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Nina Horta

Perfil Nina Horta é empresária, escritora e colunista de gastronomia da Folha

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Lavar ou não lavar a louça da festa????

Por ninahorta
06/03/12 00:41

No bufê tiramos longas mesas de madeira inteiriças, porque a lei obriga a ter móveis de inox.
Já andei lendo sobre o assunto, que é complexo e vasto.


Cientistas e pesquisadores mostram que a madeira é mais eficiente no controle da “sujeira” do que outros materiais.
Mas há muitas variáveis, e ainda não achei um estudo que me provasse tudo isso com certeza absoluta.


Mas fico pensando. Na nossa infância, alguém tinha mãe que não chupava a chupeta quando caía no chão e punha na sua boca outra vez?
Quem não engatinhou no chão onde o cachorro babou? Alguém morreu? Quando terá surgido o conceito de sujo?
Tenho um livrinho aqui, “Purity and Danger”, de Mary Douglas, que me esclarece um pouco.
Só no século 19 é que foi descoberta a transmissão de doenças por bactérias, o que transformou tanto nossas vidas
que só podemos pensar em sujeira em relação à patogenia.


Se abstrairmos a patogenia, ficamos com um conceito de “sujo” muito interessante. Sujo é o que está fora do lugar.
Se você compra um sapato novo e o coloca no meio da mesa na hora do jantar, vai ser interpelada: “Tira este sapato da mesa, por favor”.
Meio cálice de vinho está longe de ser sujo, mas se ele cai na sua camisa, ela passa a sujíssima.

O nosso comportamento versus poluição é condenar qualquer coisa ou objeto que possa confundir ou contradizer nossas classificações padronizadas.
Só perguntas. Por que uma cereja que cai num chão aparentemente limpo tem que ser jogada fora e se cai numa mesa aparentemente limpa é comida com gosto?
Por que os chefs franceses ficam na porta da cozinha e quando o prato do cliente passa ele aperta o bife com o dedo para ver se está no ponto?


Por que nós temos de usar luvas para fazer os mais visguentos doces, onde se fica parecendo o macaco que grudou no piche?
E por que aquelas redinhas horrendas na cabeça, cheias de furinhos, uma coisa tão feia que não há jeito de sair da cabeça feia daquele cozinheiro uma comida boa?
Levanto a bandeira dos turbantes coloridos, de chita, como os amarrados no Pelourinho, para as mulheres brasileiras, com muito charme e graça.


Quando você cozinha para a família, supostamente o grupo que mais ama e ao qual não quer que nada de ruim aconteça, usa luvas, redinha, uniforme e gruda o bigode com um esparadrapo? Ora, deveria cozinhar até de capacete. Tudo que sai do nosso corpo é perigoso e nojento.

Cuspe, sangue, leite, urina, fezes, lágrimas. E se você usa as unhas para cozinhar, toca os ingredientes com a mão, sua no calor dos fornos, nada disso pode aparecer na comida. O restaurante será punido e terá que fechar as portas se aparecer uma unha cortada, um cabelinho bem limpinho na sopa.
É porque está fora do lugar, minha gente, pensem bem. As índias fazem cauim mastigando e cuspindo, os indianos tiram da boca sementes de melão para torrar.


Pensem num restaurante. Tudo que sobra do ingrediente é sujeira e tem que ser retirada da mesa imediatamente.
Tudo que ainda retém alguma identidade é sujo. Folhas externas da alface, a casca da laranja, a palhinha do alho, as folhas da beterraba.
Vão para o lixo e ainda são nojentas. Quem quer enfiar a mão no lixo para encontrar a faca perdida?
Depois que apodrecem, que viram composto, que perdem a identidade, não temos mais nojo.


É gostoso deixar escapar pelos dedos um composto bem sequinho que vai ajudar a começar todo um ciclo de vida.
Imaginem uma cozinha quase pronta, mas sem vasilhas. Chega o fornecedor com um bidê novinho, rutilante de limpo, e põe no chão da cozinha. Alguém tem a brilhante idéia de bater um bolo nele. Será abatido a tiros. Por quê? Por quê? Gagá ou dadá?

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Comentários

  1. GUSTAVO comentou em 21/04/12 at 0:37

    já quero comprar as pobres mesas de madeira descartadas… inox é tão frio e sem alma… não gosto dessa assepsia descontrolada

  2. Deya Marques comentou em 08/03/12 at 10:26

    Hoje em dia o politicamente correto entrou nas nossas vidas para complicar o que era simples,desde o tratamento com as pessoas ate o que se faz para viver.Como se já não tivessemos tanta coisa para fazer sem termos que pensar em coisas inuteis e atoas!!!Mais um dia isso passa!!!

    • ninahorta comentou em 02/04/12 at 13:58

      Acho que não passa não. Já grudou para sempre. Beijos. N

  3. lila comentou em 08/03/12 at 5:50

    a questao cultural prevalece..os indios mascam e cospem e depois comem aquilo..ugh..ahuahauha..

    • ninahorta comentou em 02/04/12 at 14:00

      Passo um aperto com meu neto, aqui em casa, ele foi educado em colégio inglês e fica passado quando eu como com a mão. Asinha de galinha, pizza. Adoro comer com a mão. No aniversário dele fomos ao DOM e para minha alegria tinha um prato de peixe que o Atala pediu que comêssemos com a mão. Me senti vingada.

  4. christina cupertino comentou em 07/03/12 at 17:58

    muito bom, nina. a pura verdade. mania de limpeza.

    • ninahorta comentou em 02/04/12 at 14:01

      Pois, não é?

  5. Regina Mª de Sousa Fernandes comentou em 07/03/12 at 10:34

    Como não se deliciar com a escritura de Nina Horta ? Há sempre muitos ganhos para o leitor.

  6. Lotito comentou em 06/03/12 at 10:39

    Esse tal de ‘politicamente correto’ de verdade, de verdade mesmo, só serve como meio-de-vida pra quem não sabe o que dizer ou o que fazer e dedica-se a falar bobagens, que uma mídia imediatista equivocada faz questão de propagar, até por que exige menos conhecimento e faz o gosto do espectador médio inculto e belo.

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