ou jantar com o chef. Cheguei a encontrá-lo duas vezes ao dia, à tarde num restaurante italiano e à noite num chinês de dim sum, acompanhando um cara bonito, vestido daquelas batas como o Cosac ou o Naify. E seu programa já era visto por todos, mas como o meu flat era num condomínio meu marido não deixava aumentar a TV e eu só via, não escutava nada. De lá para cá não mudou muito, e a diversidade de assunto, a receita diferente, são a única diferença de um programa para outro, mas tudo bem, ele está ali para ensinar a cozinhar.
Já o programa do Gordon Ramsay segue um roteiro escrito por alguém que entende desta coisa de repetição.
O roteiro é absolutamente igual na série inteirinha. Gordon chega numa deliciosa cidade do interior da Inglaterra para ver como anda um restaurante que solicitou os seus serviços por estar com problemas. Chega e , já na entrada a decoração o incomoda, afinal está numa cidade à beira-mar, o que significam aqueles quadros de caça na parede? Senta e pede a comida. O cozinheiro, orgulhoso, manda o que faz melhor. Ramsay quase morre de nojo e de raiva. Como é que um cara pode cozinhar tão mal e se desviar deste modo de suas origens e das origens do lugar?
Há uma conversa tensa, Gordon pede que limpem a cozinha e joguem fora tudo o que está lá. Vai visitar a cidade, vê que eles tem o melhor cordeiro da região, que o entorno da cidade é todo plantado de ervilhas, que as árvores estão se dobrando de tantos pêssegos. Volta ao restaurante e elabora um cardápio pequeno e enxuto, só de cordeiro preparado de três maneiras, uma sopa de ervilhas, e um sorvete de pêssegos com a fruta cortada na hora misturada à calda. Só, Não vai haver com o que se preocupar. O chef fica zangado, arranca o avental e vai embora e o sub chef entra e prepara na perfeição o jantar que é saudado pelos clientes como delicioso(antes o Gordon Ramsay já inventou um jeito de convidar as pessoas para este jantar, ou grelhando um cordeiro na rua e fazendo com que as pessoas experimentassem ou oferecendo um jantar pela metade do preço). Vai-se embora nos anúncios e volta depois deles para ver como está funcionado o restaurante. Maravilha! E sabe quem voltou para a cozinha? O chef zangado que se arrependeu e agora compartilha a chefia com seu ex sub chef. O dono e a dona não cabem em si de contentes e o rosto enrugado de Gordon se permite um desenrugar feliz. Fim do programa.
E não são todos assim, exatamente iguais? Imagine o dia em que ele chegasse e a comida fosse ótima, e o cozinheiro obedecesse as suas ordens e o patrão fosse um anjo, qual a graça para nós que queremos dormir ao som do roteiro tão conhecido que não atrapalha o sono de ninguém?
O engraçado é que já foi feita outra série em que Gordon mostrava a sua casa, seus filhos, como fazia a comida, como ensinava às crianças a criar e a a matar os bichos com muita naturalidade e compaixão.Era um ótimo programa. Ele, não podemos negar leva jeito para a TV. Sempre digo, que para fazer o cozinheiro da TV não é preciso ser cozinheiro, é preciso ser ator. E o Gordon Ramsay é as duas coisas, um grande cozinheiro e um bom ator e acho que tem arrastado sua asinha para a TV, pois deve dar muito mais dinheiro que um restaurante inglês, dependurado em clientes muito ricos.
Outra série dele é sobre cozinheiros que se matam para conseguir um primeiro prêmio. Este é o mais chatérrimo de todos, porque não se vê receita nenhuma só os caras cozinhando e correndo de cá para lá, um falando mal do outro, e o Gordon Ramsay fazendo papel de carrasco grosso no fim.
Só pode ser pela repetição que agüentamos. Tudo igualzinho, todo dia, quero dormir, não quero saber que outro avião caiu, que logo ali mataram cento e vinte. Onde está o príncipe, com a mesma fala e a mesma cara que embala minhas noites? Gordon Ramsay não me deixe com pesadelos, seja o sapo comportado de meu conto de fadas.
Aiiii adorei seu post, concordo plenamente com o que vc diz. Ele grita, pinta e borda com os participantes de seu programa, tb pq quer tirar o melhor deles… Assisto 3 programas dele… Hell´s kitchen, Kitchen nightmares e Masterchef US… e dou muitaaaa risada com ele. bjussss
Eu amo assistir essas repetições, e vmc tem razão é um conto de fadas pq tudo acaba bem no final. Só não tem morte de lobo ou bruxa. Gordon comanda o show. Amo demais! Estou com vc ele bem que poderia ensinar as receitas. Abraço!
Bom nao compartilho da mesma opniao , inclusive acho que falta uma cultura riqua como esta que Gordon vem nos apresentado, em nosso pais eu acho Ramsay simplismente o melhor cheff que ja conheci pois eu gostaria que me dissesem quantos “cozinheiros” possuem o patrimonio semelhante ao dele? gente chegar onde ele chegou e o sonho de todos nos .Nao e? eu sinto que tudo que ele faz e explendido e com amor com o coraçao o mundo precisa de pessoas assim sei que vcs vao concordar com migo quem sou eu para gerar esses comentarios mais meu sonho e ser um cheff parecido com Gordon Ramsay . um grande abraço .Nina sou um leitor aciduo de sua coluna te adoro e um enorme prazer acompanhar sua carreira bjs.
Ótimo !!! pena que mudou o horário não consigo mais acompanhar, fox life , quarta às 23 :30 .
agora tem um que é um deleite, sempre igual também: ramsay’s best restaurant. sempre uma competição entre dois restaurantes da mesma especialidade, um maiorzão e um de cidade pequena ou bairro afastado. até agora só ganharam os pequenos. e por mais que ele queira parecer mau e bravo, estou com a brigada: gordon ramsay é um fofo!
Acredita que não vi? Vou procurar. Beijo. N