HISTÓRIAS DE BUFFETS
28/03/12 00:37Continuando a história dos buffets, vamos aos anos 90.
As coisas se complicaram um pouco quando os clientes começaram a ficar insatisfeitos com os espaços. Os espaços de suas casas e lojas já não impactava. Era preciso fazer uma tenda marroquina no vizinho. E lá fomos nós, arrastando nossas galinhas exaustas, nossos fogões capengas, para a Fábrica, o Circo, o Matadouro, o Moinho, o Mercado, para a Ilha Deserta, o Museu de Cera, o Hotel no Meio do Rio, Porões, Telhados. Corredor de Platéia, todos os Palcos, Estações de Trem e de Metrô, só nos faltavam os Esgotos de Paris. Sem esquecer a Bolha Inflável com capacidade para mil pessoas. Ah, a Bolha Inflável… Lembram-se da Bolha Inflável? Um dia votamos a ela.
O mais difícil, no entanto, foi a moda da comida Tamara de Lempicka, peripatética, que se desenrolava em vários níveis. Difícil também é estar no Mercado e ter de transformá-lo na Ópera, ou estar na Ópera e transformá-la em Mercado, quando poder-se-ia fazer o evento já no lugar mais adequado ao produto.
Para que se tenha uma idéia, a secretária nova, a quem nada espantava, digitou um cardápio a ser dado de presente a alguém que nos fez um favor e que mal conhecíamos. Uma pequena gentileza. Revendo distraidamente o menu, vimos, depois da descrição da comida, um adendo. “Bares com garçons performáticos: cabelos curtos pintados de dourado, avental cor de sangue e alpinistas acrobatas subindo pelas paredes do prédio.”
Misturou dois eventos!!!!! Juro por tudo o que é sagrado. Já imaginaram o susto do presenteado, que não esperava mais do que um picadinho de carne com farofa?
E a França, então, com sua tradição de arte e comida? A Fundação Cartier fez exibições de arte comestível. Centenas de pessoas faziam fila para os laboratórios de comida. Enquanto comiam batatas, refletiam sobre a fome no mundo com fundo musical de mastigação. Uma das sessões teve o convite impresso numa hóstia comestível. Na festa pegavam-se legumes amarrados em barbantes que eram puxados pelos convivas sobre um tapete de guacamole espalhado num plástico.
Nos bufês de Nova York não há mais o que inventar. A última foi um garçom todo cheio de furos no uniforme de onde saiam espetos com comida. Nas mãos, segurava a vasilha com a pasta na qual os convidados passavam o espeto.
Nós, os buffets, enfrentamos esta criatividade à solta com galhardia, prazer e até com graça. Às vezes, cansados, cambaleando de novidade em novidade, com a cabeça inchada de arquétipos, logos, origamis, papier maché, vidros, cerâmicas, olhamos para trás e chegamos à conclusão que tudo bem. A primeira festa à fantasia, muito louca, foi com certeza a da arca de Noé.
Ri alto, amei!
Volte sempre, Cássia, por favor!